O IBC e a educação de cegos no Brasil
A primeira iniciativa, em todo o mundo, de prover educação às pessoas cegas foi em 1784, na França, quando Valentin Haüy criou o Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris. De acordo com Soares e Carvalho (2012, p.17), conforme citado por Pires (2014, p.157), além do ensino da escrita por meio de letras em relevo, o Instituto continha em seu currículo disciplinas como aritmética, geografia e música.
O pioneirismo e os progressos alcançados por Haüy chamaram a atenção do rei Luís XVI, que manifestou o interesse em ampliar a educação de cegos no Reino de França e Navarra. A Revolução Francesa, ocorrida em 1789, interrompeu os planos do monarca. Porém, a semente da educação especializada para pessoas com deficiências visuais severas já estava lançada e, no início da década seguinte, novas escolas especializadas surgiram não só na França como em outros países da Europa, como Inglaterra e Alemanha. Duas das mais importantes foram na Inglaterra — em Liverpool (1791) e Londres (1799). Em 1805 foi fundada a escola de Viena, na Áustria; no ano seguinte foi a vez da Alemanha criar a sua primeira escola (SILVA, 2014, p. 157, apud MAZZOTTA, 2001, p. 19).
O método de alfabetização por meio de letras ampliadas predominou até o ano de 1819, quando Charles Barbier, oficial do exército francês, apresentou ao diretor do instituto parisiense o código de escrita que criara para ser usado, à noite, por soldados no campo de batalha, sem luz, para não atrair a atenção do inimigo.
O código de Barbier, expresso por pontos salientes que representavam os 36 sons básicos da Língua Francesa, despertou logo a atenção de alguns professores do Instituto e, em pouco tempo, começou a ser utilizado pelos alunos.
Um desses alunos foi um jovem de 20 anos que não tardou em ver na invenção do militar um enorme potencial de se transformar num sistema que viesse a atender a todas as necessidades de comunicação escrita dos cegos. Foi assim que, em 1829, Louis Braille apresentou à sociedade francesa o sistema de leitura e escrita que abriu os horizontes da educação de cegos a todas as áreas do conhecimento.
O Sistema Braille utiliza-se de uma “célula” composta de seis pontos em relevo, que permitem 63 combinações diferentes. Tais combinações permitem representar não apenas letras, sinais gráficos e de pontuação, como números, símbolos fonéticos, matemáticos, físicos, químicos e notação musical. O mais importante é que o sistema acompanha o desenvolvimento técnico-científico, permitindo a incorporações de outros símbolos, como os utilizados na informática. Com o braille, o cego tem acesso ao aprendizado não apenas da língua portuguesa, como de todas as outras que se utilizam do alfabeto ocidental.
Nas Américas, a educação de cegos começou com a fundação de três importantes escolas especializadas dos Estados Unidos. A primeira, criada em 1829, no estado de Massachusetts, foi a New England Asylum for the Blind, que em 1839 passou a ser chamada de Escola Perkins em homenagem ao seu principal benfeitor; a segunda, fundada em 1831, foi o New York Institute for the Education of the Blind e, seis anos, foi criada a Ohio School for the Blind.
A criação do Instituto Benjamin Constant
Tudo começou com o sonho de um garoto cego que enxergava longe
O nome dele era José Álvares de Azevedo, o primeiro professor de cegos do Brasil.
No Brasil, a educação de pessoas cegas tem como marco inicial a criação do Instituto Benjamin Constant, que nasceu do sonho de um adolescente chamado José Álvares de Azevedo que, em 1850, decidiu iniciar uma verdadeira cruzada no Brasil em prol das pessoas que fadadas à exclusão social pelo fato de não enxergarem.
Cego de nascença, inteligente e filho de uma família abastada do Rio de Janeiro, o menino José foi enviado à França, aos 10 anos de idade, para estudar na única instituição especializada no ensino de cegos do mundo – o Real Instituto dos Meninos Cegos de Paris. Lá, ele teve contato com uma tecnologia que viria a revolucionar não só a vida dele como a dos cegos de todo o mundo - o Sistema Braille de leitura, criado pelo educador francês Louis Braille, em 1825.
Aos 16 anos, José voltou ao Brasil determinado a difundir o Braille e a lutar pela criação de uma escola nos mesmos moldes daquela em que ele havia estudado na França. Começou a dar palestras nas casas de família e nos salões da Corte, a escrever e publicar artigos nos principais jornais da época sobre a importância de os cegos terem o seu próprio código de leitura, além do mais importante: tomou para si a a missão de ensinar outros cegos a ler e escrever, tornando-se não só pioneiro na introdução do Sistema Braille no Brasil como também o primeiro cego a exercer a função de professor no País.
Foi como professor de uma moça chamada Adélia Sigaud que Álvares de Azevedo encontrou a oportunidade de mudar, definitivamente, a história da educação de cegos brasileira. Adélia era filha do médico da Corte Imperial, Dr. Francisco Xavier Sigaud. Através dele, o jovem professor conseguiu uma audiência com o Imperador Pedro II, que ficou vivamente impressionado com a demonstração do Sistema Braille. Na ocasião, Álvares de Azevedo apresentou a proposta de se criar no Brasil uma escola semelhante à de Paris.
Da autorização de criação à inauguração da escola passaram-se apenas quatro anos. No dia 17 de setembro de 1854 seria inaugurada, na Rua do Lazareto, nº 3, do bairro da Gamboa, Rio de Janeiro, a instituição pioneira na educação especial da América Latina: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos. O ato da inauguração aconteceu, contudo, sem a presença justamente daquele que conseguiu transformar em realidade o seu sonho e a vida de tantos brasileiros. Seis meses antes, Álvares de Azevedo havia morrido, vítima de tuberculose, aos 20 anos de idade.
Dez anos depois, o Instituto foi transferido para o número 17 da Praça da Aclamação, o atual Campo de Santana. Com o advento da República, a escola passou a se chamar Instituto dos Meninos Cegos e, pouco tempo depois, Instituto Nacional dos Cegos.
O aumento do número de alunos, vindos de todos os estados brasileiros, exigiu novas instalações. Para atender à demanda crescente, foi idealizado e construído a sede atual. A mudança definitiva para o majestoso prédio de estilo neoclássico localizado na antiga Praia da Saudade, hoje Praia Vermelha, aconteceu no dia 26 de fevereiro de 1891, poucos meses antes do decreto que mudou novamente o nome da instituição para Instituto Benjamin Constant, que permanece até hoje.
Fechado em 1937 para a conclusão da 2ª e última etapa do prédio, o IBC reabriria as portas em 1944. Em setembro de 1945, criou seu curso ginasial, que veio a ser equiparado ao do Colégio Pedro II em junho de 1946. Com isso, abriram-se as portas das escolas secundárias e universidades aos alunos cegos que saíam do IBC aptos a prosseguir nos estudos e preparados para a vida.
O IBC hoje
Atualmente, o Instituto Benjamin Constant é mais do que uma escola que atende crianças e adolescentes cegos, surdocegos, com baixa visão e deficiência múltipla; é também um centro de referência, a nível nacional, para questões da deficiência visual, capacitando profissionais e assessorando instituições públicas e privadas nessa área, além de reabilitar pessoas que perderam ou estão em processo de perda da visão.
Ao longo dos anos, o IBC tornou-se também um centro de pesquisas médicas no campo da Oftalmologia, possuindo um dos programas de residência médica mais respeitados do País. Através desse programa, presta serviços de atendimento médico à população, realizando consultas, exames e cirurgias oftalmológicas.
O Instituto é comprometido também com a produção e difusão da pesquisa acadêmica no campo da Educação Especial. Através da Imprensa Braille, edita e imprime livros e revistas em Braille, além de contar com um farto acervo eletrônico de publicações científicas.
O IBC em números
OBS: acesse as informações de 2019 em diante no Plano de Dados Abertos do IBC.
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