Luz e trevas
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Gerson F. Ferreira1
“E a terra era sem forma e vazia: e havia trevas sobre a face do abismo; e o 'Espírito de Deus' se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz. E houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.”
Livro do Gênesis, Capítulo I.
Não raramente, utilizamos a expressão “fechar os olhos” com a acepção de “ignorar” ou “não considerar”. Independente do significado empregado, o “fechar os olhos” carrega em si a ideia de que a LUZ precede a Criação e, por que não dizer, nossa percepção do mundo e da própria realidade. A ausência de luz, comumente denominada “TREVAS”, seria, por outro lado, associada a coisas como “ignorância”, “desordem”, “não existência”.
Esses conceitos encontram-se presentes em nossos arquétipos mais significativos e deles fazemos uso, mesmo sem nos dar conta. Contudo, uma abordagem mais crítica e objetiva acerca das coisas que dizemos e fazemos em nosso dia a dia, em nome dessas "ideias pré-concebidas", nos levaria à conclusão de que as mesmas abrigam preconceitos, erros de avaliação. Buscamos a luz e, ao mesmo tempo, nos afastamos dela!
Muitos rejeitam o indivíduo de cor “negra” e, ao fazerem isto, estão, inconscientemente, admitindo a si mesmos que a cor da pele é condição necessária e suficiente para classificar alguém como “incapaz”, “ignorante”, “incompetente”. Usam a luz para ocultar as trevas, que aqui se manifestam através da descriminação, da indiferença, da marginalização. Torna-se mais fácil, simplesmente, “fechar os olhos”.
Da mesma forma, não são poucos aqueles que encaram a cegueira como sendo uma condição limitadora, ou mesmo incapacitadora. A cegueira é vista sob a ótica do medo. Mantendo-se distante o indivíduo cego, procura-se afastar o receio inconsciente da “privação da luz”. O conhecimento puro e objetivo que poderia advir da compreensão da realidade do indivíduo cego é, então, deixado de lado e, mais uma vez, “fecha-se os olhos”.
Longe de ser limitado por sua condição, o deficiente visual não deve ser visto como “uma pessoa digna de dó”, “uma pessoa desafortunada”, “alguém que precisa ser tutelado, assistido em todos os seus atos”. Não obstante o fato de que tem necessidades especiais, o deficiente visual apresenta os mesmos sentimentos e aspirações daqueles considerados “videntes”. Possui, portanto, potencial que precisa ser estimulado e trabalhado de modo a possibilitar sua integração ao mundo em que vive.
Assim sendo, tendo em vista tudo o que foi exposto, as seguintes questões poderiam ser objeto de maior estudo e reflexão:
– O que é a deficiência visual?
– Quais são seus aspectos físicos e psicológicos?
– Como o indivíduo constrói sua realidade enquanto deficiente visual, interagindo com o mundo que o cerca?
– Como o deficiente visual orienta-se no espaço à sua volta, construindo sua autonomia?
– Quais os direitos do deficiente visual enquanto cidadão?
– Como seria abordada a educação do deficiente visual?
– Por que meios o deficiente visual teria acesso aos meios de informação?
– Que aspectos envolveriam as relações afetivas com, e entre, deficientes visuais?
Buscando respostas a estas indagações, procurou-se reunir nesta seção diversos artigos, selecionados dentre os muitos publicados ao longo das diversas edições da Revista Benjamin Constant.
Esperamos, com esta seção, fornecer um painel o mais abrangente possível sobre a questão da cegueira e suas diversas implicações. Não temos, contudo, a pretensão de esgotar tudo o que há para ser dito sobre este tema. Estamos, portanto, aberto a novas inclusões e/ou sugestões que venham a ampliar ainda mais o nosso “OLHAR SOBRE A CEGUEIRA”.
Afinal, ausência de luz não significa “ausência de vida”, mesmo porque a luz que mais brilha é aquela que mantemos acesa dentro de nós!
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1. Gerson F. Ferreira é coordenador-geral de Informática do IBC
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