õeieieieieieieieieieieieieieio õ o õ Revista Brasileira o õ para Cegos -- 2004 o õ Comemorativa do o õ Sesquicentenário de o õ Fundação do o õ Instituto o õ Benjamin Constant o õ Diretora-Geral do IBC o õ Sr.a Érica Deslandes o õ Magno Oliveira o õ Fundador da RBC o õ Prof. José o õ Espínola Veiga o õ Responsável pela RBC o õ Kate Q. Costa o õ Imprensa Braille o õ do IBC o õ Av. Pasteur, 350-368 o õ Urca — Rio de Janeiro o õ RJ — Brasil o õ 22290-240 o õ tel: (0xx21) 2543-1119 o õ Ramal: 145 o õ Brasil um País de Todos o õ o õ*?*?*?*?*?*?*?*?*?*?*?*?*?*?o

Sumário Editorial :::::::::::::: 1 Origem da Educação dos Cegos :::::::::::::::: 3 Antecedentes ::::::::::: 7 A Fundação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos -- Decreto de Criação :::::::::::::: 11 1º Diretor do IIMC :::::::::::::::: 14 2º Diretor do IIMC ::::::::::::::: 21 3º Diretor do IICM ::::::::::::::: 25 Documento Histórico da Doação do Terreno ao IIMC :::::::::::::::: 26 Auto do Lançamento da Pedra Fundamental do IIMC :::::::::::::::: 28 Parte do Discurso de Benjamin Constant ::: 32 IBC Moderno -- 1937-1954 ::::::::::: 40 O Instituto ::::::::::: 41 Fatos Históricos ocor- ridos entre 1947- -1954 :::::::::::::::: 47 Ano Comemorativo do Centenário do IBC ::::::::::::::::: 51 Programa das Comemora- ções do Centenário ::: 52 Acontecimentos Adminis- trativos nos Últimos 50 Anos ::::::::::::: 57 IBC Contemporâneo :::: 69 Diretores do IBC entre 1891 e 2004 ::::::::: 76 Eventos Comemorativos do Sesquicentená- rio ::::::::::::::::::: 79 In Memorian ::::::::::: 85 Homenagens ::::::::::::: 125 Agradecimentos ::::::::: 139 ::::::::::

2004 -- Ano do Sesquicentenário do Instituto Benjamin Constant A Revista Brasileira para Cegos orgulha-se em participar das comemorações dos 150 anos do Instituto Benjamin Constant. Referência Nacional, primeira escola para cegos da América Latina, o Instituto Benjamin Constant é, e será sempre, um marco, um ponto de partida para a longa jornada do aprimoramento pessoal. Farol, cujos raios poderosíssimos indicarão sempre a direção exata do porto seguro onde abrigar-se. Perene como uma catedral, muitos tentaram arrastá-lo a outro destino que não o digno destino de educar, ensinar, encaminhar e integrar jovens cegos a uma sociedade nem sempre receptiva. Marco, farol, catedral, entrelaçando-se em uma única estrutura de belas colunas jônicas e magnífica escadaria. Entrelaçando-se, também, em nossas vidas, desde o convívio imprescindível com os companheiros cegos -- que somente uma escola especializada pode proporcionar -- aos primeiros momentos de nossa aprendizagem, exercida através do apoio de excelentes professores, também oriundos desta Casa. Não há palavras que definam a plenitude do sentimento que dedicamos ao Instituto Benjamin Constant, sentimento este capaz de doar-lhe nossos gratos corações! :::::::::: A RBC conservou na íntegra a grafia dos documentos históricos. ::::::::::

Origem da Educação dos Cegos O Instituto dos Meninos Cegos de Paris Sua História, e Seu Método de Ensino por J. Guadet Traduzido por José Alvares de Azevedo (natural do Rio de Janeiro e ex-aluno do mesmo Instituto) Rio de Janeiro -- Tipografia de F. de Paula Brito -- 1851 Prefácio do Tradutor "A cegueira já quase não é uma desgraça." Palavras do Sr. D. Pedro II ao Tradutor. "Ninguém, cuido eu, duvidará da utilidade desta pequena obra, que traduzi do francês. É ela de um gênero inteiramente novo: descreve a história da educação dos cegos. Nunca a antigüidade deles se ocupou. De fato, durante uma longa série de séculos, nada se tentou para melhorar sua sorte. Não só se esqueceram deles; ainda se fez mais: maltrataram-nos. Lancemos as vistas para uma das potências mais célebres da antigüidade, e vejamos qual era aí a sorte dos cegos e dos surdos-mudos. Porém (talvez se nos pergunte) de que potência imos falar? Buscaremos o exemplo de algum povo bárbaro? Dos Scythas, dos Godos, ou dos Sarmatas? Não: vamos falar da Grécia; do país das ciências, das artes, da indústria, do comércio; do país o mais civilizado das remotas eras, e em que o povo era tido em conta de muito humano. Dirijamo-nos para Esparta; abramos em seu livro célebre: "O código de Licurgo". Que lemos nele? Qual era a legislação dessa rival de Atenas? -- "Que todos os que, por algum defeito, não podiam ser úteis à pátria, fossem, apenas nascidos, afogados no Euro- tasso." Em Roma, a barbaridade chegou a tal auge, que Rômulo viu-se obrigado a promulgar uma lei que proibia aos pais matar seus filhos, "permitindo-lhes contudo esta crueldade quando estes fossem aleijados". Entretanto, se os homens não empregavam suas vistas para estas duas classes de desgraçados senão para desprezá-los e oprimi-los, Deus não os abandonava. Deus quis que o livro por Ele inspirado fosse o primeiro em que se enxergasse uma palavra favorável aos cegos e aos surdos-mudos. Foi por isso que, dezesseis séculos antes da era cristã, em uma época em que todos os povos estavam ainda envoltos na mais densa barbaridade; foi por isso (ia dizendo) que Ele assim se exprimia pela boca de Moisés: "Não maldigas o surdo, nem impeças os passos do cego." Estas palavras, pronunciadas quando todo o universo estava ainda bem longe de aquilatar a força de sua unção, faziam já pressentir o princípio de caridade que devia ser o caráter da lei divina. É este o princípio, desenvolvido pelo cristianismo, que inspirou ao grande Rei S. Luiz a idéia de fundar o hospício dos Quinze- -Vingts; é este o princípio que depois inspirou a Valentin Haüy a idéia da "Instituição". O fim de S. Luiz, fundando os Quinze-Vingts, foi o de dar um asilo a trezentos de seus guerreiros, a quem os Sarracenos tinham arrancado os olhos; não era, pois, senão um hospício. Nada tinha sido ainda tentado para a instrução dos cegos, e Valentin Haüy foi o primeiro que para eles estabeleceu um sistema de ensino; a ele incontestavelmente coube esta glória", ao criar em 1784 a primeira escola para a educação dos cegos: o “Instituto Real dos Jovens Cegos deParis". :::::::::: Antecedentes da Educação dos Cegos no Brasil A primeira tentativa, no sentido de se proporcionar a oportunidade de educação ao cego no Brasil, não passou de um bem intencionado projeto de lei do deputado Cornélio Ferreira França, apresentado à Assembléia em 1835, o qual previa a criação do lugar de professor de primeiras letras para o ensino de cegos e surdos-mudos, na capital do Im- pério e nas capitais das províncias. Em 1839, circunstâncias favoráveis levaram o Dr. Maximiliano Antônio de Lemos, figura de projeção na época, a conhecer um menino cego, José Alvares de Azevedo, que o impressionou vivamente por sua inteligência incomum. Sabedor do que já se fazia na Europa, principalmente na França, pela educação dos cegos, o Dr. Maximiliano consegue matrícula para o brasileirinho na Institution Nationale des Jeunes Aveugles e, após vencer a prolongada relutância dos pais do menino, este segue, em 1844, para Paris. Após 6 anos de estudos, em que sempre se destacou, retorna o jovem brasileiro ao solo pátrio, trazendo como bagagem os conhecimentos avidamente adquiridos e o coração cheio de idealismo e esperança de poder contribuir para melhorar a sorte dos compatriotas privados da visão. Com a tenacidade que só conhecem os espíritos fadados às grandes realizações, inicia imediatamente a sua luta, ora escrevendo em jornais artigos que falavam das possibilidades do cego no campo da educação, ora tomando como alunos a ou- tros cegos, transmitindo-lhes tudo aquilo que aprendera no exterior. Entre esses, uma jovem, Adele Sigaud, filha do médico da Corte, Dr. José Francisco Xavier Sigaud, propicia-lhe a oportunidade de uma entrevista com o Imperador Pedro II, o qual assiste maravilhado às demonstrações de leitura e escrita no sistema Braille, feitas pelo jovem, extasiando-se a tal ponto que, não se contendo, exclama: "A cegueira já quase não é uma desgraça." Assim, alentavam-se as esperanças de Alvares de Azevedo, pois, por sugestão do próprio Imperador, ele e Xavier Sigaud subscrevem, em janeiro de 1853, um requerimento ao Presidente do Conselho de Ministros do Império, Dr. Luiz Pedreira do Coutto Ferraz, no qual solicitam a criação, na província do Rio de Janeiro, de uma escola especializada no ensino de cegos. Antes mesmo de ver aprovada pela Assembléia a mensagem que criava a referida escola, o Ministro providencia a aquisição, em Paris, de todo o material necessário para o funcionamento da instituição, bem como o aluguel de um prédio na Rua do Lazareto, n.o 3, no bairro da Gamboa, onde passaria a fun- cionar provisoriamente. ::::::::::

A Fundação Em 1854, o Imperador D. Pedro II assina o Decreto de criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, Decreto de criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos "Hei por bem, em virtude da autorização concedida no § 2o. do Art. 2o. do Decreto n.o 781 de dez do corrente mez, crear nesta Corte hum Instituto denominado Imperial Instituto dos Meninos Cegos, o qual se regerá provisoriamente pelo Regulamento que com este baixa assignado por Luiz Pedreira do Coutto Ferraz, do Meo Conselho, Ministro e Secretário d'Estado dos negocios do imperio assim o tenha entendido e faça executar. Palacio do Rio de Janeiro em doze de setembro de mil oitocentos e cincoenta e quatro, trigesimo terceiro da Independencia e do Imperio. Luiz Pedreira do Coutto Ferraz José Thomas Nabuco d'Araujo (...)" No dia 17 de setembro de 1854, em solenidade pública a que compareceu o próprio Im- perador e as mais altas autoridades da Corte, é oficialmente inaugurado o Imperial Instituto dos Meninos Cegos. Foram nomeados: Diretor Dr. Xavier Sigaud, Vice-Diretor e capelão o Cônego Dr. Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro e o professor de instrução primária José Alvares de Azevedo, que fez presente ao Instituto, de sua biblioteca de pontos, e de todas as máquinas de escrita e chapas de algarismos para o estudo da aritmética. Mas seis meses antes da instalação do Instituto, faleceu o filantropo cego, que tanto concorrera para criar-se em seu país um estabelecimento em que os "infelizes" como ele pudessem adquirir instrução que tanto lhe custara obter em terra estranha. Inspirador da obra que abriu aos cegos brasileiros novas e alentadoras perspectivas no campo do conhecimento humano, não pôde assistir à sua efetiva concretização pois falecera em 17 de março de 1854. Em 17 de setembro de 1854 inaugurou-se o Instituto dos Cegos na chácara n.o 3 do Morro da Saúde, próximo à Praia do Lazareto, assistindo ao ato: as pessoas imperiais, o Ministro do Império, o Diretor, o Vice-Diretor e numeroso concurso de

espectadores de ambos os se- xos. :::::::::: 1o. Diretor do Imperial Instituto dos Meninos Cegos-IIMC -- José Francisco Xavier Sigaud Parte do discurso proferido pelo Dr. Xavier Sigaud, na ocasião da inauguração desse Instituto, no dia 17 de Setembro de 1854, publicado no Jornal do Comércio n.o 2.419, de 20 de setembro do mesmo ano. "Senhor, quando V.M. Imperial, pronunciou estas memoráveis palavras "A cegueira não é mais uma desgraça", suscitou uma questão grave e digna de ser tratada. V. M. formulou nestas poucas palavras a grande máxima digna de ser inscrita como divisa no portão do edifício do Imperial Instituto dos Meninos Cegos que a generosa proteção de V. M. acaba de fundar, manifestando deste modo o seu incessante zelo pela criação de instituições úteis, que servem ao mesmo tempo para civilizar o país e diminuir as misérias e os sofrimentos da humanidade. (...) "O Instituto tem por fim educar meninos cegos e prepará-los segundo sua capacidade individual, para o exercício de uma arte, de um ofício, de uma profissão liberal. É pois uma casa de educação e não um asilo, e muito menos um hospício; uma tríplice especialidade: música, trabalhos, ciência, eis o que constitui sua organização especial. O Instituto está aberto aos meninos cegos de todas as classes da sociedade. (...) Não é na época em que tantos ilustres cegos justificam os benefícios da educação recebida, que se porá em dúvida a utilidade da fundação do Instituto. (...) Nos últimos 50 anos, a Alemanha, a França, a Inglaterra, os Estados Unidos têm multiplicado as escolas para educação de tantos infelizes; o número das escolas de cegos chega hoje a 140. Os sacrifícios feitos pelos governos e associações de caridade foram recompensados pelos mais belos resultados. Quem duvidar disso, pode ler o que tem escrito o célebre poeta Antônio Feliciano de Castilho, a obra do deputado de Bruxelas, Mr. de Rodenback, e o discurso do jovem monarca do Hanover, todos três atacados de cegueira. A Providência deu ao cego o desejo ardente de saber e lhe proporcionou as faculdades de aprender; ao lado da necessidade, colocou os meios de satisfazê-la. Os cegos ouvem mais do que nós, porque vivem mais consigo; têm melhor memória do que nós, porque são obrigados a confiar mais nessa faculdade, não tendo, tanto como vós, o recurso de sinais próprios para auxiliá-la. Adquirem, assim, uma razão mais precoce, sentem mais depressa as vantagens do trabalho, dão-se a ele com mais vontade, tiram de seus estudos deduções ou juízos mais desenvolvidos e seus progressos são geralmente mais rápidos. E, pois, se há um grau de instrução que é de direito natural para todos os entes e de que não é lícito privar um menino, é um ato bárbaro privar dele um cego. Se a instrução é de direito natural para todos, é para o cego de direito divino. Creio aqui reproduzido, em parte, o pensamento moral e generoso de V. M., quando quis instituir no Brasil uma casa de educação para pobres crianças, que até hoje têm sido barbaramente abandonadas e condenadas à mais profunda ignorância, ou voltadas à mendicidade. O que me restava em fôrças e energia intelectual, sacrifiquei-o ao cumprimento desta obra de caridade, e se tomo a palavra neste dia solene, é principalmente com o fim de agradecer a V. M., em nome dos meninos cegos, o real e insigne benefício, que abrindo-lhes uma carteira, lhes proporciona os meios de poderem, um dia, ser úteis à pá- tria." (...)" José Francisco Xavier Sigaud nasceu em Marselha, a 2 de dezembro de 1796; começou seus estudos médicos em Montpellier e os concluiu em Estrasburgo, em 7 de setembro de 1818; foi cirurgião interno do hospital de Lião; secretário da Sociedade Real de Medicina de Marselha e criou nessa ocasião o Periódico "Asclepíades", que durou de 1823 a 1825. Neste ano chegou ao Rio de Janeiro. Esforçou-se por desvanecer o preconceito que supõe no cego a atrofia de todas as faculdades; procurou dar vida à Instituição; mandou publicar, pela imprensa, extensos artigos explicando os métodos especiais do ensino dos cegos e os resultados colhidos em outras nações; -- ajudava-o nessa cruzada da caridade e da ciência, o douto Cônego Fernandes Pinheiro --; dava a maior publicidade aos exames dos alunos, convidando para este ato grande concurso de assistentes; porfiava por apresentarem os discípulos provas de sua aptidão e aproveitamento; assim foi destruindo os infundados prejuízos da idéia da inutilidade dos cegos, cooperando para que esses, por si mesmos, protestassem e provassem que, para viver, não precisavam estender a mão à caridade pública; e conseguiu que todos compreendessem que os cegos podiam ler, escrever, contar, estudar música e instruir-se nos preceitos da religião católica. Curta, porém profícua, foi a atuação do Dr. Sigaud à frente dos destinos da novel Instituição, já que lhe couberam os trabalhos iniciais de arregimentação dos alunos, a composição do seu corpo funcional, vencendo as primeiras barreiras, que naturalmente se antepunham a uma obra de tamanho vulto para a época. Falecido em 10 de outubro de 1856, teve o incansável Dr. Sigaud, para sucessor, o Dr. Cláudio Luiz da Costa. ::::::::::

#;o Diretor do IIMC: Cláudio Luiz da Costa Nomeado Diretor por De- creto de 15 de outubro de 1856, tendo tomado posse no dia 26, contribuiu para o progresso do estabelecimento, elevou-o e engrandeceu-o; tudo aplicou: inteligência, vontade e perseverança para minorar os rigores da sorte dos cegos; fez de seu emprego um sacerdócio e teve o dom de tornar-se conhecido e estimado pelos entes sem vista que dirigia; reformou o regulamento, fundou as oficinas tipográfica e de encadernação; criou uma banda de música e dividiu o curso em 8 anos, compreendendo, nas partes moral e literária, as seguintes matérias: Leitura, Escrita, Catecismo, Explicação do Evangelho, Gramática Nacional, Francês, Aritmética, Álgebra -- até equações do segundo grau --, Geometria, Princípios Gerais de Mecânica, Física, Química, História e Geografia; no ensino profissional, Música Vocal e Instrumental, Harmonia, Regras de Contraponto e Instrumentação, Arte Tipográfica, de Encadernação, e Afinação de Piano para os alunos; Música e Trabalhos de Agulha para as alunas. Sob a administração desse caritativo diretor, o número dos alunos aumentou, contando, em 1860, vinte e seis: oito femininos e dezoito masculinos; em 17 de junho de 1864, conseguiu mudar o Instituto para uma casa mais vasta, situada na Praça da Aclamação, alugada ao Conde de Baependi; e depois de bons e valiosos serviços prestados aos meninos cegos, habilitando-os para a vida e para o seio da sociedade, faleceu em 1869 esse dedicado e venerando cidadão, assumindo a direção seu genro Benjamin Constant Bo- telho de Magalhães. *** Dados extraídos do relatório sobre o IIMC, feito pelo Dr. Cláudio Luiz da Costa, em 1857. Existiam, no fim do ano de 1855, doze alunos. Entraram, no decurso de 1856, seis alunos. Total 18. Saiu, a 26 de outubro de 1856, com permissão do Ex.mo. Sr. Ministro do Império, Sofia Anastácia Maureau. Estão no terceiro ano, 8; no segundo, 3; no primeiro, 6; total 17. É admirável que, em dezessete educandos, somente haja quatro de medíocre inteligência e que apenas dois não sejam de bem louvável conduta. Não menos admirável é o adiantamento que apresentam esses meninos. Informações sobre professores e empregados internos deste Instituto. Recebem anualmente do tesouro público nacional seus ordenados os empregados deste Instituto, nomeados por decretos imperiais, a saber: Dr. Cláudio Luiz da Costa, diretor, médico e tesoureiro interino: 1.600$000 (hum mil e seiscentos contos de réis). Cônego Dr. Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro, vice-diretor, capelão e professor de catecismo e história sagrada: 600$000 (seiscentos mil réis). Dr. Pedro José de Almeida, professor de primeiras letras, de aritmética e de gramática: 600$000 (seiscentos mil réis). Dr. Adolfo Maersch, professor de piano e cantoria: 600$000 (seiscentos mil réis). Adele Maria Luísa Sigaud, professora interina que ensina a ler e escrever, música vocal e piano às meninas, recebe por mão do diretor o seu ordenado de 600$000 (seiscentos mil réis). :::::::::: #:o Diretor: Benjamin Constant Botelho de Magalhães Por Portaria de 28 de maio de 1869, foi nomeado Diretor interino; por Decreto de 7 de julho, passou a Diretor efetivo. Professor de Matemática do educandário desde 1861 e, a partir de 1869, Diretor por 20 anos, o renomado brasileiro dedicou-se ardorosamente à causa da educação dos cegos, podendo-se mesmo afirmar que a ele se devem a consolidação do Instituto como escola e o prestígio de âmbito nacional que viria a alcançar. Esta administração caracterizou-se por inúmeras atividades de alta relevância para o engrandecimento do educandário. Foi durante a sua gestão que o Imperador doou à Instituição o terreno no qual seria lançada a pedra fundamental do edifício onde hoje funciona o Instituto Benjamin Constant. :::::::::: Documento Histórico da Doação do Terreno ao Imperial Instituto dos Meninos Cegos, Hoje Instituto Benjamin Constant "Registro n.o 665 – Maio-14-1872. Hei por bem autorizar a Nicoláo Nogueira Valle da Gama, do Meo Conselho, Mordomo da Minha Imperial Camara, digo, da Minha Imperial Casa, para mandar lavrar, com as formalidades legaes, escriptura da doação que faço ao Imperial Instituto dos Meninos Cegos de um terreno, contíguo ao Hospicio de Pedro Segundo, na Praia Vermelha, com cem braças de frente e os fundos, que deverão ser medidos e demarcados, o qual Me pertence por oferta, que aceitei, de José Ribeiro Monteiro, quando o houve por compra feita em 9 de Setembro de 1846, à Dona Jacintha Rosa de Castro. Palacio da Bôa Vista em quatorze de Maio de mil oitocentos e setenta e dous, quinquagesimo primeiro da Independência e do Imperio -- com a rubrica de S. M. o Imperador -- "Nicoláo Antonio Nogueira Valle da Gama...” :::::::::: Auto do Lançamento da Pedra Fundamental do Edifício Destinado ao Imperial Instituto dos Meninos Cegos "No anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e setenta e dois, quinquagesimo da Independencia do Imperio do Brazil, aos vinte e nove dias do mez de Junho, achando-se presentes no terreno situado à Praia Vermelha, à uma hora da tarde, o muito Alto e Poderoso Principe o Senhor Dom Pedro Segundo, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil, Sua Augusta Consorte a Senhora Princesa Dona Thereza Christina Maria, Imperatriz do Brazil, Sua Alteza a Princesa Imperial, a Senhora Dona Izabel, Sua Alteza o Senhor Conde d'Eu, o Ministro do Imperio, o Senhor Conselheiro Doutor João Alfredo Corrêa de Oliveira, o Comissario do Governo d'este Instituto, Conselheiro Doutor. Antônio Felix Martins, o diretor do mesmo, Bacharel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, o Diretor do Instituto dos Surdos-Mudos, Doutor Ludgero Gonçalves da Silva, o General Visconde de Santa Thereza, e mais pessoas de distincção abaixo assignadas com o auxilio da Divina Providencia, Sua Majestade o Imperador plantou a pedra fundamental do edificio destinado ao Imperial Instituto dos Meninos Cegos, para o que, pelo mesmo Augusto Senhor, foi o Supra-dito terreno doado por acto de quatorze de Maio do corrente anno." (...) "... Benzeu o capelão do Instituto a pedra fundamental que, colocada em uma padiola, foi conduzida ao lugar destinado pelo Imperador, pelo Principe Conde d'Eu, pelo Ministro do Imperio e o Comissario do Governo; o capelão espargiu a agua da Igreja sobre o terreno, e encerrada a pedra lançaram-lhe as primeiras colheres de cimento o Imperador e o Principe. A colher de prata, que serviu nesta cerimonia, tinha a seguinte inscrição: "29 de junho de 1872 Sua Majestade Imperial D. Pedro II. Colocou a primeira pedra do edifício Destinado ao Imperial Instituto dos Meninos Cegos. (...) "Erguido na Praia da Saudade deve este edifício, que já se acha em adiantada construção, ocupar uma superfície de 9.516 metros quadrados, tornando-o um dos mais belos monumentos, as colunas jônicas colossais e o pórtico, as estátuas de mármore, a majestosa ornamentação e o aspecto elegante e imponente da frontaria. Perpetuará essa grandiosa construção os nomes do Diretor do instituto e do Ministro que lançaram a primeira pedra, do arquiteto, e o de D. Pedro II que concedeu o terreno para esse magnífico palácio, que, dando asilo a 200 alunos de ambos os sexos, poderá competir com as melhores casas de educação dos cegos que existem; será um belo ornamento da Capital do Imperio, um templo enriquecido dos primores d'arte, e régio e pomposo asilo da caridade. Consistindo em um internato para alunos de ambos os sexos, é presidido por um diretor, tem um comissario, capelão, pelo médico e outros empregados." ::::::::::

Parte do Discurso pronunciado pelo Diretor do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, Benjamin Constant -- No Lançamento da Pedra Fundamental do Edifício do Instituto. Rio de Janeiro, 29 de junho de 1872 "É para cumprir um grato dever pelo lugar que ocupo no Imperial Instituto dos Meninos Cegos que, diante de tão ilustrado auditório, realçado com as augustas presenças de V. Majestade Imperial e de sua augusta família, ouso erguer minha desconhecida voz. (...) Não era possível, pois, que o Brasil fosse indiferente à sorte dos seus filhos cegos. A existência deste Instituto e os rápidos progressos feitos demonstram todo o apreço que liga em melhorar a sua lastimável sorte. As cerimônias que hoje se celebram são uma prova elo- qüente do nobre e elevado empenho com que Sua Majestade o Imperador, o Governo Imperial e alguns cidadãos distintos procuram ampliar e desenvolver tão humanitária quão utilíssima instituição. Segunda cerimônia, como sabeis, é a do lançamento da pedra fundamental do edifício que, por ordem do Ex.mo. Sr. Ministro do Império, conselheiro Dr. João Alfredo Corrêa de Oliveira, se vai construir para este Instituto. Estão patentes os desenhos da fachada, plantas, cortes deste edifício projetado. É desenhado pelo inteligente e distinto engenheiro Dr. João Carlos Ledo Neves, que, com reconhecida habilidade, soube aliar as dadas exigências da instituição com os preceitos da arquitetura moderna. Tendes à vista a planta do terreno com 100 braças de frente e fundos maiores, propriedade de Sua Majestade o Imperador e pelo mesmo augusto senhor generosamente doado a este Instituto. Provas de tão alta munificência imperial estão os brasileiros a ver repetirem-se com fre- qüência. A história deste Instituto conta muitos exemplos de benefícios semelhantes despendidos pelo mesmo augusto senhor e por sua augusta família. Esta cerimônia é um acontecimento da mais subida importância para este Instituto. Marca-lhe uma nova era fértil das mais lisonjeiras esperanças para os infortunados cegos brasileiros que vivem na mais degradante miséria e embrutecidos na mais crassa ignorância. O grande acontecimento (...) que hoje nos reúne neste lugar inaugura uma nova e brilhante fase em que vai entrar esta instituição cujo principal destino é arrancar daquele lastimável estado os nossos compatriotas privados da vista, transformando-os em cidadãos úteis a si e a nossa pátria. Esta recente instituição apenas conta 18 anos de existência e no entanto tem sobejamente demonstrado sua imensa utilidade e quanto é digna da desvelada e incessante proteção recebida. Fundou-a em 17 de setembro de 1854 o atual Ex.mo. Sr. comissário do Governo conselheiro de Estado, barão do Bom Retiro, quando ministro do império e desde então até a presente data tem sido um dos seus mais valiosos protetores. Sua Ex.a, por tantos títulos digno de estima dos seus compatriotas, acha sempre, embora sobrecarregado de muitas e importantes comissões, tempo bastante para estudar as necessidades deste estabelecimento e de pôr em prática os meios de remediá-las. Nos seus finados diretores e colaboradores, em sua fundação os imortais Alvares de Azevedo, Dr. Francisco Xavier Sigaud e conselheiro Cláudio Luiz da Costa e nos distintos professores e entre os quais honra-se o Instituto em ter contado com o talento literato do reverendo Cônego Dr. Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro que tantos serviços tem prestado às le- tras pátrias, encontrou sempre o Instituto valiosos e devotados amigos. O mesmo acontece, e grato me é confessar, em relação aos outros ilustres finados marquês de Abrantes, marquês de Olinda e outros cidadãos cujos nomes são conhecidos. O Instituto os perpetua cheio de profundo recolhimento. Tão poderoso concurso de amigos dedicados que têm sabido tirar da benéfica proteção de Sua Majestade o Imperador do Governo Imperial um maior proveito possível a benefício deste estabelecimento explica a rapidez com que a instituição se elevou ao lisonjeiro estado que apresenta e que já apresentava quando tive a honra de ser nomeado seu diretor. A estes benfeitores do Instituto vem juntar-se, e de um modo muito distinto, o atual e Ex.mo. Ministro do Império. Sua Ex.a, visitando o nosso Instituto, assistindo ao trabalho dos alunos e aos seus exames finais o ano passado, ilustrado e inteligente como é, com- penetrou-se da utilidade pró- pria às instituições desta ordem e sua valiosa proteção não se fez esperar. O acontecimento que hoje solenizamos dá disso uma eloqüente prova. A necessidade de construir-se a custo do Governo Imperial um edifício próprio para residência do Instituto, de há muito sentida pelo finado diretor, o conselheiro Cláudio Luiz da Costa, pelo Ex.mo. Sr. comissário do Governo, barão do Bom Retiro, pelo ilustrado Sr. conselheiro Paulino José Soares de Souza, quando Ministro do Império e recentemente pelo venerável conselheiro Dr. Antônio Felix Martins, quando, por feliz nomeação do Governo Imperial, ocupou o lugar de comissário como se vê nos relatórios dirigidos ao mesmo Governo, foi agora atendida de modo esplêndido pelo ilustrado e patriótico Ex.mo Sr. Ministro do Império. Assim atendida esta urgente necessidade e ampliada a instituição segundo o plano do mesmo Sr. ministro, será em breve a árvore frondosa a cuja sombra benfazeja se abrigarão os cegos brasileiros, para amparo desses infelizes e para honra e glória da nossa pátria." (...) Benjamin Constant dirigiu o Imperial Instituto dos Meninos Cegos até 1889. Após a Proclamação da Repú- blica, afastou-se da direção para ocupar o cargo de Ministro da Instrução, Correios e Telégrafos do Governo Provisório da República. O Imperial Instituto dos Meninos Cegos teve o seu nome mudado para "Instituto dos Meninos Cegos"; mais tarde, para “Instituto Nacional dos Cegos". Com a morte de Benjamin Constant em 22 de janeiro de 1891, o Governo Provisório da República, para homenageá-lo, pelo Decreto n.o 1.320, deu à Instituição o nome de Instituto Benjamin Constant. :::::::::: IBC Moderno – 1937-1954 Em 1937, foi nomeado diretor do Instituto, João Alfredo Lopes Braga, cuja gestão se estendeu até 1947. Durante os sete primeiros anos de sua administração, as atividades escolares estiveram suspensas para realização de obras e ampliação das instalações do educandário, ficando em funcionamento, apenas, o setor administrativo. A suspensão do atendimento educacional, na oportunidade, assinala o final da fase dos "anos heróicos" do Instituto, fase do pioneirismo da Educação ou de "abertura de caminhos" e dá início à expansão educacional, ocasião em que foram feitas reformas no prédio e completada as obras da segunda metade do seu projeto arquitetônico original: :::::::::: O Instituto O Instituto Benjamin Constant, projetado pelo arquiteto Francisco Joaquim Bithencourt da Silva -- autor também do prédio do Centro Cultural Banco do Brasil --, impressiona mesmo os passantes que desconhecem sua história, pela combinação das paredes cor-de-rosa com 18 metros de altura, suntuosas colunas brancas e 108 janelas voltadas para a Avenida Pasteur. Entre o início da construção, em 1872 -- para ser a sede do Instituto dos Meninos Cegos -- até o final das obras, passaram-se 74 anos: a obra só foi concluída em 1945, já no governo de Getúlio Vargas. O Instituto foi acrescido, ainda, de um anexo para cozinha e lavanderia, da construção de dois prédio, um destinado ao jardim de infância e outro à instalação da imprensa Braille, e 12 casas para seus servidores. Paralelamente a essas obras, houve, também, importantes medidas tomadas pela direção, que deram início a um período de modernidade administrativa e pedagógica no Instituto, com repercussão em todo o país, na área da Educação dos Cegos, como: 1939: Inauguração da nova Imprensa Braille, equipada com impressora e a mais modernas máquinas elétricas de estereotipia, para produção de Braille em zinco, adquiridas da Inglaterra (1934), duas na França (1939), e três outras da Inglaterra, nos anos 40. 1942: Publicação do primeiro número da Revista Brasileira para Cegos, iniciativa do Professor José Espínola Veiga. 1943: Estabelecimento de "Diretrizes", pelo Decreto-Lei n.o 6.066, de 03-12, que dispunha sobre finalidades de funcionamento do Instituto, para ter vigência a partir de #,o de janeiro de 1944. Adoção de novo Regimento para o Instituto, Decreto-Lei n.o 14.165, de 03-12 de 1943, passando o Instituto a ter "competência para ministrar Ensino Primário e Secundário, nos termos da legislação pertinente, com adaptações impostas pela Psicologia das crianças cegas". Entre os anos de 1943 e 1945, foram tomadas as seguintes providências, relativas ao sistema Braille: Atualização do alfabeto, atendendo a Reforma do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, para uso no Brasil; adoção da "Tabela Taylor", para a simbologia Braille aplicada à Matemática, substituindo a antiga "tabela Francesa"; elaboração de uma "estenografia" (Código de Abreviatura), de autoria do Professor José Espínola Veiga, Código que teve uso restrito, apenas, a algumas obras literárias, não tendo sido usado em livros didáticos. 1944: Reinício das atividades escolares com a reabertura de matrículas de alunos, a partir do segundo semestre, com previsão de funcionamento normal para o ano seguinte. Tendo como primeiro aluno matriculado Wallace de Queiroz Costa. 1945: Inauguração das novas instalações da Imprensa Braille, em prédio próprio, onde se encontra e funciona até hoje; organização e início das aulas para formação de massagistas, com os ensinamentos teóricos e práticos dados pelo prof. João Zilberberg, responsável pela introdução, no Instituto, do Curso de Massagem. Criação da Classe de Conservação da Visão, CCV, (experiência pioneira no Brasil); criação de uma praça de recreação, com montagem de um pequeno "parque infantil" e instalação de equipamentos básicos para as aulas de Educação Física; aqui- sição de equipamentos e materiais necessários às oficinas do Ensino Profissional, aquisição, também, de instrumentos de corda, de sopro e percussão, indispensáveis ao Ensino Musical, e compra, ainda, de um equipamento completo para instalação de uma rádio, inaugurada para funcionar em ondas curtas com o seguinte prefixo: "PPY.7 Rádiodifussor do Instituto Benjamin Constant, freqüência 9-5 megaciclos, Onda de 31 metros" 1946: Oficialização do "Curso Ginasial", ato da Secretaria do Ensino Secundário, pela Portaria n.o 385, de 08-06-46, passando a haver equiparação do Ginásio do Instituto ao do Colégio Pedro II, dando condições aos alunos cegos de cursarem, oficialmente, outros níveis de ensino, a partir de então, o que antes não ocorria. João Alfredo Lopes Braga fez, certamente, a mais profíqua, a mais expressiva e marcante administração do Instituto Benjamin Constant de todo o século XX, até os dias atuais, contando com o apoio do Governo Federal, através do Diretor do Departamento de Administração do Serviço Público, DASP, Luís Simões Lopes, além de contar com a valiosa orientação e colaboração do Professor Cego, José Espínola Veiga. :::::::::: Fatos Históricos entre 1947-1954 1947: "Projeto Piloto" do "Curso Experimental de Professores Especializados na Didática de Ensino de Cegos e Amblíopes" -- ação conjunta do IBC com o INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos). 1949: A Portaria Ministerial n.o 504, de 17-09- -49, autoriza o IBC a distribuir, gratuitamente, os livros Braille produzidos em sua Imprensa. Formatura dos três primeiros alunos cegos, Edison Ribeiro Lemos, Ernani Vidon e Marcelo de Moura Estevão, concluíram oficialmente, o Curso Ginasial, em todo o Brasil; solenidade realizada no teatro do palácio da Cultura, então Ministério da Educação e Saúde, sob a presidência do próprio Ministro da Educação, Clemente Mariani, que paraninfou a turma. 1950: Início do "Ensino Integrado" em nível de Curso Secundário (Curso Médio), no Colégio Mallet Soares -- convênio aprovado pelo Ministério da Educação e Saúde. 1951: Criação de um "Qua- dro de Ledores Voluntários", com a denominação específica de "Fundação Dom Muniz", um serviço adicional à Biblioteca do IBC destinado a colaborar com os estudantes cegos na leitura de livros, principalmente didáticos: ainda não transcritos em Braille. Esse quadro de ledores voluntários se constitui, ainda hoje, numa realidade, funcionando junto à Biblioteca do Instituto, não existindo mais a "Fundação D. Muniz". Criação e funcionamento do “Curso de Formação de Professores Especializados na Didática do Ensino de Cegos e Amblíopes", de acordo com a Portaria n.o 709, de 28 de junho, em cumprimento a dispositivo regimental. 1952: Formatura dos três primeiros alunos cegos em Curso Secundário, (Curso Clássico), iniciativa e apoio do IBC. 1953: Adoção de novo Regimento do Instituto, pelo Decreto n.o 34.700, de 25-11-53, dando-lhe nova estrutura, criando algumas seções, entre as quais a Seção de publicações para Cegos, a Seção de Serviço Social, a Seção de Rádiodifusão e a Seção de Cursos, oficializando o Curso de Formação de Professores na Didática Especializada para Cegos. Primeiras experiências de Ensino Integrado no Curso Primário, acordo da direção do IBC com o Grupo Escolar Municipal Minas Gerais, na cidade do Rio de Janeiro. Ingresso do 1o. estudante cego, (Edison Ribeiro Lemos) em Curso Superior no Brasil, o qual estudou e fez o Ginásio no Instituto Benjamin Constant, formando-se no curso de Geografia e História na Universidade Federal Fluminense, UFF. Visita ao Instituto Benjamin Constant de Helen Keller, em companhia de sua secretária, tendo feito um pronunciamento (palestra), no auditório do Instituto, para alunos, professores, funcionários e convidados, com tradução do Professor José Espínola Veiga. 1954: Iniciativa de professores, com apoio da direção do Instituto, num movimento em defesa da promoção social das pessoas cegas, com repercussão em todo o território nacional, resultando na criação do Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos. Participação e liderança de professores cegos do Instituto para obtenção do "direito de cidadania": direito político de ser eleitor, de votar e ser votado, movimento vitorioso, a partir das eleições nos anos seguintes. :::::::::: Ano Comemorativo do Centenário do IBC Em 1954, o Instituto Benjamin Constant completa seu primeiro centenário. Extensa programação marcou esse evento, durante 15 dias, com participação dos alunos em atividades literárias, artísticas, artesanais e desportivas, através de exposições ou fazendo demonstrações dos trabalhos educativos desenvolvidos, normalmente na institui- ção. :::::::::: Programa das Comemoração do Centenário Dia 10 de setembro. Às 8 h: Romaria ao túmulo de Benjamin Constant – Cemitério S. João Batista. Às 16 h: Conferência do Prof. Ayres da Mata Machado Filho -- auditório do Instituto. Dia 12 Às 8 h: Romaria ao mausoléu do Imperador Pedro II – Petrópolis. Às 20 h: *Show* promovido pelos alunos – no auditório do IBC. Dia 13 Às 16 h: Aula Inaugural dos Cursos de Professores e Inspetores de Cegos, pelo Prof. Mamede Freire. Dia 14 Às 20 h: Recital de piano pelo prof. Arnaldo Marquezzotti. Dia 16 Às 10 h: Inauguração da Exposição de Trabalhos dos alunos do IBC e dos demais Institutos de Cegos do Brasil. Durante todo este dia, visitação aos serviços especializados do Instituto. Às 20 h: Concerto da Orquestra Afro-Brasileira, sob a regência do Maestro Abigail Moura. Dia 17 Às 8 h: Missa Votiva pelo transcurso do 1o. Centenário do IBC. Às 16 h: Sessão Solene comemorativa do Centenário do IBC com a presença do Presidente da República, Dr. João Café Filho, com os discursos oficiais do aluno Victorino Serra de Morais e do diretor Dr. Rogério Vieira, oportunidade em que se ressaltou a importância do Instituto como órgão federal a serviço da Educação, da Cultura, da Reabilitação e da Integração de pessoas cegas na sociedade. A solenidade foi transmitida pela Rádiodifussora do Instituto Benjamin Constant e gravada pela Agência Nacional para o devido noticiário na programação radiofônica noturna da Voz do Brasil. Dia 19 Às 10 h: Concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira, sob a regência do Maestro Eleazar de Carvalho – pátio interno do IBC. Dia 21 Às 20 h: Recital de Poesias da declamadora e poetisa Seleneh de Medeiros. Dia 23 Às 20 h: Conferência do desembargador Sady Cardoso de Gusmão, sobre a personalidade de Benjamin Constant. Dia 25 Às 20:30 h: Festival Lítero-Musical, a cargo de professores e alunos, com a colaboração da Profa. Lubélia de Souza Brandão. Dia 27 Às 20 h: Conferência do Major Jayme Ferreira, sobre a recuperação social do cego. Dia 28 Às 16 h: Coral dos Alunos do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico Villa-Lobos -- auditório do IBC. Dia 29 Às 9 h: Demonstração de Educação Física – competições pelos alunos do IBC. Às 20 h: Recital da profª. Lubélia de Souza Brandão. Dia 30 Às 20 h: Sessão Solene de Encerramento – distribuição de prêmios e medalhas comemorativas com Discurso proferido pelo Diretor do IBC Dr. Rogério Vieira. :::::::::: Acontecimentos Administrativos e Educacionais dos Últimos 50 Anos 1956: Estabelecimento de nova orientação técnico-pedagógica para o Instituto Benjamin Constant, pelo Decreto-Lei n.o 38.724, de 30 de janeiro, revogado em março do mesmo ano. 1958: Realização de Concurso Público de provas e títulos para o magistério do Curso Primário, tendo sido aprovados 9 (nove) professores cegos e 5 (cinco) professores com visão normal. Dois anos depois, houve concurso semelhante, com aprovação de 14 (quatorze) professores cegos, todos ex-alunos do Instituto. Criação, pelo Decreto n.o 44.236, de #,o de agosto, da Campanha Nacional de Educação e Reabilitação dos Deficitários Visuais, diretamente vinculada ao IBC, e presidida por seu diretor, tendo, entre suas finalidades, a de reabilitar, encaminhar ao trabalho e assistir a pessoas cegas adultas, em colaboração com outras entidades de atendimento a esses deficientes no país. 1959: Criação da revista infanto-juvenil “Pontinhos”, pelo professor Renato Monard da Gama Malcher. 1960: Mudanças administrativas, educacionais e mesmo políticas ocasionam instabilidade na vida escolar. O diretor do Instituto deixa de ser presidente da Campanha já referida, que sofre alteração pelo Decreto n.o 48.252, de 31 de maio, passando a denominar-se Campanha Nacional de Educação de Cegos, ficando subordinada, diretamente, ao Ministro da Educação. 1962: Realização do Primeiro Congresso de Educação de Cegos, promovido pelo IBC em ação conjunta com o Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos, com a participação de professores, especialistas e da Fundação para o Livro do Cegos no Brasil, hoje Fundação Dorina Nowill. Nesse mesmo ano o Instituto promove a adaptação do Curso do Ensino fundamental, nos termos do Decreto-Lei n.o 4.024, de 20 de dezembro de 1961, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 1963: Acordo "Luso-Brasileiro" estabelece o uso do Sistema Braille com simbologia unificada para os dois países, além da adoção da "Estenografia Braille", de autoria do Prof. Albuquerque e Castro. Nesse mesmo ano, o "Código de Matemática" é adaptado para a representação simbólica do Ensino da Matemática Moderna. 1964: Professores do Instituto criam e lideram a "Associação Brasileira de Professores de Cegos e Amblíopes" (ABPCA) com o fim de promover e incentivar melhores condições de atendimento educacional. 1968: Participação de professores do IBC no #,o Congresso de Educação de Cegos, realizado em Brasília e promovido pela Campanha Nacional de Educação de Cegos, com apresentação de trabalhos sobre "Métodos de Alfabetização pelo Sistema Braille" e "Processos de Ensino da Matemática e Uso de Aparelho de Cálculo e Incentivo do Treinamento ao Cálculo Mental". 1970: Nomeação do primeiro diretor cego do IBC, Prof. Renato Monard da Gama Malcher, que faz uma administração eficiente, contando com uma equipe de professores também cegos, experientes e especialistas, nas chefias principais das seções de caráter pedagógico, o que muito contribuiu para um bom rendimento escolar e normalidade do educandário; na sua gestão houve a adaptação do Curso do Ensino Fundamental, segundo a Lei n.o 5.692, de 11 de agosto de 1971, nova Lei de Diretrizes e Bases do ensino em sua administração, ainda, foram conseguidos recursos financeiros para a construção de uma piscina semi-olímpica. Fundação do "Clube da Boa Leitura", idealização e iniciativa do Professor do IBC Beno Arno Marquardt, com apoio de outros professores, clube destinado a proporcionar às pessoas cegas, maiores oportunidades de acesso à informação e à cultura, através de gravações feitas em fitas cassete, por ledores voluntários, de obras literárias dos mais diferentes gêneros. 1971: Realização do #,o Curso de Aprendizagem e Treinamento das Técnicas de Cálculo no "Sorobã", para professores do IBC, e sua introdução, para substituir o "cubarítimo" nas aulas de Matemática dos Cursos Primário e Ginasial. Autorização dada ao IBC para revalidar certificados de conclusão de cursos feitos por estudantes cegos estrangeiros, nos respectivos países de origem. Emissão do Parecer n.o 180-71, do Conselho Federal de Educação, autorizando o IBC a preparar e aplicar provas para revalidação dos certificados de Cursos do Ensino Médio, obtidos por estudantes cegos estrangeiros, residentes no Brasil. Aquisição, nos Estados Unidos da América, da sua primeira máquina copiadora de caracteres em relevo (thermoform). Presença do Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, representando o Presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, na solenidade de formatura dos alunos do curso ginasial, oportunidade, e que deixou a seguinte mensagem no livro de presenças do gabinete da direção: "Representando o Excelentíssimo Senhor Presidente da República na solenidade de formatura da quarta série ginasial deste Instituto, aliei à honra de representar Sua Excelência, a reconfortante alegria de testemunhar a vitória do homem sobre a dificuldade. Levo, desta festa, uma lição a mais da longa caminhada que deve ser o aprendizado de humildade. Humildemente, como Ministro da Educação cumprimento o diretor, professores, alunos e servidores que fazem possível este testemunho de fé e de coragem do homem." 1973: Criação do Centro Nacional de Educação Especial, CENESP, pelo Decreto n.o 72.425, de 3 de julho, ficando o IBC subordinado a esse órgão, deixando de ser diretamente vinculado ao Gabinete do Ministro da Educação, com perda de posição e prestígio na estrutura orgânica do Ministério. Participação do IBC nos exames vestibulares realizados pela CESGRANRIO, transcrevendo para o Sistema Braille as provas dos candidatos cegos aos diferentes cursos universitários. Solenidade para dar o nome do Professor e Maestro cego Francisco Gurgulino de Souza ao auditório do Educandário, tendo na oportunidade, o filho do homenageado, Almirante Gustavo Gurgulino de Souza, que agradeceu em nome da família. Instalação da sede do Centro Nacional de Educação Especial, CENESP, no prédio do Jardim de Infância do IBC, havendo necessidade de deslocar as crianças cegas para o prédio principal, improvisando, em condições inadequadas, alojamento e local para aulas e as atividades pró- prias dessa fase de aprendizagem infantil. 1974: Realização, no IBC, do Primeiro Curso de Programadores Cegos em Com- putação, curso realizado em ação conjunta com o Instituto Brasileiro de Incentivos Sociais, IBIS. Resolução do Conselho Federal de Educação, dando "tratamento especial no concurso vestibular para os candidatos deficientes da visão", pelo Parecer n.o 3.763, de 06-11-74, nos seguintes termos: "É legal e tecnicamente possível nos concursos vestibulares, a organização de quesitos especiais para os candidatos deficientes da visão, do mesmo Nível e natureza dos quesitos gerais, quando estes se mostrem insusceptíveis de transcrição no Sistema Braille e enquanto assim ocorrer". 1974-1976: Formação no Curso de Mestrado em Educação, área de Administração Escolar, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, de Edison Ribeiro Lemos, ex-aluno e professor do IBC, primeiro cego a concluir curso de mestrado no Brasil. 1975: Instituição da "Semana Nacional Comemorativa do Sesquicentenário do Sistema Braille", tendo por objetivo programar as atividades comemorativas e de esclarecimento da comunidade sobre a vida e a obra de Louis Braille, criador do sistema. Portaria Ministerial n.o 54, de 29 de outubro, institui novo Regimento Interno, mantendo subordinação do IBC ao CENESP, preservando, essencialmente, finalidade, condições e prioridades de atendimento. 1975-1977: Conclusão do Curso de Mestrado, em Educação Especial, nos Estados Unidos, pelos professores cegos, Ernani Vidon e Luzia Vilella Pedras, também, ex-alunos do IBC, primeiros cegos a fazerem Curso de Pós-graduados fora do país. 1979: Desenvolvimento do "Programa de Bolsa de Trabalho para Excepcionais" por uma Comissão do IBC, com vistas ao treinamento e encaminhamento de deficientes visuais ao mercado de Trabalho, nas atividades de Massagem, Câmara Escura e Fisioterapia. 1979-1980: Renovação, por Concurso Público, do quadro de professores especializados para o Pré-Escolar, Ensino Fundamental, Educação Física, Práticas Educativas Complementares e Ensino Musical, havendo, a partir de então, maior incentivo ao uso das técnicas de "orientação e mobilidade" e programas de treinamento dos alunos cegos para competições desportivas, fora do Instituto. 1980: Realização de sessão solene comemorativa do Primeiro Centenário de Nascimento da "prodigiosa e admirável" Helen Keller, no Tea- tro do Instituto, com a presença de ilustres representantes dos Estados Unidos e palestra do Prof. José Espínola Veiga sobre a vida e obra da homenageada, de quem era amigo. Inauguração oficial, pelo Presidente da República, João Baptista Figueredo, das novas instalações do Jardim de Infância, com as adaptações e os melhoramentos necessários para funcionamento normal do Educandário; a esse ato de inauguração, estiveram presentes o Governador do Estado do Rio de Janeiro, Chagas Freitas, o Ministro da Educação, Eduardo Portela e outras autoridades dos poderes executivos e legislativos federal e estadual, além do Comandante do #,o Exército, à época. 1982: Restabelecimento do "Curso de Especialização de Professores", objetivando atender, prioritariamente, à formação de especialistas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Esse Curso foi suspenso em 1991. 1986: Extinção do Centro Nacional de Educação Especial, CENESP, pelo Decreto n.o 93.613, de 21-11-1980, que também criou a Secretaria de Educação Especial, SEESP. :::::::::: IBC Contemporâneo 1987, Mudanças no funcionamento e nas prioridades de atendimento educacional do IBC, de seu novo funcionamento, com ampliação de finalidades e de estrutura, em virtude de seu novo Regimento Interno, efetivado pela Portaria n.o 447, de 05-08- -1987, que o mantinha subordinado, para fins de supervisão ministerial, à SEESP-MEC e estabelecida os regimes de externato, semi-internato e internato para os alunos, além de duas finalidades principais: a. "Subsidiar a formulação da Política Nacional de Educação Especial para a Pessoa Cega e de Visão Subnormal" b. "Promover Educação da pessoa cega e de visão subnormal em nível nacional no período Pré-Escolar, no Ensino de #,o e #;o graus, inclusive supletivo e preparação para o trabalho, sendo estabelecida possibilidade de funcionamento, em regime de "externato, semi-internato e internato". 1988: Adesão do IBC, na condição de órgão especial, ao Protocolo de Intenção para criação da União Brasileira de Cegos, UBC, proposta pelas entidades nacionais da área da Deficiência Visual, e instituída, estatutariamente, em 1995. 1991: Participação de especialistas do IBC na "Comissão de Estudos e Atualização do Sistema Braille" em uso no Brasil. 1991-1992: Realização de iniciativas experimentais através de: “Projeto de Múltipla deficiência" (atendimento a alunos cegos com deficiência adicional) e "Pro- grama de Educação Alternativa". 1992-1994: Nomeação para a Direção-Geral do IBC do segundo Diretor cego, Prof. Jonir Bechara Cerqueira, ex-aluno, com formação universitária e grande experiência no magistério especializado e em funções administrativas anteriores, como Chefe da RBC, Chefe da Seção de Educação e Ensino e Diretor do Departamento Técnico-Educativo. 1994: Novo Regimento Interno é aprovado (Portaria n.o 398, de 15-03-1994), mantendo princípios e normas gerais do anterior e introduzindo inovações como: processo de eleição do Diretor-Geral; criação do Conselho Diretor em substituição ao Conselho Consultivo; estabelecimento de programas especiais pela divisão de Reabilitação, Preparação para o Trabalho e Encaminhamento Profissional-DRT para atender, em maior número, a adultos cegos necessitados de processo reabilitatório e encaminhamento ou reintegração ao mercado de trabalho. Através da Divisão específica, criada a partir do novo Regimento Interno do IBC. 1995: Homologação, em 28-08 desse ano, no âmbito da União Brasileira de Cegos, UBC, da Comissão Brasileira do Braille, composta de 5 (cinco) membros, dois dos quais são representantes indicados pela Direção-Geral do IBC. Lançamento, em 17-09-95, da Revista Benjamin Constant, periódico trimestral editado apenas em caracteres comuns, visando a informações técnico-científicas sobre as deficiências visuais e seus portadores. 1996: Criação, em convênio com o Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, de um laboratório de informática, para iniciação de pessoas cegas e de visão subnormal em curso de informática, com a utilização do Sistema DOSVOX. Modernização da Divisão Médico-Odontológica e Nutricional, com reforma das instalações, incluindo salas de cirurgia e aquisição de equipamentos modernos. Adoção de novo Regimento Interno (Portaria n.o 942, de 13-09-1996), mantidos princípios e normas dos dois últimos Regimentos (1987 e 1994), introduzindo algumas alterações e inovações, como: o IBC passa a ser considerado "Centro de Referência" com subordinação direta ao Ministério da Educação e Desportos e, tecnicamente, à Secretaria de Educação Especial. 1997: Adoção, no Ensino Fundamental do IBC, do Código de Matemática Unificado, CMU, aprovado por uma comissão de especialistas, reunidos pela UBC, desde 18-05-94, com a participação de representantes do Instituto. 1998: Vigência de novo Regimento Interno do IBC (portaria Ministerial n.o 325, de 17-04-1998) com as alterações publicadas no DOU de 07-12-98, sendo mantidas, fundamentalmente, as finalidades e a estrutura do regimento anterior, havendo mudanças em siglas de departamento e divisões, passando o Departamento Médico-Oftalmológico e de Reabilitação a denominar-se "Departamento de Estudos e Pesquisas Médicas e de Reabilitação”. 1999-2000 Participação do IBC, sediando e se integrando às comemorações dos 190 anos de nascimento de Luís Braille e dos 150 anos da introdução do Sistema Braille, trazido por José Alvares de Azevedo para o Brasil. 2003: Adoção, no IBC, da Grafia Braille para a Língua Portuguesa, conforme a Portaria Ministerial n.o 2.678, de 24-09-2002 e das Normas Técnicas para Produção de Textos em Braille, consoante a Portaria n.o 2.679, de 26-09-2002. 2004: Aquisição de impressora de estereotipia de grande porte, PAD-30, (alta resolução) que, acoplada a um mi- crocomputador, tem capacidade de produzir 40 caracteres Braille por segundo em matrizes de lâminas de zinco, para posterior impressão em papel. :::::::::: Diretores do IBC entre 1889 a 2004 O Instituto Benjamin Constant teve, entre os anos de 1854 a 2004, os seguintes diretores: José Francisco Xavier Sigaud: 1854-1856 Claudio Luiz da Costa: 1856-1869 Benjamin Constant Botelho de Magalhães: 1869-1889 Joaquim Mariano de Macedo Soares: 1889-1895. João Brasil Silvado: 1895-1902. Jesuíno da Silva Mello: 1902-1920. José Cândido de Albuquerque Mello Mattos: 1920-1924. Eduardo Pinto de Vasconce- los: 1924-1930. Sady Cardoso de Gusmão: 1930-1937. João Alfredo Lopes Braga: 1937-1947. Joaquim Bittencourt de Sá: 1947-1951 Hermínio de Moraes Brito Conde: 1951-1952 Ophelia Guimarães: 1952-1953 Henrique Bevilaqua Fraenkel: 1953-1954 Rogério Vieira: 1954-1956 Orlando Massa Fontes: 1956. Wilton Ferreira: 1956-1960. Pedro Pope Girão: 1960. Nelson Pita Martins: 1960. David Waquini Netto: 1960-1961. Pedro Paulo Wandick de Leoni Ramos: 1961. Raimundo Ribeiro Fontes Lima: 1961-1963. Ronald Nyr Allonso da Costa: 1963-1964 Jairo Moraes: 1964-1966. Mário Novaes Soares: 1966-1970. Renato Monard da Gama Malcher: 1970-1972. Antonio dos Santos: 1972-1977. Newton Gonçalves da Rocha: 1977-1979. Joel Telles de Britto: 1979-1983. Marita Alves de Almeida: 1983-1984. Victor Mattoso: 1984-1990. Ana de Lourdes Barbosa de Castro: 1990-1992. Jonir Bechara Cerqueira: 1992-1994. Carmelino Souza Vieira: 1994-2002. Érica Deslandes Magno de Oliveira: 2003-... :::::::::: Eventos Comemorativos do Sesquicentenário Por sugestão do funcionário da Imprensa Braille José d'Assunção Rocha, a Direção-Geral do IBC organizou, para o dia 17 de cada mês do ano de 2004, um evento que, além dos festejos especiais e da programação solene de 17 de setembro, fizesse rememorar a importância da criação, em 1854, do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Constant, primeira escola do gênero na América Latina. 17-01 -- Audição do pianista, ex-aluno, ex-professor e renomado artista, Sidney Marzullo. 17-02 -- Audição do saxofonista, ex-reabilitando, Glauco Cerejo. 17-03 -- Inauguração do busto do idealizador do "Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Constant", José Alvares de Azevedo; palestra do ex-aluno Maurício Zeni. 17-04 -- Evento Esportivo: Travessia da Praia Vermelha. 17-05 -- Apresentação Musical: “Severino Campelo professor do IBC e seus Convidados”. 17 a 18-06 -- Encontro Nacional sobre Distúrbios de Aprendizagem”. IBC-IBMR. 24-06 -- "Noite de Gala": Escola Nacional de Música. 28-06 -- às 15:00 h "Homenagem aos 150 anos de nascimento do prof. e poeta Augusto José Ribeiro". 17-07 -- Apresentação: Coral Michelin. 17-08 -- Sessão Solene no Plenário Barbosa Lima Sobrinho na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, comemorativa do "Sesquicentenário" do Instituto Benjamin Constant, com entrega da "Medalha Tiradentes". 01-09 -- 15:00 h: Recital de Música, com o saxofonista, Mauro Senise, o pianista Alberto Chimelli e o baixista Paulo Russo. 08-09 -- 10:00 h: Entrega da "Medalha Pedro Ernesto", na Câmara dos Vereadores. 09-09 -- 15:00 h: Apresentação do "Coral de Furnas". 10-09 -- Solenidadeda de Abertura da Semana dos 150 anos. 8:00 h: -- Apresentação da Banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro. 10:00 h: -- Entrega das Medalhas dos 150 anos aos funcionários, alunos e ex-alunos, reabilitandos e colaboradores do IBC. 16-09 -- 17:00 h: "Concerto de Piano" com a prof.a da Escola Nacional de Música Fani Lovenkron. 17-09 8:00 h: Hasteamento da Bandeira. 8:30 h: Apresentação da Banda dos Fuzileiros Navais. 9:30 h: Sessão Solene com a presença do Sr. Ministro da Educação Dr. Tarso Genro. 12:00 h: Confraternização. 15:00 h: Cultos Religiosos. 21-09 11:00 h: Missa em ação de graças na Igreja Santa Luzia. 14:30 -- Recital de piano, com o ex-professor do IBC Adhemar Said. 25-09 -- 16:00 h: Baile promovido pela Associação dos ex-alunos. 17-10 16:00 h: – 150 anos de Poesia sobre o IBC. Sarau com música ao vivo. 18-10 -- Aniversário de nascimento de Benjamin Constant: Visita ao Museu Casa de Benjamin Constant. 15:00 h: Palestra no Teatro do IBC – “Vida e Ação Política de Benjamin Constant” – Professor Renato Lemos. 20-10 -- 15:00 h: Apresentação musical -- Conjunto de música popular brasileira. 22-10 -- 17:00 h: Lançamento do Livro "Olhos de Ver, o Desafio da Cegueira", de Luiz Antonio Millecco. 08-11 a 30-11 -- Exposição da Artista Plástica Virgínia Vendramini, professora aposentada do IBC -- Espaço Cultural 09-11 -- 14:00 h: Programação da UNIDEV -- União Evangélica de Deficientes Visuais 17-11 -- 14:00 h: Lançamento do Projeto Cartográfico Tátil. 20-11 -- 16:00 h: *Show* de ex-alunos. 02-12 -- Comemoração do aniversário de D. Pe- dro II. 04-12 -- "Eventos de Oftalmologia". Exposição de "IBC-Cerâmica" – Departamento de História IFICS 17-12 – Concerto de Piano – Sonia Maria Vieira. :::::::::: In Memoriam José Espínola Veiga, (1906-1998) Síntese Biográfica, por Edison Ribeiro Lemos Professor polivalente, brailista, espírito empreendedor, "homem de visão", é como se pode caracterizar e definir esse "culto cego brasileiro", que durante mais de 30 anos, como professor no IBC foi personagem marcante e de maior expressão do seu tempo e, por isso, tem seu nome entre os mais importantes e ilustres da própria História dos 150 anos da Instituição. Sua biografia é plena de realizações pessoais e de inúmeras ações em favor da causa das pessoas cegas; isso porque, em diferentes áreas de atuação na vida, liderou movimentos pela valorização da pessoa cega, em defesa de seus direitos de cidadania e foi pioneiro em muitas conquistas sociais que, hoje, os deficientes visuais desfrutam, tendo maiores oportunidades de educação, profissionalização e de encaminhamento ao mercado de trabalho, no serviço público e particular, com direitos garantidos a qualquer pessoa. Vítima de cegueira precoce, teve a feliz circunstância de, desde cedo, ter oportunidades de educação adequada, o que lhe proporcionou na vida a condição de ser capaz de desenvolver todo o potencial de que era dotado, sem se deixar abater pela adversidade de não possuir o sentido da visão. Veiga nasceu em uma família humilde, em um bairro pobre do subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, a 21-12-1906. Filho de um casal de portugueses açoreanos, seu pai, Manoel Espínola Veiga (vaqueiro em seu país de origem e açougueiro no Brasil), e sua mãe, Porcina de Azevedo Veiga, ele ficou cego antes de completar dois anos de idade, por ter contraído varíola, que também lhe deixou marcas no rosto por toda a vida. Sua primeira infância foi difícil, embora tivesse sempre o afeto e carinho de seus pais, não tendo, no entanto, nesse período, os necessários cuidados no atendimento que se deve dar a uma criança, vítima de cegueira precoce, para melhor possibilitar sua integração social. Mas, já aos 5 anos de idade, o menino cego começou a ter iniciação educacional, pois em frente à casa onde morava, foi residir um casal cego, ex-alunos do IBC, e o professor Mamede Freire passou a dar-lhe os primeiros ensinamentos para sua alfabetização pelo Sistema Braille. A 08-04-1915, foi matriculado no IBC e, pela iniciação recebida, não teve nenhuma dificuldade desde os primeiros anos de escola até completar o curso, com excelente aproveitamento, distinguindo-se como aluno em todas as atividades curriculares oferecidas pela Instituição nos ensinos literário, musical e profissional. O reconhecimento do êxito escolar veio logo, antes mesmo de completar 21 anos, permitindo-lhe, em 1927, o mérito de ingressar no magistério e ter uma carreira profissional verdadeiramente e vitoriosa. Dotado de alto espírito empreendedor, em 1928, instalou no bairro do Meyer, subúrbio do Rio de Janeiro, um Curso Preparatório para alunos videntes se habilitarem a concursos no Serviço Público e Militar, seguindo exemplo de seu primeiro professor, Mamede Freire, que foi, no Brasil, a primeira pessoa cega a ter tal iniciativa. Veiga era uma pessoa de conhecimento polivalente, pois tinha condição de ensinar no curso: Português, Matemática e línguas estrangeiras -- Inglesa e Francesa --, línguas que dominava e falava correntemente e, por isso, tentou ingressar na Universidade do Rio de Janeiro, prestando exame e passando no vestibular, mas não podendo ter a matrícula confirmada, pois o curso de sua formação, feito no IBC, não era oficial como o do Colégio Pedro II, requisito exigido à época, conforme relata em sua autobiografia. Leitor de revistas em Braille publicadas nos Estados Unidos da América e na França, tinha notícias de algumas novidades lá existentes e, pelo seu senso empresarial, foi pioneiro, no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, do serviço de propaganda comercial por "auto-falantes", assim como pioneiro na distribuição de carnes aos açougues, em caminhões frigoríficos. Essas atividades de interesse privado, todavia, não impediram que ele lutasse em favor da coletividade das pessoas cegas, liderando movimentos como o direito do trabalhador ter carteira assinada pelo patrão e ser contribuinte legal da Previdência Social, garantindo sua aposentadoria futura, conquistas alcançadas na década dos anos 40. Foi, ainda, nessa época, quem se empenhou no encaminhamento ao mercado de trabalho de deficientes visuais, junto à Fábrica Nacional de Motores, FNM, à Aeronáutica, ao Setor de Oficinas da Marinha Mercante, LLOYD e algumas indústrias do Rio de Janeiro, indo, pessoalmente, a esses locais, selecionando e indicando tarefas compatíveis com exercício de um profissional cego. Assim era Veiga, um servidor público do IBC (Professor de Inglês), um intelectual, um empresário, um batalhador em defesa das causas dos cegos. Mas, sem dúvida alguma, de todas as suas atividades, destaque especial pode se dar ao período em que foi Chefe da Seção de Educação e Ensino do IBC, na administração do Diretor Dr. João Alfredo Lopes Braga, de quem foi direto colaborador e conselheiro para as grandes transformações ocorridas à época e que determinaram a modernidade administrativa e pedagógica da escola, para funcionar de acordo com as Leis Orgânicas do Ensino. Graças à sua atuação, houve a modernização da Imprensa Braille do IBC, em 1939. Foi o criador da Revista Brasileira para Cegos em 1942 e foi quem fez a adaptação do Sistema Braille para uso no Brasil, compatibilizando-o com a Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa, ocorrida em 1942. Foi também quem modernizou a simbologia Braille aplicada à Matemática, substituindo a antiga Tabela Francesa pela Tabela Tayllor, de origem inglesa; criou, oficialmente, a primeira estenografia Braille, em 1943, que foi usada em publicação de algumas obras literárias; promoveu no Município do Rio de Janeiro as primeiras experiências de Ensino Integrado, no Curso Primário. Participou e foi fundador da criação, em 1954, do Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos, CBBEC, e coordenou, em 1936, a reforma do Instituto de Cegos da Bahia, por solicitação do Governador desse Estado. Proferiu palestras e fez conferências por todo o Brasil, abordando problemas de Educação, de Reabilitação, de Profissionalização e de Encaminhamento ao Mercado de trabalho e, sobretudo, problemas de Integração das pessoas cegas na sociedade. Foi também quem lutou pelo direito de os cegos serem eleitores, a aceitação de cegos nos concursos promovidos pelo DASP, possibilitando o ingresso no Serviço Público. Teve colaboração permanente em jornais do Rio e da Bahia e foi tradutor de duas obras de Helen Keller. Em 1946 publicou um livro de memórias, "A Vida de Quem Não Vê". O Professor José Espínola Veiga foi, de fato, um homem empreendedor, um administrador, um realizador, um verdadeiro homem de "visão", incansável nas múltiplas atividades que exerceu, paralelamente ao exercício do magistério, como Professor de Inglês, no IBC, quando se aposentou, em 1959, com a idade de 53 anos. Dedicou-se ao comércio de equipamentos de som, tendo sido representante de seis das melhores firmas do ramo, da Inglaterra e da Dinamarca. Deixando, nos últimos 20 anos a Firma sob a responsabilidade de um dos seus genros, resolveu retirar-se da vida agitada do Rio de Janeiro e foi residir em um sítio, na Cidade de Petrópolis, vivendo como avicultor, mantendo uma granja de criação de frangos. Somente nos últimos anos da vida, já adoentado, voltou a morar no Rio de Janeiro, onde faleceu, no ano de 1998. Obs. Ao conhecer José Espínola Veiga, ainda jovem, referindo-se ao seu valor de pessoa cega, disse Humberto de Campos: “Conseguiu, na treva em que vive, conhecimentos dificilmente adquiridos pelos homens, a quem Deus dá o sol durante o dia, e as indústrias oferecem, à noite, a vela, o bico de gás e a lâmpada elétrica". Sobre sua personalidade, assim se expressou Aires da Matta Machado, citado por Hilton Rocha: "Empenhou-se Veiga em sua luta em defesa da causa dos cegos, escrevendo livros ou fazendo palestras, prestando esclarecimentos à comunidade sobre o que é, de fato ser cego, combatendo preconceitos, discriminações e suas conseqüências fruto da incompreensão por parte do vidente, o que muito dificulta ou impede uma perfeita integração do deficiente visual na sociedade." Veiga afirmava que: "A pena da cegueira está menos na carência da visão que nas concepções de descrença a respeito do que se é capaz. Para levar a felicidade à vida de quem não vê, precisamos começar por interpretar as atitudes e os verdadeiros estados de alma determinados pela cegueira". Espínola destrói idéias errôneas, como é o caso da balela de que o cego conhece, pelo tato, as cores e o valor das cédulas. Mas, em compensação, "onde o tato pode chegar direito, apanha mais elementos que a vista, para a formação do conceito". "O cego faz de seus braços balanças tão sensíveis, e de seus dedos compassos tão experientes, que eu apostaria em um cego contra vinte videntes". "Não é a vista, senão o tato, que distingue o homem dos outros animais", escreveu Diderot. A inspeção do tato pode alcançar, no cego, elementos que escapam à vista. "DEUS tira os dentes e alarga a goela", adverte Espínola, não tem aplicação ao cego. "A goela se alarga à força de engolir os bocados duros que a privação da vista lhe oferece constantemente. Ou alarga ou o espírito se definha de fome -- fome de sensações, de alegria, de amor, de vida...” *** Mauro Montagna Mauro Montagna é considerado, na história dos cegos no Brasil, como a figura de maior destaque profissional e projeção social das três primeiras décadas do século XX. Era um homem dotado de grande poder de comunicação e liderança e, segundo palavras do Prof. José Espínola Veiga, soube levar à sociedade de sua época -- personalidades de governo e de prestígio social – toda a sua capacidade de liderança, trazendo ao convívio da coletividade do Instituto Benjamin Constant as figuras de maior projeção social de seu tempo. Nasceu em outubro de 1863, na freguesia de Santa Guilette, província de Parma, na Itália. Seu processo de cegueira iniciou-se aos 10 anos de idade. Ao chegar ao Brasil, pediu uma audiência ao Imperador D. Pedro II, a fim de conseguir matrícula no Imperial Instituto dos Meninos Cegos, pois já com a idade de 17 anos estava encontrando dificuldades em obtê-la. O Imperador concedeu-lhe a matrícula e ele pôde então iniciar seus estudos em agosto de 1882. Distinguiu-se, como aluno, por bom aproveitamento em muitas matérias, concluindo seus estudos em 1887, com distinção. Em reconhecimento ao seu valor, foi nomeado pelo Imperador, em maio de 1888, Repetidor de Geografia e História, por proposta de Benjamin Constant, então diretor do Instituto. No Instituto conheceu sua futura esposa, Etelvina Maria Fragoso, também nomeada “Repetidora de primeiras le- tras, das alunas", em 1889. Casaram-se e tiveram 9 filhos. No exercício do magistério, Mauro Montagna teve atuação marcante, tornando-se grande especialista no ensino da Geografia a alunos cegos, sobretudo por transmitir-lhes, de forma objetiva, noções de orientação e localização espaciais, especialmente pela utilização de mapas por ele muitas vezes concebidos. Em 1893, foi organizado o "Grêmio Beneficente Comemorativo 17 de Setembro", que posteriormente tomou o nome de "Associação Protetora dos Cegos 17 de Setembro", cujo objetivo era dar assistência aos alunos que terminassem o curso e não pudessem ser aproveitados no Instituto, assim como aos que não tivessem gosto ou aptidão para os estudos. Então, com o propósito de oferecer oportunidade de trabalho a pessoas cegas, em especial a ex-alunos do Instituto Benjamin Constant e de garantir aos não habilitados uma vida protegida, a "Associação Protetora dos Cegos", graças à dedicação e perseverança de Mauro Montagna, valendo-se ainda de seu prestígio pessoal, fundou em 1907 a "Escola Profissional e Asilo para Cegos Adultos", no bairro de Botafogo, cidade do Rio de Janeiro. Essa instituição, precursora do atendimento assistencial privado aos cegos no Brasil, cumpria uma tríplice finalidade: treinamento profissional, centro de produção e comercialização de artigos manufaturados e casa de proteção e amparo. A direção da Escola foi entregue a Mauro Montagna, que permaneceu no cargo até 1926. Este insigne professor teve seu nome consagrado, com repercussão na imprensa do Rio de Janeiro, por ocasião dos festejos comemorativos do primeiro centenário da Independência do Brasil, em 1922. Na Exposição Internacional do Centenário da Independência recebeu o Diploma de Honra, conferido pelo Júri Internacional de Recompensas pelo trabalho apresentado: "Mapa animado da América do Sul", idealizado por ele, confeccionado e montado sob sua orientação. Este mapa de madeira, em relevo, possuía um complexo mecanismo capaz de produzir movimentos de águas correntes nos rios, lampejos de chamas nos vulcões, e capitais e cidades importantes marcadas com luzes de diferentes tamanhos, de acordo com a população. Os visitantes percorriam uma galeria em redor do mapa, que foi colocado em plano elevado, a fim de permitir a instalação da maquinária na parte de baixo. Este mag- nífico complexo animado foi posteriormente desativado, preservando-se, apenas, a re- presentação do mapa físico da América do Sul, hoje implantado na parede de um dos corredores do Instituto Benjamin Constant. Mauro Montagna era um estudioso e estava sempre a par de todos os acontecimentos, pois seus filhos e netos liam para ele, transmitindo-lhe as notícias dos jornais. Além disso, como grande apreciador do rádio -- aparelho rudimentar chamado rádio de galena, onde o ouvinte usava fones -- estava sempre com os fones ligados. Em julho de 1929, o Professor Mauro, depois de mais de 40 anos de Serviço Pú- blico, aposentou-se das funções que exercia no Insti- tuto Benjamin Constant. *** Benedicta de Mello (1906-1991) Síntese Biografia, por Edison Ribeiro Lemos Admirável Poetisa e Emérita Professora do Instituto Benjamin Constant, Benedicta de Mello é um dos mais significativos exemplos da importância do Instituto Benjamin Constant, na formação cultural e no desenvolvimento do potencial intelectivo das pessoas cegas. Natural de Vicência, cidade do agreste pernambucano, ficou cega aos 2 anos de idade e viveu analfabeta até a adolescência, no seio de uma família humilde, sem qualquer perspectiva de poder realizar-se pessoalmente, a não ser a de ter o amparo caritativo de parentes ou da própria comunidade, quando atingisse a idade adulta. Órfã de pai aos 12 anos, sua mãe ficou em situação muito difícil para manter o sustento familiar. Até a morte do pai, cresceu ouvindo as cantorias e, por vezes, ainda criança, participando delas e dos desafios de violeiros da região, que seu pai constantemente organizava em sua casa, reunindo os amigos. Como pessoa cega ou "ceguinha", recebia atenção carinhosa dos cantores repentistas, que gostavam de contar também com ela em suas reuniões, e apreciavam sua participação no meio de cantadores experientes, com os quais mantinha, inteligentemente, os desafios, versejando no clima e no ritmo determinado pelos contendores. A própria Benedicta, ao relembrar essa fase de sua vida, em uma de suas obras poéticas, conta o seguinte: "Ainda trago fresquinha, na memória, a lembrança dessas tertúlias singulares, que enchiam de sonhos a minha infância. Ainda ouço o Zé da Taquara, ponteando, barulhando, a sua módula viola, em seus desafios: “Eu não vejo quem me afronte Nestes versos de seis-pé, Pegue o pinho, companheiro E cante como quisé. Que eu mordo e belisco a isca sem cair no Jereré." Nesse ambiente de cantorias, em breve, diz Benedicta que lançava seus versinhos e conta: "Zé da Taquara, certa vez, num de seus repentes, perguntou qualquer coisa que logo respondi, fazendo, por minha vez uma pergunta. Não me respondeu como eu queria, o precipitado cantador. Retruquei-lhe, nesta sestilha que ainda hoje guardo num cantinho da memória: “A resposta direitinha, O cantador não me deu. Se ele crê que sabe muito, Sabe menos do que eu, Venha depressa, a resposta De quem não me respondeu." Completa, ainda, Benedicta: “... Foi num ambiente de sonho e de poesia, que passei as horas mais felizes de minha descuidada meninice..." Certo dia, na cidade, chegou, por um forasteiro, a notícia de que havia na capital da República uma escola para cegos, que agora poderiam ler e escrever por meio de um sistema especial, em relevo, em que as letras eram identificadas pelo tato. Benedicta ficou grandemente interessada e desejou ir para tal escola, o que não lhe foi permitido pela mãe, que não admitia a idéia de deixar sua filha cega ir sozinha para o Rio de Janeiro. Resolveu, então, fugir de casa, o que aconteceu, com o auxílio de uma família amiga. Viajou para Recife e embarcou no navio Brasil, que pertencia à antiga Companhia Lloyd Brasileiro que vinha de Belém, com destino à capital. Viajou na terceira classe, tendo sido recomendada a uma senhora que viajava na primeira e que lhe dispensou toda a atenção, durante os 13 dias gastos na viagem até o Rio. No entanto, à chegada, ocorreu um imprevisto, que colocou a jovem cega em grande dificuldade, pois a senhora que a acompanhara durante a viagem, havia desaparecido. Certamente, ficou receosa de ter de assumir a responsabilidade de uma pessoa cega, que, por sinal, viajava sem qualquer documento e tinha, apenas, de memória, um endereço e o nome de uma pessoa, que Benedicta dizia ser antiga amiga da sua família. Contou, então, com a ajuda de uma camareira do navio, a qual se prestou, generosamente, a acompanhá-la até a residência da pessoa que ela queria encontrar e pedir que a encaminhasse à escola para cegos, onde queria ter oportunidade de estudar. O antigo amigo da família foi encontrado, o Dr. Zeferino Pontual, que se incumbiu de providenciar seu encaminhamento ao destino desejado por Benedicta e que nada mais era do que o Instituto Benjamin Constant. Para tanto, foi preciso tirar, na cidade do Rio de Janeiro, uma certidão da jovem cega, pois o registro de batismo feito em sua cidade natal, Vicência, Pernambuco, tinha-se perdido num incêndio da capela onde fora batizada. Uma vez matriculada no IBC, Benedicta foi uma estudante aplicada, com excelente aproveitamento em todo o Curso do Ensino Literário, Musical e Profissional, dedicando-se, sobretudo, a estudar e ler os poetas mais famosos da época, como Gonçalves Dias, Catros Alves, Casimiro de Abreu e, acima de tudo, como diz Benedicta, "os que formaram a geração de Bilac: Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e outros", dos quais pôde receber influências benéficas para a sua produção poética de grande inspiração e sensibilidade. O nome de Benedicta de Mello chegou a ser cogitado, por alguns críticos literários, para concorrer a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, até então só integrada por intelectuais homens. Benedicta exerceu o magistério no IBC, responsável pela cadeira de português no Curso Ginasial, preparando seus alunos para o conhecimento da Língua pátria e, com sua presença e exemplo de poetisa, certamente, pôde influenciar alguns deles, para hoje seguirem suas pegadas na arte de versejar. Benedicta tinha grande prestígio no meio intelectual e muitos amigos, que tinham grande admiração pelo seu talento, como Maroquinhas Jacobina Rabelo, que foi a responsável pela publicação, em Lisboa, em uma de suas viagens à Europa, dos seus primeiros versos, numa revista literária "O Fradique", dirigida por Thomás Ribeiro Colaço, que exaltou a beleza dos versos e sua profunda inspiração poética, escrevendo: "... Uma revelação sensacional para as letras portuguesas e para as letras brasileiras...". Esse fato teve grande repercussão no Brasil e, em breve, Benedicta publicou seu primeiro livro, "Lanterna Acesa", em 1935 e reeditado em 1977. Anos depois, em 1944, editou "Sol nas Trevas". E, desde então, a vida de Benedicta de Mello foi inteiramente dedicada ao exercício do magistério no IBC e à sua obra literária. Como Professora, tinha grande preocupação com o futuro dos alunos cegos, sendo uma propagandista do valor da Educação para as pessoas cegas e procurando, sempre, proteger jovens cegos, que, não raro, trazia do interior do país para estudar no Instituto, e mesmo dando abrigo em sua residência. Esteve, sempre, à frente ou participando de movimentos em defesa da causa das pessoas cegas. Foi fundadora da Instituição das Cegas Helen Keller e participou da criação do Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos, assim como uma das incentivadoras para a criação da Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille e participou da fundação do "Sodalício da Sacra Família", na cidade do Rio de Janeiro. Na sua produção de poetisa, publicou mais três obras de grande aceitação e elogio dos críticos a saber, "Luz de Minha Vida", em 1955, reeditado em 1982; "Luz Interior", publicado em 1972, acrescido de um capítulo constituído pelos vinte e dois sonetos patrióticos que integravam a coletânea "Versos do Meu Brasil" e, finalmente sua obra literária "Lâmpadas Colorida”, em 1983, última de suas produções poéticas. Benedicta de Mello, intelectual, professora, poetisa, protetora e defensora das causas das pessoas cegas, é um exemplo expressivo e inconteste do valor da Educação que há 150 anos vem sendo proporcionada a crianças e jovens cegos no Brasil, pelo Insti- tuto Benjamin Constant. *** Francisco José da Silva (1889-1990) Dados biográficos por Edison Ribeiro Lemos Um educador e defensor das causas das pessoas cegas. Francisco José da Silva foi um dos mais estimados Professores do Instituto Benjamin Constant, tendo participação ativa em longo período de sua História e de influência decisiva na vida de muitas pessoas cegas. Natural de Quixeramobim, Ceará, chegou no Instituto Benjamin Constant em 1903, ainda adolescente, e aí completou os estudos, distinguindo-se como aluno, tanto na parte literária e em Ginástica, como nos cursos de Música, em especial Canto Solo. A sua escolaridade foi toda ela caracterizada pelo relacionamento de companheirismo e integração com os colegas ce- gos, aos quais sempre ajudou, com solicitude e espontaneidade, fato que foi característico e marcante de sua personalidade. Ao concluir o curso, foi nomeado aspirante ao magistério e, depois de ocupar o cargo de repetidor, assumiu, efetivamente, a função de professor, responsável pela cadeira de História durante vários anos, até o ano de 1937, quando se deu a paralisação das atividades escolares da instituição, para obras no prédio e ampliação de suas instalações, retomando as atividades escolares normais após 1945. Ele participou e foi atuante em dois períodos da História do Instituto: o período antigo, antes de 1937, e o período moderno, após 1945, até aposentar-se, no ano de 1959. No primeiro período, ele teve oportunidade de conhecer alguns cegos ilustres que tiveram contato direto com Benjamin Constant e foram na realidade os pioneiros da projeção dos cegos na sociedade e, por isso, seus nomes fazem parte da própria História do Instituto, História que sempre era lembrada e exaltada por Francisco José da Silva, constantemente preocupado em não deixar cair no esquecimento os fatos marcantes e as grandes realizações dos cegos educados no Instituto. Durante sua vida de estudante e de funcionário do IBC, ele exerceu uma tranqüila e eficiente liderança na comunidade, representando um elo de continuidade entre o IBC antigo e o moderno, sendo depositário de um verdadeiro pa- trimônio memorial de grande valor histórico e participando, ativamente, das questões educacionais de interesse dos cegos e mesmo dos problemas da Educação em geral. Sua vida de servidor público foi plena de inúmeras ações no campo da Educação e da promoção social dos cegos. Ainda jovem, participou de caravanas promocionais, juntamente com outros companheiros, ex-alunos e professores do Instituto, em excursões pelo interior dos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, fazendo demonstrações das possibilidades de os cegos serem atendidos educacionalmente. Essas caravanas eram formadas por músicos, cantores e poetas que, paralelamente ao apresentarem os recitais artísticos, também aproveitavam para fazerem palestras e, assim, divulgar a forma de os cegos lerem e escreverem, valendo-se do Sistema Braille. O professor Francisco José da Silva tinha papel de destaque nessas excursões, pois, além de participar cantando com sua bela voz de tenor, que aperfeiçoara nas aulas de Canto Solo e Canto Coral, dizia versos e poemas de sua autoria; era um dos palestrantes que evidenciava a importância da Educação para as crianças cegas. Graças a essa divulgação, algumas famílias encaminharam seus filhos cegos para estudarem, tirando-os do analfabetismo e de uma vida futura sem qualquer perspectiva na comunidade. Mas, foi na vida funcional, exercida até 1959, durante 40 anos de efetivo exercício, que ele mais se destacou, pelo vigor de seu caráter e personalidade marcante, demonstrando toda a sua lealdade e determinação, em defesa da preservação e continuidade dos objetivos da Educação no Instituto em favor dos cegos, quer como professor no exercício do magistério, quer em funções administrativas, como Chefe do Curso de Especialização de Professores na Didática do Ensino de Cegos ou de Chefe de Disciplina no Instituto Benjamin Constant, onde ele sempre se houve a merecer o maior respeito, admiração e reconhecimento pela sua competência, habilidade administrativa e fidalguia cativante, no trato com todas as pessoas. Francisco José da Silva, um "educador" por excelência, era conhecido e chamado, afetivamente, pelos mais íntimos pelo apelido de "Chinês". Ele teve toda sua vida intensamente vinculada à causa das pessoas cegas, pelas quais sempre se preocupou desde a juventude até o fim de seus dias. Pessoa cega, com um pequeno resíduo visual que lhe foi muito útil, Especialista na área da Educação, era de fato um educador, um pedagogo, um autodidata que se formou com a experiência vivenciada, ao curso de muitos anos no contato direto e intenso com seus colegas e amigos cegos. Conhecia, compreendia e interpretava, com grande sensibilidade, as verdadeiras dificuldades e limitações das pessoas cegas, o que lhe permitiu, no exercício do magistério, orientar com segurança seus alunos para se desenvolverem e se realizarem na vida social, conforme o potencial e capacidade de cada um. O Professor Silva, como era chamado por todos, teve papel de importância significativa na História do Instituto Benjamin Constant em defesa de suas tradições, preservando e valorizando os feitos e os vultos ilustres que projetaram os cegos e a própria escola na sociedade. Chefe de família exemplar, foi casado com uma colega de magistério, também cega, Professora Maria Renda, com quem teve quatro filhos, todos criados e educados num lar harmonioso e feliz e que, pela educação recebida e orientação perfeita de seus pais cegos, realizaram-se plenamente, com cultura e instrução de nível superior. Liderando ou tendo participação efetiva, Francisco José da Silva esteve, sempre, presente aos movimentos em defesa do Instituto ou de questões relativas aos cegos na sociedade. Foi o primeiro cego a participar como sócio da Associação Brasileira de Educação, ABE, onde manteve estreito relacionamento com inúmeras figuras importantes da Educação, da Cultura, da Política e da vida pública brasileira. Nos períodos de férias escolares, no final dos anos letivos, quando ia ao Ceará visitar familiares, aproveitava a passagem pelo nordeste do Brasil para fazer campanha de divulgação em prol de se encaminharem crianças e jovens cegos para atendimento especializado nas escolas destinadas à Educação desses deficientes. Com isso, proporcionou a realização pessoal de muitos cegos que, tendo oportunidade de instrução e formação cultural, puderam viver independentes, economicamente, no desempenho de profissões compatíveis com a cegueira, nas mais diferentes atividades humanas, perfeitamente integrados na vida comunitária. Seu grande e dedicado interesse pela projeção social dos cegos, levou-o a promover e participar, intensamente, do movimento de reivindicação e de luta em favor dos deficientes visuais, surgido nos anos 50 do século XX, na cidade do Rio de Janeiro, com repercussão em todo o País, movimento que resultou na criação, em 1954, do Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos, sendo um dos seus fundadores. Francisco José da Silva, "o Chinês", o querido e saudoso Professor Silva, deixou em sua passagem como aluno e funcionário do Instituto Benjamin Constant, um exemplo de honradez, dignidade e de dedicação ex- trema à causa das pessoas cegas, exemplo a ser seguido por modelo de luta pela preservação e continuidade da escola idealizada por José Alvares de Azevedo, tornada realidade no ato de fundação do Imperador do Brasil Pedro II, consolidada e projetada, socialmente, pela administração de Benjamin Constant Bote- lho de Magalhães. :::::::::: Homenagens A Benjamin Constant Benedicta de Mello Professora do IBC, já falecida Eu te agradeço, Benjamin Constant, eu te agradeço todo bem de outrora, que há tantos anos feitos, sinto agora, e sentirão os cegos do amanhã. Toda luz de saber, fulgente aurora com que me batizaste a alma pagã, e os teus esforços que puseram fora a troco apenas, de promessa vã. Eu te agradeço as expressões sinceras que em teus escritos vem-nos repetindo, certa de que és ainda o que antes eras. Eu te agradeço o que de ti tem vindo pela via eternal de outras es- feras, onde tu vives cada vez mais lindo. *** Acróstico (homenagem ao IBC) Paulo Guedes de Andrade Professor do IBC, já falecido Impõe-se em nossa pátria o Teu valor! Notável é Teu nome fulguran- te! Semente que brotara com vi- gor, Traçando rumo certo, triun- fante! Injusto enfim seria alguém negar Teus feitos, Tua ação, Tua memória, Unidos ao mais vasto labor! Tu és em tudo obra meritória: O sol em nossas vidas a bri- lhar! Bendita seja a fúlgida lem- brança; Empenho, fibra, luz, força e favor, No mais feliz alento da espe- rança, Jamais desmerecidos no amor! A luta pela bênção do labor, Moveu todo o recurso deseja- do. Intensa e bravamente vence- dor, Não desististe e foste com- pensado. Conclama pois os nossos ben- feitores, Os pioneiros desta lida san- ta: Na terra, no mar, onde quer que fores! São os heróis aos quais se louva e canta. Tu foste para nós um lar que- rido, A sensação maior da nossa história! Não és apenas nosso preferi- do! Tu és agora e sempre nossa glória... *** Ao Instituto Benjamin Constant Mayá Devi de Oliveira Professora do IBC -- Aposentada e atualmente Voluntária Na América Latina foi Pio- neira A escola para cegos do Brasil. Ao surgir precisou já ser guerreira, Fazendo face ao preconceito hostil. Tornou-se na verdade um ba- luarte. Segundo lar daqueles que vi- viam Sem ela num estreito mundo à parte, Onde nem seus direitos conhe- ciam. Hoje ainda prossegue firme a luta Para sempre manter-se Edu- candário. Liderante, triunfante, reso- luta, Chegando agora ao sesquicen- tenário. E a data, fonte plena de emo- ção, Renova inspiradora nosso elan. E assim faz eclodir a sauda- ção: Viva o Instituto Benjamin Constant *** Aos 150 anos do Instituto Benjamin Constant Ary Rodrigues da Silva Ex-Aluno do IBC 1854, Um sonho torna-se realidade: A instrução é a preciosidade Que dá aos jovens um novo elan! Novo cenário mostra o teatro: Os cegos já podem ser ins- truídos! Em salas de aula já são rece- bidos, Se abre o Instituto Benjamin Constant. Com que emoção o evento re- lembro Daquele 17 de setembro Que nos abriu o sol da ins- trução! O sol de cuja luz não nos fartamos E, sob a qual, felizes feste jamos Os 150 anos de visão. *** A Vocação do IBC Ana Cristina Hildebrandt Professora do IBC Quando foi criado, em 1854, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos já era uma escola pioneira: atendia a jovens cegos e era mista. Mista porque nela estudavam os hoje chamados carentes -- por conta do Estado -- e os filhos de famílias ricas -- que pagavam pelo bom internato, como era costume entre os nobres; e mista, também, porque admitia moças e rapazes, o que não era bem visto pela sociedade da época. Imagino as preocupações dos pais que queriam enviar suas filhas para cá: "Não há perigo, senhora Baronesa, são todos cegos", deviam argumentar os mais progressistas. Mas do descrédito surgiu nova realidade. A escola formou profissionais, empregou, mesmo, seus ex-alunos, preparou donas de casa e ofereceu, à sociedade brasileira, muitos intelectuais, pessoas que se interessaram em trazer novos alunos para o Instituto e que criaram, em seus Estados, escolas e associações que garantissem o ensino e a profissionalização de outros cegos. Hoje, poderíamos enumerar -- e gastaríamos muito tempo e papel para fazê-lo --, as instituições filhas do IBC, porque criadas por seus ex-alunos. São entidades que visam objetivos econômicos, culturais, políticos, religiosos e de lazer. Ao longo dos 150 anos de sua existência, para acompanhar as mudanças sociopolítico-econômicas do país e continuar fiel aos propósitos de seu fundador, José Alvares de Azevedo, a escola -- que se chamou Instituto, talvez por não se restringir ao ensino acadêmico --, sofreu inúmeras modificações em suas estruturas. Mas ainda atendemos jovens cegos, desde a mais tenra infância até a idade adulta; oferecemos o ensino fundamental, que lhes permite o ingresso nos níveis médio e superior; preparamos para o trabalho, conforme as recomendações legais. Do IBC ainda vão professores dar aulas a cegos em seus Estados de origem, embora, atualmente, estes professores sejam, em sua maioria, videntes e venham até nós por iniciativa própria ou mandados pelas secretarias de Educação. É lógico que, em muitos aspectos, nossa eficiência pode ser questionada e deve ser melhorada. Mas não me proponho a discutir isto agora. Só tento mostrar que, potencialmente, a Instituição onde trabalhamos e-ou estudamos é a mesma de 150 anos atrás; é a escola pioneira sonhada por Azevedo. Em termos práticos, a vocação escolar do Instituto é incontestável. E não me refiro ao valor de nosso curso fundamental -- que ainda é de qualidade. É que tudo o que fazemos aqui é pedagógico: Quando distribuímos livros e outros materiais didáticos, quando oferecemos entretenimento e cultura aos cegos através das revistas em Braille ou produzimos uma revista especializada, estamos difundindo nossa sesquicentenária experiência e promovendo a aproximação de pessoas afins em sua condição social ou in- teresses profissionais. *** Discurso da Aluna do IBC Vanessa Rodrigues da Silva, por Ocasião da Sessão Solene de Comemoração do Sesquicentenário do IBC Ex.mo Sr. Ministro da Educação, Dr. Tarso Genro, Il.ma Secretária de Educação Especial, Prof.a Cláudia Dutra, Il.ma Sr.a Diretora-Geral do IBC, Érica Deslandes Magno Oliveira, demais membros da Mesa, ilustres autoridades e convidados, caros funcionários, prezados professores, queridos colegas: Falar sobre o Instituto Benjamin Constant é algo que me enche de prazer, ao mesmo tempo que me sensibiliza, im- pulsionando-me à retrospectiva de seu passado, deixando-me presa na contemplação de sua jornada árdua, porém brilhante. Faz-se, então, bastante presente em minha consciência, tamanha responsabilidade de expressar a gratidão de tantas gerações. Pelo profundo e intenso sentimento que dedicamos a esta Casa que, com seu esplendor, mudou a vida de muitos aqui presentes, como eu, bem cedo encaminhada para o IBC e praticamente nesta Casa criada, aceitei o desafio de falar hoje: O Instituto Benjamin Constant, nos seus 150 anos, tem passado por momentos bons e maus, difíceis e festivos, sem contudo alterar seus objetivos, cumprindo fielmente seus compromissos para com todos nós, porque "até aqui nos ajudou o Senhor". Graças a Deus e ao labutar dos idealizadores e fundadores desta Casa, como: D. Pe- dro II, Dr. Xavier Sigaud, José Alvares de Azevedo, Benjamin Constant, Botelho de Magalhães e tantos outros agora podemos desfrutar de uma educação digna das armas necessárias para lutar no mundo que nos aguarda, alcançando um futuro promissor, despertando para a vida real, vencendo um obstáculo a cada dia, dando vazão ao espírito de esforço que está no íntimo de cada um. Só a partir daí, poderemos dar à nossa vida a direção que queremos: o início da vida cidadã! É importante, por tudo isso, refletir sobre o que fazer de nossas vidas desde hoje, quando somos ainda estudantes, mas já criaturas capazes de pensar e agir, desde que estejamos dispostos a crescer e a valorizar tudo que o Instituto Benjamin Constant sempre fez por nós. O primeiro passo já foi concretizado pelos que lutaram até aqui e muito nos auxiliaram a caminhar. Certamente, os fundadores desta Instituição, devem ter ansiado por tudo aquilo que possuímos hoje. Portanto, devemos nos mover guiados pelo amor em nosso peito, e não aguardarmos que o amanhã venha pronto para nós, feito por outros. Não nos restrinjamos às homenagens desta data. Sejamos capazes de, no dia-a-dia desta Casa, mostrar que a valorizamos e que a queremos de pé, por muito tempo, para que ou- tros, como nós, sejam recebidos nesta Casa. Não nos basta aplaudir os discursos das datas comemorativas. É imprescindível guardar as palavras ouvidas e pô-las em prática. Isso seria, a meu ver, a verdadeira vida cidadã, que deve começar entre as paredes deste Educandário, nas mínimas ações de nossa vida. Só então estaremos preparados para trabalhar por uma sociedade mais justa, por mais oportunidades para as pessoas cegas e por tudo aquilo que desejamos no mundo. Observando tantos exemplos que nos cercam, de pessoas que, em tempos muito mais difíceis, conseguiram se destacar, vemos que é possível continuar e buscar, sempre no trabalho, a nossa maneira mais digna de viver, preferindo a colaboração à piedade, o atendimento às reivindicações justas, no lugar da caridade, que nos tornam inferiores. Já encontramos o caminho iniciado, bastando agora que façamos nossa parte, aproveitando a grande herança que recebemos: nossa Escola como a conhecemos, cheia de dificuldades, porém nossa. Façamos o que se espera de nós, torcendo para que, com isso, todos reconheçam o valor do Instituto e lhe dêem o devido apoio. Asseguremos, aos cegos de amanhã, este presente de Deus. Obrigada :::::::::: Agradecimentos A RBC agradece aos professores: Edison Ribeiro Lemos, que, com seu profundo conhecimento sobre a História do Instituto Benjamin Constant, nos orientou e participou ativamente da elaboração desta edição especial, a qual, sem o seu apoio, jamais seria possível. Jonir Bechara Cerqueira que, gentilmente, nos forneceu os documentos necessários à pesquisa. Paulo F. Ferreira, que, com sua imensa boa vontade, revisou mais esta edição da RBC. ::::::::::