Renato Monard da Gama Malcher
Nascido no dia 11 de junho de 1916 em uma das famílias mais proeminentes de Belém do Pará, Renato Malcher era filho de Sylvia Monard e de José da Gama Malcher. Iniciou seus estudos em colégio de jesuítas, transferindo-se com a família aos 12 anos de idade para o Rio de Janeiro, onde viria a graduar-se, no ano de 1939, em química industrial na Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ).
Trabalhou na extinta Aliança Comercial de Anilinas Ltda. que, durante a 2ª Guerra Mundial, entre os anos de 1939 e 1945 foi requisitada como estabelecimento de interesse militar. Um certo dia de 1942, realizando experiências para desenvolvimento de um produto bélico, ocorreu uma explosão no laboratório onde trabalhava, mudando o rumo do jovem e promissor químico que, no acidente, perdera completamente a visão.
Em 1950, já casado com Elza, sua companheira de toda a vida, Malcher vem buscar no Instituto Benjamin Constant o conhecimento e as orientações necessárias para retomar a vida na nova condição de cego. Aqui, ele aprende não só o Sistema Braille como as técnicas da locomoção com bengala, assimilando também os recursos de que se valem os cegos para desempenho das tarefas da vida diária.
Providenciou imediatamente a correção no rumo profissional, prestando exame de suficiência na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, licenciando-se professor de matemática do 1ºciclo, disciplina que já dominava por conta da formação anterior. O Instituto Benjamin Constant, como era prática antes do advento dos concursos públicos obrigatórios, aproveitou toda a sua expertise e formação intelectual nomeando-o professor. Assim, em 1952, Malcher ingressou no quadro de professores do Instituto para dar aulas de educação moral e cívica e de matemática, sendo que esta última disciplina apenas no curso de admissão ao ginásio.
Apesar de nunca ter pensado antes em ser professor de crianças e adolescentes, foi no IBC que ele descobriu esta vocação, transformando-se em um dos mais importantes educadores da história da instituição. Era um professor que se preocupava demais com seus alunos, sobretudo aqueles com mais dificuldade em aprender os conteúdos em sala de aula; ditava apontamentos para eles estudarem depois das aulas e, antecipando-se ao que anos mais tarde faria parte da realidade educacional brasileira sob o nome de "recuperação"ou "reforço", dava aulas em horários alternativos para aqueles que dela precisassem.
Rapidamente assume a chefia da Seção de Educação e Ensino, então setor mais importante da escola. Em 1954, ano do centenário da Instituição, teve a feliz iniciativa de organizar, com sua equipe, o livro de registro de todos os alunos matriculados durante o século de existência da escola, relacionados nominalmente, ano a ano. Acumulou as atividades de professor em sala de aula com a chefia da Revista Brasileira Para Cegos, criando, em setembro de 1959, um suplemento que mais tarde ganharia vida própria — a revista infanto-juvenil Pontinhos, sob o lema que ainda hoje a norteia: "Educar Recreando, Instruir Divertindo, Convencer Esclarecendo".
O 1º cego na direção do IBC
Em 1970, Renato Monard da Gama Malcher é nomeado diretor do Instituto, o que em 116 anos de fundação da única escola federal especializada na educação de pessoas com deficiência visual ainda seria inédito, por mais absurdo que isso possa parecer hoje. Mesmo convalescendo de um acidente vascular cerebral sofrido pouco antes da nomeação ele aceitou o desafio e teve a coragem de montar uma equipe administrativa predominantemente de professores — o que também foi inédito.
Foi uma gestão curta, de apenas dois anos, mas bastante organizada. Muitos alunos daquela época se lembram ainda com saudades das competições escolares de cunho pedagógico, realizadas na semana dos aniversários de fundação do Instituto. Foi também em sua administração que o IBC conseguiu o financiamento para a construção da sua piscina semiolímpica. Por não concordar com algumas determinações do Departamento de Educação Complementar do MEC que implicava o aumento das atribuições do Instituto sem os devidos recursos financeiros e de pessoal, decidiu pedir afastamento do cargo de direção em 1972.
Saiu da direção-geral, mas continuou a dar aulas ininterruptamente, assim como a escrever seus livros, ofício que iniciou em 1961 com a obra "Apontamentos de Matemática", seguida por outras. No início da década de 1980, mesmo bastante enfraquecido, ministra aulas de reforço, negando-se a se aposentar. Faleceu no dia 7 de junho de 1983, deixando a filha Eliane, a esposa Elza e toda uma geração de cegos agradecida pelo seu legado.
Referência:
CERQUEIRA, Jonir Bechara. Renato Monard da Gama Malcher: adversidade e vitória de um homem honrado. Revista Benjamin Constant, ano 11, nº 35, dez. 20-06. Disponível em < http://www.ibc.gov.br/revistas/241-edicao-35-dezembro-de-2006 >. Acesso em 3/9/2020.
Redes Sociais