Maria Odete Santos Duarte
Maria Odete nasceu no antigo estado da Guanabara, hoje Rio de Janeiro, em 12 de setembro de 1948. Uma coincidência e tanto, pois até o ano de 1991 ela jamais imaginara que iria passar a maior parte da sua vida profissional como servidora da instituição criada no mesmo dia do seu aniversário, 94 anos antes (o Decreto nº 1428/1854, que criou o Imperial Instituto dos Meninos Cegos foi assinado cinco dias antes da sua fundação, no dia 17 de setembro, quando tradicionalmente se comemora o aniversário da Instituição).
Filha do comerciante José Mario Pereira Duarte e da dona de casa Elita dos Santos Duarte, Maria Odete formou-se em fonoaudiologia pela Faculdade Veiga de Almeida em 2001, mas não chegou a exercer a profissão —sua vida profissional foi toda dedicada ao serviço público federal, onde ingressou em 1979, por meio de processo seletivo, como técnica administrativa da Fundação Nacional de Arte (Funarte), em exercício no Instituto Nacional de Música (INM), cuja competência era apoiar e divulgar a música erudita em todo o território nacional. Lá, foi responsável pela Rede Nacional da Música e assessora de Comunicação, cargo que exerceu até ser colocada em disponibilidade em dezembro de 1990, após o presidente da República da época, Fernando Collor de Melo ter extinguido a FUNARTE em janeiro do mesmo ano.
Foi como servidora redistribuída que ela ingressou no Instituto Benjamin Constant em julho de 1991, na gestão da diretora-geral Ana de Lourdes Barbosa de Castro (1990–1992), que a nomeou assessora da Direção-Geral. Permaneceu neste cargo durante a gestão do professor Jonir Bechara Cerqueira e até o fim do primeiro mandato do Carmelino Souza Vieira, em 1998. No segundo mandato dele, deixou a assessoria para assumir o Departamento de Planejamento e Administração (DPA). Em 2003, no início da gestão da nutricionista Érica Deslandes Magno Oliveira, foi designada inicialmente para trabalhar como leiloeira, no setor de Licitações, mas no final do mesmo ano foi chamada para ocupar, mais uma vez a direção do DPA, onde permaneceu até o final do segundo mandato de Érica. Por ter sido uma das principais colaboradoras da gestão dela, Maria Odete acabou sendo sua sucessora natural no pleito de 2010, vencendo a candidata da oposição, a professora Lúcia Maria Filgueiras, com 73% dos votos válidos.
Maria Odete tomou posse como diretora-geral em janeiro de 2011, em um dos momentos mais difíceis da história do IBC, uma semana depois do início do segundo mandato da presidente Dilma Roussef — o único em que se tem notícia de que a instituição correu o sério risco de ser fechada, juntamente com o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). A informação foi dada de forma peremptória — como fato consumado e já do conhecimento do INES — pela então diretora de Políticas de Educação Especial do MEC Martinha Clarete Dutra dos Santos à diretora recém-eleita do IBC e às duas colegas do seu gabinete que haviam ido com ela para a reunião em Brasília. De volta ao Rio, Maria Odete ligou para a diretora-geral do INES que negou ter conhecimento da decisão.
A notícia da iminência do fechamento das duas únicas instituições de educação especializadas federais caiu como uma bomba nas comunidades cega e surda, que mobilizaram a sociedade fluminense contra o que consideravam um imenso retrocesso no processo de inclusão social das pessoas com deficiência sensorial, que tinham nos dois institutos seus pontos de referência para progredirem acadêmica e socialmente (foto à esquerda). A péssima repercussão fez o governo voltar atrás, desmentindo a diretora dizendo ter sido um mal-entendido, ainda que já fosse sabido que essa possibilidade já vinha sendo ventilada havia quase dez anos pelos governos anteriores.
Passado o perigo de fechamento e recuperada do choque, Maria Odete iniciou sua gestão tendo como prioridade buscar por recursos tecnológicos e humanos para incrementar os serviços e atendimentos prestados pela Instituição à população. Prevendo um período de recursos ainda mais escassos diante da visão do governo sobre a educação especial, a estratégia utilizada pela diretora foi unir-se a parceiros que pudessem contribuir na ampliação das ações do Instituto para o seu alunado e para a comunidade externa, como:
1) Oferta do curso de pós-graduação lato sensuem letramento e alfabetização da criança cega ou com baixa visão em parceria com o Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ/FAETEC).
2) Convênio com o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) para transformar o tradicional curso de massoterapia oferecido pelo IBC desde a década de 1930, em curso técnico de nível médio, aumentando consideravelmente a empregabilidade dos ótimos massoterapeutas com deficiência visual formados pela Instituição.
3) Também com o IFRJ, a direção-geral assinou um acordo de cooperação técnica para cessão de 15 professores durante o período de dois anos, para reforço do quadro docente do Instituto.
4) Inserção do IBC no Projeto Senac Sem Limite, aumentando a empregabilidade das pessoas cegas, com baixa visão e surdocegueira.
5) Parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) para execução do Projeto Clube Escolar Paralímpico, de apoio aos atletas do Instituto.
6) Realização de duas campanhas de prevenção à cegueira pelo Projeto Ver para Aprender, em parceria com o Instituto João Ferraz Campos, com atendimento de 450 crianças e 82 adultos.
7) Promoção da cultura e cidadania através de parceria entre o IBC e o Museu de Arte do Rio (MAR).
Além das ações desenvolvidas com outras instituições, foi dado prosseguimento aos programas e projetos das gestões anteriores, como a produção e distribuição de 179 títulos de livros didáticos e paradidáticos dos Programas Nacionais do Livro Didático (PNLD) e Biblioteca na Escola (PNBE), além da realização de 97 eventos, entre jornadas, simpósios e seminários.
A produção intelectual dos professores da casa também foi valorizada com o lançamento, a partir de 2012, de uma coletânea de livros com assuntos variados, dentro da temática da deficiência visual apresentados e discutidos dentro do Projeto Conversando com o Autor. Além desses, foram publicados outros cinco livros de autorias de professores e alunos da Instituição, entre os quais a antologia intitulada A Voz da Mulher na Poesia do Instituto Benjamin Constant, reunindo textos das grandes poetisas da instituição Benedicta de Mello, Mayá Devi de Oliveira e Virginia Vendramini.
A criação da Comissão de Audiodescrição do IBC também foi uma ação importante para atender a um público de pessoas cegas e com baixa visão cada vez mais consciente do seu direito de ter acesso aos conteúdos expressos em imagem.
Por fim, o mesmo ministério que fez surgir uma nuvem negra no início da gestão de Maria Odete concedeu aquela que seria a maior conquista da sua gestão: a realização de concurso para contratação de 100 professores e 48 técnicos administrativos, permitindo às futuras gestões ampliarem as ações educacionais do Instituto.
Já decidida a não concorrer à eleição, Maria Odete fez, no entanto, seu sucessor, o professor João Ricardo Melo Figueiredo, que a convidou para assumir, mais uma vez o DPA, em seus dois mandatos.
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