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Radialista com deficiência visual fala dos principais obstáculos profissionais

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Depoimento ocorreu na última quinta-feira (6) durante palestra sobre a linguagem e as histórias do rádio transmitido ao vivo, em atividade trazida para as festividades do IBC pela Associação dos Ex-Alunos.

  • Publicado: Quinta, 13 de Setembro de 2018, 12h49
  • Última atualização em Quinta, 13 de Setembro de 2018, 18h29

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Marcus Aurélio de Carvalho, que usa o nome Marco Aurélio Carvalho como comunicador, nos mais de 30 anos de trabalho no rádio passou por todas as funções de radialista e produtor. Praticamente dividiu o tempo de profissão entre a Rádio Tupi e o Sistema Globo de Rádio e, atualmente, apresenta o programa "Todas as Vozes", na Rádio MEC AM.

 

A deficiência visual

O palestrante descreveu que sua visão é monocular: "enxergo apenas com o olho esquerdo, porém, na visão é tudo bem pequeno e distante, como se fosse olhando por um tubo e é tremido também, por conta do nistagmo que é uma movimentação veloz e involuntária do olho". As patologias que o levou à baixa visão foram a catarata congênita e o glaucoma, "tenho 10% de visão", comentou.

Marcus Aurélio para ler faz uso de óculos com lente típica microscópica, no seu caso, que aumenta em seis vezes o que é observado. "Só que tenho que encostar o papel no rosto. Conheço papel por cheiro!", arrancou risos dos presentes. Indagado pela plateia sobre as dificuldades profissionais. o radialista apontou que como apresentador é a leitura de textos e como repórter esportivo era a identificação das pessoas quando elas saiam de campo.

A estratégia escolhida para superar os incovenientes da leitura é construir o texto na cabeça e falar de improviso, revelou Marcus Aurélio, que ainda estimou falar assim em 90% do tempo no ar. Quanto a identificação dos atletas, ficava atento a narração e de onde o jogador veio ao final do tempo da partida. Com estes elementos fazia uma seleção de quem poderia ser o potencial entrevistado: um lateral, um atacante... e, assim, juntava as informações com o que podia ver de trejeitos e o escutar das vozes. Marcus disse, sem esconder a própria surpresa, só ter errado uma vez o jogador, em tantos anos de repórter de campo. Na ocasião "o jogador foi muito elegante ao me corrigir e como o fez", ressaltou.

A experiência do curso de mestrado foi lembrada pelo palestrante durante a resposta: "No mestrado passei muito perrengue!", disse e explicou que o volume de leitura e escrita é enorme e inexiste preparo da universidade para oferecer livros adaptados e recursos para o aluno com baixa visão; "creio que o despreparo para atender à baixa visão seja maior do que para atender à cegueira", alertou o radialista.

 

A Palestra

Não foi a primeira vez que Marcus Aurélio esteve no IBC, aqui falou sobre rádio em 1993/97 e 98. Voltou em 2013 e em todos os anos seguintes. Na visita do último dia 6, para um público formado por alunos dos cursos de reabilitação do IBC, resolveu com o presidente da Associação dos Ex-Alunos do IBC, Gilson Josefino, adaptar o conteúdo da evolução do ráio para um diálogo sobre a linguagem do rádio, a importância da mídia para a pessoa com deficiência visual e as histórias engraçadas que o trabalho ao vivo acaba por promover. Vários áudios foram ouvidos e as risadas foram muitas.

Marcus Aurélio trouxe episódios que divertiram a plateia, como: o do narrador esportivo que chegou em cima da hora para acompanhar o time de sua cidade no estádio do adversário, numa cidade litorânea, desacostumado e esquecido da localização, alertou assustado os ouvintes que um "prédio" estava balançando ao fundo; era nada mais que um navio. O do locutor que possuia o hábito de parabenizar os ouvintes conforme as datas comemorativas e, desatento ao feriado, mandou um abraço aos homenageados pelo feriado; só que era o feriado de finados. A situação do repórter que entrou com a notícia da vitória da seleção brasileira que gerou um clima de extrema felicidade, descreveu sem pensar o clima de alegria com o bordão popular "todos pulam de alegria" com a conquista; entretanto o time era de atletas cadeirantes.

 

A família

Ao final, além do interesse pela profissão, os ouvintes perguntaram sobre o papel da família no sucesso do radialista deficiente visual e nascido no Complexo do Alemão. "Meu irmão é um crânio (gíria para pessoa inteligentíssima), meu pai consertava rádio e eu sempre curtindo as programações, meu irmão falava quando criança que iria construir rádios para eu falar neles, como radialista, não poderia existir maior prova de confiança. Ele, hoje, é engenheiro eletrônico e meu maior exemplo", contou Marcus Aurélio, demonstrando muita emoção. E concluíu a narrativa: "Minha mãe por tudo que passou tinha histórico de depressão, mas quando se tratava de mim era uma fortaleza, fez tudo ao seu alcance ou mais".     

 

 

  

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