V Seminário Conectando Conhecimentos discute os desafios da inclusão escolar das pessoas com deficiência
O evento foi ontem (27), no Teatro Benjamin Constant.
Com o tema “Políticas Públicas de Inclusão Educacional da Pessoa”, o V Seminário Conectando Conhecimentos reuniu cerca de 300 professores, pedagogos e dirigentes de escolas e instituições que atendem estudantes com deficiências visual, auditiva, física e mental.
A primeira mesa-redonda contou com a participação do coordenador-geral de Política Pedagógica da Educação Especial, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC, o professor mestre Rafael Miranda; da diretora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a professora doutora Rosana Glat; e da professora doutora do IBC, Maria Rita Campelo, que fez a mediação da mesa que discutiu os desafios da atualidade da educação especializada.
O representante da Secadi falou sobre a concepção atual de Educação Especial e dos programas do Ministério da Educação para promover a inclusão escolar da pessoa com deficiência, garantindo não só o acesso dela às escolas, como a permanência e participação nas atividades acadêmicas.
Ao ser questionado pela coordenadora de Educação Inclusiva dos municípios de Rio Bonito e Macaé, Garrolice Alvarenga sobre o fechamento de salas de recursos por falta de professores especializados nas escolas municipais e estaduais, o coordenador da Secadi orientou os participantes a obedecerem a hierarquia na solução desse e de outros problemas relativos à infraestrutura das escolas para atendimento do público com necessidades especiais. “Nós, do MEC, estamos nos esforçando para aprimorarmos os indicadores de monitoramento da qualidade desses serviços, mas é preciso que todos façam a sua parte”, respondeu.
Para a professora Rosana Glat, hoje não cabe mais ao professor apenas dizer-se “despreparado” para lidar com o aluno com deficiência. Segundo ela, ninguém se prepara para ser pai e mãe de uma criança com deficiência, mas quando isso acontece, a pessoa tem que ir à luta, dar conta do desafio de criar o filho. “A mesma coisa acontece conosco, professores. Hoje e cada vez mais, todo estudante universitário que se prepara para ser professor já sabe ou deveria saber que em algum momento da vida profissional terá que atender alunos com deficiência. Logo, é preciso se capacitar para isso”, completou.
A diretora da Faculdade de Educação da Uerj também salientou a importância da gestão escolar para incluir de maneira efetiva os alunos com deficiência no ambiente escolar. “Essa integração não é nem nunca será espontânea. Só o compartilhamento de saberes e a organização da escola para receber esses alunos vai torná-la possível”, concluiu.
Depoimentos
A programação da manhã foi encerrada com os depoimentos de dois jovens com deficiência visual sobre a vivência deles nas escolas onde estudaram. O primeiro a falar foi o ex-aluno da reabilitação do IBC e atualmente estudante de Direito da UERJ, Lucas Sarmento. Possuidor de baixa visão, Lucas divide o tempo de estudo com o ativismo social e político. É diretor do centro acadêmica da faculdade onde estuda e não perde uma oportunidade de falar sobre as questões relativas à deficiência visual para turmas de estudantes de pedagogia e licenciatura.
Na sua fala, Lucas chamou a atenção para o papel fundamental do aluno com deficiência na formação dos futuros professores e no aprimoramento daqueles que já atuam nas salas de aula. “Nós não podemos deixar de contribuir para a nossa própria inclusão e isso acontece cada vez que mostramos o que funciona e o que não funciona para a gente nas aulas”, disse.
Lucas também fez um apelo a todos os profissionais presentes para que eles passassem a dar mais atenção para a saúde mental dos alunos com deficiência visual. “Muitas vezes as pessoas veem um adolescente cego ou com baixa visão sozinho, na sala, estudando na hora do recreio e acham isso bom. Não é! Criança, adolescente, jovem, tem que também estar junto dos colegas, interagir com eles na hora do recreio. Esse isolamento é péssimo para a gente, acreditem”, alertou.
O segundo a dar o depoimento foi o massoterapeuta Pedro Henrique da Silva Pereira. Ex-aluno do IBC, da estimulação precoce até o Curso Técnico em Massoterapia oferecido em parceria com o Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (Iserj), Pedro Henrique contou as dificuldades que tinha quando cursava o ensino médio no Colégio Pedro II, sobretudo em algumas disciplinas muito visuais, como química, física e matemática.
Segundo Pedro, o aluno cego sofre diante da total incapacidade dos professores de explicar certos conceitos que exigem observação de desenhos e gráficos para serem compreendidos. “Uma vez uma professora de química, sem mais saber o que fazer para eu entender a matéria resolveu apelar e me pediu para fechar os olhos e imaginar o que ela estava dizendo, contou ele, arrancando gargalhadas da plateia.
O papel das escolas especializadas
A mesa-redonda da tarde, tratou da atuação das escolas especializadas no desenvolvimento acadêmico e social das pessoas com deficiência. Os debatedores foram a professora doutora Márcia Plestch, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); a diretora do Departamento de Educação Básica do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), professora mestre Amanda Ribeiro, e o diretor-geral do IBC, o professor doutor João Ricardo Melo Figueiredo.
A professora Márcia alertou que a educação especial deve dialogar não apenas com ela mesma, mas, com todas as áreas, para definir com clareza seu público-alvo, sob pena de os estudantes das redes públicas que apresentem sintomas de dislexia, disgrafia, hiperatividade, por exemplo, e que não são considerados deficientes, passem a fazer parte do público da educação especial simplesmente por suas dificuldades acentuadas de aprendizagem.
Já a professora Amanda Ribeiro falou sobre o Centro de Atendimento Alternativo criado pelo INES para estudantes com múltiplas deficiências, onde é feito um planejamento específico para cada aluno assistido, tanto na sala de aula como nos espaços de convivência. Segundo ela, tem melhorado o atendimento educacional próximo à casa do aluno surdo, o que é importante para a qualidade de vida da família. Mas, os casos de surdez associada a outra deficiência não são enfrentados pela rede regular de ensino, que acaba encaminhando o aluno ao INES. “O nosso papel de capacitar professores e propor estratégias para estes alunos se reforça cada vez mais”, reconheceu Amanda.
O professor João Ricardo Melo Figueiredo, diretor-geral do IBC, falou sobre o pioneirismo da instituição na educação especial, com destaque ao período histórico de educação para poucos, onde o IBC já oferecia escolaridade ao deficiente visual. Ressaltou outro marco importante, que foi a equiparação entre os cursos do IBC ao do Colégio Pedro II.
Atualmente, o percentual de alunos com múltiplas deficiências dentro do universo do IBC aumentou consideravelmente. Esta realidade também é consequência das ações de capacitação e suporte do IBC às redes de ensino, onde o aluno deficiente visual encontra opção mais próxima de sua residência, contudo a múltipla deficiência com a deficiência visual ainda é um desafio evitado pela rede regular. “Temos e queremos aprimorar o nosso fazer", disse o diretor, que considera eventos como os Seminários Conectando Conhecimentos fóruns de discussão cada vez mais relevantes na área da deficiência visual.
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