Um universo entre outros dois
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João Ricardo Melo Figueiredo1
Desde os tempos remotos que entre a visão perfeita e a cegueira existe um grande número de pessoas que transita entre estes dois universos, ou seja, o da cegueira e o da vidência. De acordo com o uso que faziam do sentido da visão, foram arrolados, durante muito tempo, como pertencentes a um dos dois grupos mencionados - ou eram cegos ou videntes.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, principalmente nos Estados Unidos, teve início um grande movimento para reabilitação dos que retornaram do campo de batalha. A reabilitação, que antes era pensada apenas em termos físicos, passou também a ser considerada para o uso da visão.
O movimento de reabilitação da visão ganhou espaço, as pessoas passaram a ser conhecidas como portadoras de visão subnormal e mais modernamente como pessoas com baixa visão, atendendo não apenas a reabilitação visual, mas a habilitação de crianças dentro de atendimentos especializados e das esferas educacionais, em várias partes do globo.
Em 1992, foi realizada em Bangkok uma reunião entre profissionais das áreas da saúde e da educação, promovida pela ONU, onde definiram a pessoa com baixa visão como “aquela que tem uma alteração do funcionamento visual mesmo depois do tratamento e/ou correção de refração padrão, tendo uma AV de 20/70 (ela consegue ver a 20 pés o que uma pessoa com visão normal vê a 70 pés) até a percepção de luz ou um campo visual de 10 graus a partir do ponto de fixação mas que usa ou é potencialmente capaz de usar a visão para planejamento e execução de tarefas”
Por esta pequena definição, vê-se o grande universo da baixa visão. Este contempla diferentes graus de acuidade visual conjugados ao uso da visão, ou seja, duas pessoas com a mesma acuidade visual não têm o mesmo desempenho visual, pois é no uso que o indivíduo se distingue. Este, por sua vez, é aprendido, a pessoa aprende a utilizar sua visão e deve ser estimulada a fazê-lo, para garantir um melhor aproveitamento das funções oculares.
Hoje, com o desenvolvimento da medicina, muitas crianças conseguem enxergar além da cegueira. Para que isto possa ser efetivo é necessário que elas sejam estimuladas, orientadas e suas famílias apoiem os atendimentos que recebem no serviço especializado para garantir o pleno desenvolvimento das potencialidades visuais das pessoas com baixa visão. É urgente que a criança de agora aprenda a conviver com sua visão e suas limitações e consiga transitar entre a cegueira e vidência, forjando-se como indivíduo pleno dentro da sua individualidade. É papel da escola ajudá-la neste processo, assim como é dever dos serviços de reabilitação apresentar esta nova realidade para adultos e idosos que podem se redescobrir neste grande mar de possibilidades advindo de uma nova situação como pessoas com baixa visão.
Neste sentido, a atuação do Instituto Benjamin Constant tem sido fundamental - não só por atuar diretamente na educação de crianças e adultos com este tipo de deficiência, como também por produzir conhecimento sobre o assunto, promovendo a inclusão efetiva desses brasileiros na sociedade.
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1 João Ricardo Melo Figueiredo é professor do IBC.
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