Revista Brasileira
para Cegos
Ano LXX, n.o 528,
Dez. de 2012
Ministério da Educação
Instituto Benjamin Constant
Publicação Quadrimestral de
Informação e Cultura
Editada na Divisão de Pesquisa, Documentação e Informação
Impressa na Divisão de
Imprensa Braille
Fundada em 1942 pelo Prof.
José Espínola Veiga
Av. Pasteur, 350/368 -- Urca
Rio de Janeiro -- RJ
CEP: 22290-240
Tel.: (55) (21) 3478-4458
E-mail: ~,rbc@ibc.gov.br~,
Site: ~,http:ÿÿwww.ibc.gov.br~,
Livros Impressos em Braille: Uma Questão de Direito
PAÍS RICO É PAÍS
SEM POBREZA
Diretora-Geral do IBC
Maria Odete Santos Duarte
Comissão Editorial
Ana Luísa Mello de Araújo
Ana Paula Pacheco
Claudia Lucia Lessa Paschoal
João Batista Alvarenga
Leonardo Raja Gabaglia
Maria Cecília Guimarães Coelho
Vitor Alberto da Silva Marques
Colaboração
Ana Paula Souza Almeida
Ana Bárbara Nicolay Levinspuhl
Publicação e distribuição em braille, conforme Lei n.o
9.610 de 19/02/1998 e Normas Técnicas para Produção de Textos em
Braille, MEC/SEESP, 2006.
Arquivo da revista disponível
para impressão em braille: ~,http:ÿÿwww.ibc.gov.brÿ~
?itemid=381~,
¨ I
Sumário
Editorial ::::::::::::::::::: 1
Esta senhora EM revista:
crônica para uma
homenagem :::::::::::::::::: 3
A pelada como ela é ::::::::: 11
Tributo ::::::::::::::::::::: 17
Entrevista com o Professor
Paulo Felicíssimo
Ferreira :::::::::::::::::: 17
Acessibilidade e
Inclusão :::::::::::::::::: 38
Corrida com barreiras ::::::: 38
IBC em Foco ::::::::::::::: 46
Fórum pelo Dia Nacional
da Luta da Pessoa com
Deficiência ::::::::::::::: 46
Estimulação precoce -- O
que é? ::::::::::::::::::::: 48
Culinária ::::::::::::::::::: 50
Bolo de fubá de
preguiçosa ::::::::::::::::: 50
Pão de queijo ::::::::::::::: 52
Macarrão parisiense ::::::::: 53
Datas Comemorativas :::::::: 54
Vida e Saúde ::::::::::::::: 55
Frutas e verduras reduzem
o desejo de fumar :::::::::: 55
Glaucoma: sintomas sutis,
riscos reais ::::::::::::::: 57
RBC Informa ::::::::::::::: 64
Cinema falado ::::::::::::::: 64
Espaço do Leitor ::::::::::: 65
Editorial
Prezado leitor:
Sempre voltada para uma visão de futuro, a RBC mantém-se preocupada
em atender aos seus anseios, ao garantir a permanência de seções de
seu agrado e ao inserir novas seções que você certamente vai gostar.
Vale lembrar que sua opinião é muito importante e na medida do
possível será acatada.
Para você ter uma amostra do conteúdo da nova RBC, além das seções
já costumeiras, teremos algumas seções fixas e alguns artigos
isolados, bem a seu gosto. Entre as seções, teremos: Vida e Saúde,
abordando os cuidados que devemos ter com nosso corpo, com nosso
organismo em geral; Acessibilidade e Inclusão, explorando temas
ligados predominantemente ao segmento das pessoas com deficiência,
focando questões legais e os avanços tecnológicos que facilitem a
busca por uma melhor qualidade de vida, nos campos, escolar,
profissional e individual.
Também serão mantidas as seções: Culinária, com suas tradicionais
receitas; IBC em Foco e RBC Informa.
Como uma ponte de comunicação entre a RBC e você, não poderia
faltar uma seção que também permita esse bom relacionamento entre os
diferentes leitores: Espaço do Leitor. Por esta seção, tomaremos
conhecimento de suas sugestões e críticas, bem como, de seus dados e
manifestações de intenções de contatos com todo o universo de
leitores da RBC. Como se pode constatar, a revista está recheada de
novidades! Agora, só nos resta trabalhar no sentido de superarmos, a
cada dia, nossas possíveis falhas, para o quê, estaremos empreendendo
toda a dedicação e esforço; afinal, você é a meta de quem aqui
trabalha e de quem pensa que o Braille é o sistema de leitura e
escrita insubstituível para as pessoas cegas.
Vamos pensar e crescer juntos, pela informação livre e pela cultura
edificante.
Comissão Editorial
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
Esta senhora EM revista:
crônica para uma homenagem
Em comemoração aos 70 anos da *Revista Brasileira para Cegos* (RBC),
reproduzimos a crônica da professora Joana Belarmino de Sousa
publicada na *Revista
Benjamin Constant*.
Nasceu sob o signo ensombrado da guerra, numa casa em reforma, e
não havia canção de ninar, antes, o ruído ensurdecedor de máquinas de
impressão, cinzelando palavras em relevo nas suas folhas brancas e
novas.
O ano era 1942, e abril iniciava seus dias. Mal sabia falar,
contudo desceu às pressas das suas fornalhas, para expor a situação
das pessoas cegas do Brasil na “Era Vargas”, dar voz aos rumores da
guerra, abrir-se ao discurso do ministro de Educação e saúde
brasileiro acerca da Lei Orgânica do Ensino Secundário.
Amenizou sua face sisuda com algumas expressões pitorescas; o
tempo, todavia, não era para muitos sorrisos. Era preciso dizer algo
acerca dos brasileiros da *Quinta Coluna*, e necessário fazia-se falar
dos bombardeamentos, recuar aos primórdios da luta pela
Independência, até a execução de Tiradentes.
José Espínola Veiga, seu mentor intelectual, seu pai espiritual,
inspecionou pela última vez seus trajes de partida. Vestia-se com as
palavras do seu tempo. Cumpriria bem a sua missão?, indagou-se o
mestre, enquanto sopesava o pequeno maço de páginas encadernadas.
E eis que as roldanas do tempo giraram, e por centenas e centenas
de vezes ela vestiu-se e deixou a casa do seu pai. Em abril passado
completou 70 anos e é portadora de uma trajetória que lhe confere o
merecido título de “uma senhora revista”.
A *Revista Brasileira para Cegos*, RBC, é uma publicação em Braille
do Instituto Benjamin Constant, primeira escola fundada no Brasil
para a educação de crianças, adolescentes e adultos cegos. É
distribuída gratuitamente para mais de 2 mil leitores cegos no País e
circula em mais 21 países de línguas espanhola e portuguesa. Pode-se
dizer: é uma revista intergeracional, porque, ao longo desses anos,
apoiou, complementou e disseminou a cultura, o entretenimento, a
educação para centenas de milhares de pessoas cegas no Brasil e no
mundo.
Essa senhora revista ainda cumpre a proeza de ser a única existente
no Brasil, em Braille, e distribuída gratuitamente. “Quanto ela
custa?”, perguntam os ordenadores das suas despesas. “Quanto ela
vale?”, indagamos cegos brasileiros, tocando suas páginas brancas e
novas, crivadas de palavras em relevo.
Cumpre-me, pois, nesta matéria, homenagear essa senhora, eu que
comecei a desbravar suas páginas na minha adolescência. Era o meu pai
que geralmente me entregava o pacote de correspondências, fazendo voz
de carteiro, escondendo as cartas para que eu me desesperasse, até
que, com uma agilidade que sempre me surpreendia, atirasse o pacote
sobre a minha cabeça, nós dois estourando de risos.
Lembro-me de um episódio curioso, engendrado no âmago da rebeldia
dos meus pouco mais de 20 anos, quando, revoltada, com o pequeno
número de publicações em Braille existentes no País, produzi e
distribuí, em um evento de pessoas cegas (1981), um manifesto no qual
atacava com ferocidade a RBC e o Relevo, publicação da Fundação
Dorina Nowill para Cegos.
Naquele tempo, eu só tinha uma vontade grande de mudar o mundo com
meus brados. A revista seguiu seu curso, eu segui o meu, mas,
surpreendentemente, estivemos juntas todo esse tempo.
Agora mesmo, dou uma parada no texto, faço clique no site do IBC,
desdobro páginas digitalizadas, sobrevoo a esmo títulos e partes de
suas matérias...
Acode-me, então, uma vontade de segurar a revista, abrir suas
páginas, deixar que meus dedos deslizem suavemente por suas linhas
pontilhadas, meus indicadores apontando um tempo intercalar, entre o
passado e o futuro, tempo no qual cabe o gesto primordial inventado
por Louis Braille, o tempo dessa célula fundamental de seis pontos
conformados à polpa do dedo, destravando vontades, imprimindo na
cultura um novo modo de se ler o mundo, tocando as palavras,
reinventando, nessa gramática de associação e combinação, um novo
diálogo entre mão e cérebro.
Decifro palavras, entretanto é como se, nesse gesto primordial,
meus dedos apontassem toda essa trajetória, do invento de Braille até
nossos dias. Um tempo em que foram necessários tantos outros gestos
fundamentais, em oficinas de impressão, em mesas de escolas, em
praças, o braille sendo lido ali, perto do mar, enquanto as ondas
quebram na areia, ritmando a eternidade do seu ir e vir.
Leio frases inteiras; no entanto, para além do lido, sinto como se
meus dedos apontassem, em cada combinação de pontos braille,
impressores, revisores, encadernadores, embaladores, distribuidores,
recicladores, leitores, chusmas de leitores da *Revista Brasileira
para Cegos*, nesses 70 anos, em mais 70 anos futuros, em computadores,
em tablets, em displays braille, a pequena célula fundamental
multiplicando-se, assumindo essas outras tantas formas de narrar o
mundo, em som, em texto, em relevo.
Contemplo de novo a pergunta, quanto vale a RBC? E é como se
ouvisse a voz dos seus idealizadores, dos seus divulgadores, dos seus
leitores, a dizer, como num jogral: a RBC não tem preço. A RBC vale
cada grão de cultura plantado e germinado, cada ponto braille sulcado
e lido, cada progresso alcançado, ontem, agora e no futuro.
Joana Belarmino
_`[{joana Belarmino de Sousa é jornalista; bacharel em Comunicação
Social (Jornalismo) pela Universidade Federal da Paraíba, 1981;
mestra em Ciências Sociais pela mesma universidade, 1996; doutora em
Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 2004. Desenvolve pesquisas nas áreas de acessibilidade à
comunicação, ciberativismo, cegueira e percepção tátil, cegueira,
arte, literatura e comunicação. É professora adjunta do Curso de
Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba, tendo iniciado
a docência em 1994_`]
Fonte: *Revista Benjamin
Constant*, Rio de Janeiro,
v. 18, n.o 52, p. 38-40, ago. 2012.
Nota dos Editores da RBC
Esclarecemos que a autora, ao afirmar ser a RBC a única publicação
em Braille, se refere às revistas direcionadas ao público adulto.
Informamos, ainda, que há no Brasil duas outras publicações em
Braille bastante conhecidas: a revista “Pontinhos”, editada pelo IBC
e direcionada ao público infanto-juvenil, e o boletim “Ponto a
Ponto”, projeto patrocinado pela Petrobrás.
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
A pelada como ela é
Sérgio Pugliese
Lição de superação: com a ajuda da escolinha de futsal do Grajaú
Tênis Clube, pai e filho mostram a arte de derrubar obstáculos
Da arquibancada do Grajaú Tênis Clube, o procurador federal Carlos
Augusto Pereira, de 38 anos, prestigiava o filho Antonio, de 10. O
moleque estava solto e há tempos não se sentia tão feliz e integrado.
Para brindar a atuação acertou um belíssimo voleio no ângulo, após
cruzamento milimétrico do ala Joãozinho. Que gol! A torcida vibrou, o
paizão arrepiou-se e girou a cabeça em busca de detalhes.
-- O Antonio fez um gol de placa -- adiantou o treinador da
escolinha, Sérgio Sapo, da beira da quadra.
Logo em seguida, sentiu o abraço apertado do garoto e a
confirmação, aos soluços: “Fiz um golaço!”. O pai o envolveu como um
polvo e os dois choraram juntos. Cego desde 1995, vencido por um
glaucoma congênito, doença genética rara que atinge bebês e os deixa
com os globos oculares aumentados e as córneas embaçadas, Carlos
Augusto especializou-se em superar barreiras. Estar ali era uma
dádiva. A cria segue o mesmo caminho da perseverança e luta contra
graves problemas respiratórios de nascença e excesso de timidez.
-- Eles são muito unidos, se completam -- comentou Sapo,
emocionado, enquanto observava o prolongado abraço.
A amizade entre os dois é realmente louvável. Carlos Augusto nasceu
enxergando apenas 10% e mesmo assim aprendeu Braille, no Instituto
Benjamin Constant, porque os especialistas alertaram que a perda
total da visão era questão de tempo. Usava venda nos olhos durante as
aulas e costuma citar uma expressão do psicanalista e professor Helio
Pellegrino para enfatizar a importância do sistema de leitura para
cegos em sua vida: “Foi minha ponte sobre o abismo”. Aos 11 anos,
começou a jogar bola com guizos e carrega maravilhosas recordações
dessa época.
-- Fazia meus golzinhos -- garantiu.
E cresceu colecionando conquistas. Nenhuma simples. Mas superou
desconfiança e preconceito, meteu a cara nos estudos, tornou-se
procurador federal e ainda sonha ser juiz. Nessa fase de mergulho nos
livros, sentiu-se mal, desmaiou e na queda rasgou a córnea na quina
do computador. Hoje usa prótese. E as provas de superação
prosseguiram. Por conta de estresse viu nascer um tumor na coluna e a
cirurgia foi inevitável, pois estava perdendo o movimento da perna.
Mais uma vitória.
-- Problema maior vivia meu filho Antonio. Retraído ao extremo, era
zoado por outras crianças e respirava com dificuldade -- lembrou
Carlos Augusto, casado com a professora Eliane e pai também de
Bernardinho, de 10 meses.
Na tentativa de solucionar o problema, terapia, apoio psicológico,
judô, natação... nada funcionava. Amor da família nunca faltou, mas
no colégio vivia isolado e sofreu *bullying*. O pai acreditava na
força do futebol para inseri-lo e lançou mão de uma velha
companheira, a bola de guizo. No quintal de casa, treinavam
diariamente e até a labrador Pretinha participava. O menino passou a
ganhar confiança no chute, nas jogadas e topou ser matriculado numa
escolinha, barreira dificílima de ser quebrada. O pai não faltou a
uma aula. Vê-lo sentado na arquibancada era o porto seguro de
Antonio. Os primeiros contatos foram tensos, mas o carinho dos
meninos Alan, Joãozinho, Pedro, Vitor, Raphael, Carlos, Caio, do
professor Sérgio Sapo e sua equipe foram determinantes para a
apreensão transformar-se em confiança.
-- A cada dia ele vem conquistando mais espaços; hoje se relaciona
e ganhou autoestima. O futsal o obriga a pensar mais rápido --
comentou orgulhoso.
Da arquibancada, Carlos Augusto acompanha há sete meses a evolução
do filho. Não perde um lance! Garante que seu cérebro continua
produzindo imagens involuntariamente e a memória do curto período em
que enxergou o leva a imaginar rostos e cenas. Mas não se preocupa se
o filhote faz golaços ou jogadas de efeito. Quer apenas o seu
desenvolvimento, diversão é lucro. Vascaínos doentes, também já
sofreram com o time antecessor ao Trem Bala da Colina. Estavam em São
Januário quando o Vasco caiu para a Segunda Divisão e vibraram juntos
com o retorno de Fernando Prass & Cia ao grupo de elite. Altos e
baixos, vencedor e vencido, funciona assim. De mãos dadas, na volta
para casa após mais um dia de treino, o pimpolho, numa tabelinha
genial, esquivou o pai de um poste enquanto ouvia seus conselhos
sobre obstáculos e mercado competitivo.
Fonte: Jornal *O Globo*,
p. 6, 18/08/2012. Coluna
Esportes.
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
Tributo
Nesta edição homenageamos uma pessoa muito especial para a RBC e a
*Pontinhos*, o professor Paulo
Felicíssimo Ferreira, ex-aluno e ex-professor do Instituto Benjamin
Constant, que por quase vinte anos
colaborou como revisor final de textos, sempre com muita presteza,
talento e dedicação. Para tal,
transcrevemos a entrevista por ele concedida à colunista do Jornal
*Contraponto* e ex-aluna do IBC, Ivonete Santos.
Entrevista com o Professor
Paulo Felicíssimo Ferreira
1- Onde nasceu e onde reside atualmente?
R: Nasci em 28 de setembro de 1943, na cidade do Rio de Janeiro,
onde agora também resido.
2- Já nasceu com deficiência visual? Fale um pouco sobre sua
infância
e a convivência com a família e amigos.
R: Como uma das muitas vítimas do sarampo, perdi a visão com dois
anos e dois meses de idade, havendo minha mãe falecido na mesma
semana, perdas que muito sofrimento trouxeram a meu pai assim como
aos tios mais próximos e, bem provavelmente, hão de ter deixado
marcas significativas em minha infância, pois ainda me recordo de
haver experimentado, durante ela, episódios ocasionais de uma
inexplicável tristeza. Ademais, não é impossível que as manifestações
alérgicas, representadas por urticárias e terríveis crises asmáticas,
que me perseguiram até o final da adolescência, estejam ligadas a
tais fatos.
Não obstante, quanto a carinho e assistência, se houve crianças
deficientes mais felizes que nós (meu irmão tinha deficiência mental
congênita), foram poucas. Afinal, a irmã de nossa mãe, apesar da
grande pobreza, tomou a si o dever de criar-nos e o levou a tal ponto
que só concordou em casar quando encontrou quem também nos aceitou
como filhos. Detalhe: nunca exigiram que os chamássemos de pai ou mãe!
Minha mãe, embora muito inteligente, nunca pudera estudar, mas teve
uma percepção bastante clara das nossas necessidades e
possibilidades, ensinando-nos de tudo e quase nada proibindo, mesmo
quando, velada e carinhosamente, protegia-nos de eventuais perigos.
Meus primos foram os amigos de infância, e com eles "joguei bola",
brinquei de patinete e com os carrinhos de rodas de lata, que também
fazia, dividindo as batidas do martelo, quase por igual, entre os
pregos e os dedos.
3- Foi aluno do Instituto Benjamin Constant? Se positivo, diga em
qual período e como tomou conhecimento da escola especializada para
cegos.
R: Fui matriculado no IBC em 1949, havendo tomado conhecimento do
Braille (que sempre escrevo com inicial maiúscula) num dos cultos
evangélicos a que assistíamos numa congregação próxima de casa, no
qual pregou um senhor cego chamado Mário Ferrão. Mas creio ter sido
uma senhora de nome Lígia, da igreja metodista de Vila Isabel, a que
então pertencíamos, quem encaminhou meu pai ao Instituto, onde,
atrapalhado por problemas de saúde, só concluí o curso ginasial em
1961.
4- Onde deu continuidade aos estudos e qual sua formação?
R: Fui matriculado pela direção do IBC no curso clássico (2º grau
da época) do Colégio Melo e Souza, mas não logrei ficar ali por muito
tempo, porquanto minha pobreza, que não me permitia sequer merendar,
em nada combinava com a disponibilidade econômica de alunos que, ou
"haviam chegado de Paris nas últimas férias", ou "viajariam aos
Estados Unidos nas próximas". Inquirido, algumas vezes, sobre por que
não lanchava, eu dizia não sentir fome, quando esta na verdade
sobrava.
Eu tinha certeza de que, se dissesse não possuir dinheiro para
merendar, este nunca mais faltaria; a vergonha de pedir, contudo, era
ainda maior que as necessidades, e preferi deixar a escola,
submetendo-me às provas do curso supletivo quatro anos mais tarde,
assim recuperando um pouco do tempo perdido.
5- Por que escolheu a carreira de professor de inglês?
R: No que respeita ao saber, minhas duas grandes paixões sempre
foram filosofia e linguagem; aquela por me haver propiciado o hábito
da reflexão nos tempos de crise existencial da adolescência, esta por
ainda me ensejar, pelo esquadrinhamento da palavra, uma penetração
cada vez mais profunda nas ideias.
Curiosamente, fui despertado para o desejo de aprender outras
línguas quando, não tendo mais que 12 anos, ouvi o pastor da igreja
ler um texto da Bíblia em inglês, idioma obviamente mencionado por
ele. Nunca mais me esqueci da palavra "we" (nós).
Como sempre gostei dos grandes desafios e ser autodidata parece ser
um deles, eu ainda estava na quarta série primária quando comecei a
tomar emprestados livros de inglês, francês e latim, línguas com as
quais não tive a menor dificuldade nos cursos posteriores.
Para adquirir vocabulário e aprender novas construções em inglês,
eu, que nem sequer dicionário tinha, valia-me da versão *King James* do
Novo Testamento, presenteada por um pastor americano, copiando em
Braille textos dos mesmos evangelhos que já possuía em português e,
mediante um processo de comparação entre as duas versões, deduzia, do
que já me era conhecido, aquilo que buscava saber. Agora o mais
importante: tais cópias me eram ditadas, letra por letra, pela
inesgotável paciência e pelo amor incondicional de minha mãe, que já
encontrava dificuldades na leitura do próprio português, pois fora
mal alfabetizada no interior.
A certa altura do ginásio, consegui que o saudoso padre Rosário me
desse umas poucas noções de grego e, já quase ao final dele, o
Instituto me obteve uma bolsa de estudos no IBEU (Instituto
Brasil-Estados Unidos), onde entrei no quarto e último período do
curso básico de inglês, concluindo-o em quatro meses.
Eu diria, portanto, que não escolhi ensinar inglês; escolhi
aprender.
A vida é que se incumbiu de tornar-me professor, e bem
diversificado, como verão adiante.
O inglês não foi um fim em si mesmo, mas um meio para que eu
pudesse ler até 30 revistas Braille por mês, algo inimaginável em
nossa língua.
6- Em que ano tomou posse como professor do IBC e até quando
trabalhou lá?
R: Tomei posse em 1982 e, oficialmente, trabalhei apenas até 1997,
porque já trazia 15 anos de contribuição como trabalhador autônomo.
No entanto, mesmo depois de aposentado, lá permaneci,
voluntariamente, por mais de um ano.
7- Já deu aulas para alunos com visão? Fale-nos sobre essa
experiência.
R: Exemplo clássico de timidez e introversão, foi-me extremamente
difícil romper com a intelectualidade e tornar-me vendedor ambulante,
mas, ainda aqui, a vergonha da dependência econômica gritou mais
alto, e eu cedi, embora sem haver parado de estudar por conta
própria, o que me propiciou uma saída gradativa das vendas para as
aulas particulares, antes mesmo de ingressar na faculdade.
Aos alunos particulares, terei ensinado, provavelmente, mais
português que inglês e, como cada um deles tinha cultura e interesses
diferentes, eu, que ensinava redação e, por consequência,
interpretava e corrigia textos, vi-me compelido a aprender com eles
os conteúdos de que necessitavam. Foi assim que preparei
vestibulandos em áreas diversas, candidatos a fiscais da Receita
Federal e a técnicos do Tesouro Nacional, chegando a acompanhar
alguns em suas carreiras universitárias.
No inglês, língua na qual, devido ao número e à variedade das
publicações recebidas, li a respeito de quase tudo, lembro-me de
haver tido até um aluno dentista e dois artistas plásticos, entre
outros.
De 1974 a 1981, fui professor de inglês na Companhia Light do Rio
de Janeiro, onde ministrava aulas a técnicos e engenheiros de
eletricidade.
Tanto para os alunos particulares quanto para os da Light, eu
preparava textos em Braille e os datilografava, sendo que, no caso da
empresa, havia, também, os livros específicos de eletricidade, dos
quais eu transcrevia trechos para o Braille, a fim de ler e traduzir
com eles em sala.
Considero-me realizado como professor de alunos com visão normal,
pois houve até uma época na qual um grupo saía da Barra, em seus
carros, para estudar comigo em Realengo, onde eu morava, pagando-me o
preço cobrado, sem regateamento.
Mais ainda: já residindo em Nova Friburgo, a 150 km do Rio, duas
pessoas lá estiveram, remunerando meu trabalho e pagando por suas
passagens, uma para correções em sua dissertação de mestrado, outra
para revisão da monografia como técnica em administração da Receita
Federal.
Esclareça-se, em tempo, que jamais negociei trabalhos escolares,
limitando-me, antes, à correção dos textos a mim apresentados. Os
únicos textos pelos quais recebi o justo pagamento de minha produção
foram escritos para quatro ex-alunos particulares, a fim de serem
anexados a dois processos judiciais, por sugestões de seus advogados.
O primeiro sob o título "Critérios e Requisitos", em 1988, e o
segundo intitulado "Parecer Técnico sobre o Emprego das Aspas", em
2007.
8- Conte um pouco sobre como foi fazer faculdade numa época em que
não existia o recurso do computador com leitores de tela, nem
gravadores com as tecnologias atuais?
R: Por tudo quanto já aprendera, o curso em si não chegou a ser um
peso; residindo, porém, no subúrbio, o ir e vir e o ter de conciliar
os horários da faculdade e dos ledores com a profissão de trabalhador
autônomo foram, por vezes, problemas quase insolúveis.
Para que se tenha uma ideia do sacrifício, eu morava no terrível
(com licença da má palavra) "Conjunto Quitungo", em Brás de Pina,
onde só havia barro em frente à igreja Santo Antônio e, nos dias de
chuva, sobrava lama. Na saída para a faculdade em manhãs chuvosas,
era frequente enterrar os sapatos naquele lamaçal, ocasiões que
geravam diálogos como este:
Alguém: -- Moço, aí tem lama!
Eu: -- Eu sei! Eu quero saber onde não tem!
Em tais circunstâncias, eu tinha de ir à casa de minha mãe, em
Realengo, bairro na direção oposta a Piedade, local da Gama Filho, a
fim de limpar os calçados e voltar, obviamente com grande atraso.
Preocupado, em qualquer ocasião, com o respeito que, a meu ver, as
pessoas cegas devem buscar inspirar às de visão normal, não foram
poucas as vezes nas quais tomei por empréstimo a máquina de escrever
do amigo Joir Dias Coutinho, ex-aluno e professor aposentado do
Instituto, e sempre datilografei meus testes e exercícios, a fim de
descartar a necessidade de provas orais ou transcrições do Braille
para o sistema comum, assim evitando, da parte dos colegas videntes,
a suposição de que a nota me tivesse sido dada, e não merecida.
9- Qual sua opinião sobre o fechamento das escolas especiais e a
inclusão dos alunos com deficiência nas escolas regulares?
R: Não sou bom contador de histórias, mas creio que este diálogo
entre um rei e um filósofo, de cujos nomes infelizmente não me
recordo, possa bem ilustrar minha resposta.
Estando o filósofo a tomar sol, o rei se pôs diante dele e,
impressionado por sua sabedoria após algum tempo de conversa,
disse-lhe:
-- Pede-me o que quiseres e eu te darei!
E o sábio: -- Não me tires o que não me podes dar! (O sol)
Retirar algo de alguém ou de um grupo, quando não se lhes pode dar
coisa igual, ou melhor, é crueldade e covardia, e este é o caso do
fechamento das escolas especializadas.
Ocupei a direção do departamento técnico-especializado do Instituto
Benjamin Constant e, após deixá-lo, prestei consultoria técnica em
educação especial a quantos, interna ou externamente, dela
precisaram, para a feitura de monografias ou dissertações de
mestrado; por dois anos, ministrei aulas de educação especial no
Curso de Especialização de Professores na Área da Deficiência da
Visão; a convite do governo canadense, visitei, em 1994, escolas
especializadas do Canadá e dos Estados Unidos; já aposentado,
trabalhei, como revisor final e avaliador de adaptações, em diversos
projetos de transcrição de livros didáticos para o ensino regular e
ministrei aulas em três cursos de revisão para o mesmo fim.
À luz de toda esta experiência, posso assegurar-lhes que, em razão
da ignorância ou descrença da maioria dos profissionais do ensino
regular quanto às possibilidades dos alunos sem visão e com os
materiais de que não dispomos, a inclusão de crianças antes da 5ª
série do 1º grau está fadada a inaugurar a estagnação, se não o
retrocesso, na educação das pessoas com deficiência visual.
Sabemos que a obrigatoriedade do ensino regular para nós é de
inspiração americana e atende, prioritariamente, a objetivos
político-econômicos, bem disfarçados por discursos que pregam uma
suposta igualdade, de que são os instituidores os primeiros
descrentes. Tanto assim que o interesse na chamada inclusão escolar
se tem mostrado bem maior que a preocupação de incluir os já
escolarizados no pleno gozo de seus direitos civis. Assim, o governo,
suficientemente forte para impor a inclusão, não se vale de igual
poder para impedir, por exemplo, que agências da Caixa Econômica ou
do Banco do Brasil exijam dos cegos já escolarizados a presença de um
procurador para abertura de uma conta ou venda de um bem de sua
propriedade.
Não me acredito pessimista afirmando que, nos cursos
universitários, a maioria de nós logrou impor-se, não por um imediato
interesse despertado nos colegas e professores, senão pelo quanto de
cultura e intelectualidade pôde oferecer-lhes. A experiência
persuadiu-me de que, por vezes, a ingenuidade e o desejo de igualdade
com o outro nos traem, induzindo-nos a crer que, em nossa ausência,
as pessoas pensam e falam de nós o que na presença dizem. Vejam o que
me aconteceu enquanto professor numa subestação da companhia Light,
onde eu era muito respeitado.
Por haver ali trânsito de carretas e guindastes, a administração me
pediu que sempre aguardasse pelo acompanhamento de alguém para subir
à sala de aula. Obviamente concordei. Alguns meses depois, Pedro
Paulo, o funcionário designado para me encontrar na portaria, subiu
comigo e deixou-me no banheiro, iniciando uma conversa com outro
rapaz que chegou logo depois e (ficou claro) não me vira. O colega
mostrava as vantagens de trabalhar no andar superior e insistia em
que Pedro Paulo fosse para a seção dele. Como este não se
interessasse, veio o último e mortal argumento: "Assim você não vai
ter de andar com cego pra lá e pra cá."
Fiquei muito chateado, mas ignorava que o pior ainda estava por vir.
Já na sala de aula, dois dos engenheiros perceberam meu
aborrecimento e, após ouvirem minha explicação, um deles disse, à
guisa de conforto: "Ele só disse isso, professor, porque não sabia
que o senhor estava ali!" Então, compreendi que todos pensavam a
mesma coisa. Felizmente, a justiça operou em meu favor, e aquele moço
descendente de italianos, veio a integrar, logo depois, uma das
turmas de técnicos em eletricidade.
Um dia, já nem me lembro por quê, falei, de passagem, sobre
Espinosa, e ele me perguntou se eu conhecia o filósofo. Aproveitei e
despejei o quanto sabia, levando-o, dali por diante, a procurar-me
para conversar nos intervalos. Que inclusão cara!
10- Conte algum acontecimento marcante da sua fase de aluno do IBC e
outro do período em que era funcionário.
R: Eu era aluno e, pela excessiva bondade dos colegas, tornei-me
presidente do Grêmio Benjamin Constant durante algum tempo. Não sei
se por meu jeito reservado, mas eu era sempre bem recebido pelo Dr.
Raimundo Fontes Lima, o diretor de então. Um dia, precisando de um
favor nada administrativo e julgando-me, na minha ingenuidade de
adolescente, mais influente do que na verdade era, eu o procurei e
comecei:
-- Dr. Fontes, eu estou precisando de um favor, e como nós somos
amigos...
Ele me esperou acabar e, calma e educadamente, disse:
-- Bem, na verdade nós não somos propriamente amigos; somos bons
conhecidos!
Aprendi a lição e hoje, quando chamo alguém de amigo, não o faço
pelo que ele me possa oferecer, e sim pelo quanto eu lhe posso e me
disponho a dar.
Como professor, o que mais me marcou foi uma festa surpresa,
preparada pelos alunos de uma turma, que me receberam com parabéns e
muitas palmas em um aniversário meu, numa grande demonstração de
carinho.
11- Professor, todos os que foram seus alunos aprenderam algo mais do
que as lições de inglês. Gostaria de saber como o senhor conseguia
ser tão paciente conosco e o que o motivava a tentar esclarecer
nossas dúvidas.
R: Bem, eu explico isto assim: Emprego é o trabalho remunerado por
um patrão; trabalho é aquilo que deve ser realizado, a fim de se
fazer jus a uma remuneração, provenha ela de pessoa física ou
jurídica; serviço (ato de servir) é o trabalho com amor, seja ele
remunerado ou não. Tenho certeza de que, tanto nas vendas ambulantes
quanto no exercício do magistério, como autônomo ou já empregado no
IBC, sempre trabalhei para servir e, portanto, com amor. Ora, o
apóstolo Paulo afirma que "o amor é paciente".
12- Deixe uma mensagem para os leitores do *Contraponto*.
R: Se prestarmos, sempre, todo o serviço que pudermos, só pedirmos
aquilo de que realmente necessitarmos e agradecermos por tudo quanto
recebermos, seremos mais felizes, e os outros também. Assim,
desejando que as poucas experiências aqui relatadas possam servir de
estímulo aos jovens que lutam por uma vida digna, manifesto minha
mais profunda e sincera gratidão à editoria do Jornal *Contraponto*, na
esperança de haver satisfeito às gentis e oportunas questões apresentadas pela
Ivonete.
Fonte: Jornal *Contraponto*. Disponível em: ~,http:ÿÿ~
exaluibc.org.brÿcontrapontoÿ~
contraponto{-09{-2012.rtf~,
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
Acessibilidade e Inclusão
Corrida com barreiras
Isabela Bastos
Cidade tem 4 anos para adaptar calçadas e meios de transporte para
Jogos Paralímpicos
A quatro anos do início dos Jogos Paralímpicos do Rio, a cidade
ainda tem um longo caminho a percorrer para ser considerada acessível
a atletas, visitantes e cariocas com deficiências físicas, visuais e
auditivas. Além de tirar do papel novos equipamentos esportivos,
projetados com acessibilidade universal (dando ao deficiente
autonomia de circulação), o desafio paralímpico inclui adaptar
equipamentos prontos, como o estádio do Engenhão e o Parque Aquático
Maria Lenk. Será preciso ainda vencer as barreiras impostas pelas
calçadas da cidade, onde, segundo o Censo 2010 do IBGE, 89% dos 1,88
milhão de domicílios não têm rampas para cadeirantes em suas
imediações. Nos transportes, estações de trem terão que ser
repaginadas, a começar pelo ramal de Deodoro, o principal a atender
às áreas de competições do Maracanã e de Deodoro. E o Rio Ônibus terá
que acelerar a transformação da frota de 8.700 coletivos em 100%
acessíveis -- hoje esse percentual está em 60%.
As calçadas nada amigáveis do Rio serão alvo de um projeto de
reforma, batizado de Calçada Lisa, que pretende adaptar 700 mil mâ2
de passeios públicos nos próximos quatro anos. Segundo o secretário
municipal de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osorio,
deverão ser investidos cerca de R$89,6 milhões a partir de 2013 na
colocação de rampas para cadeirantes e piso tátil para orientação dos
deficientes visuais. As obras serão concentradas em bairros de grande
circulação de pedestres, a começar por Copacabana. Cinco mil rampas
serão instaladas em calçadas de outros pontos da cidade.
-- O Rio não é acessível. Temos um passivo grande nessa área. --
admite.
De acordo com o secretário, o "Calçada Lisa" focará em passeios
públicos de áreas onde a urbanização está consolidada. As instalações
olímpicas, como os Parques Olímpicos da Barra e de Deodoro, e
projetos de reurbanização, como o Porto Maravilha e o entorno do
Maracanã, já sairão do papel com acessibilidade total.
Sinal sonoro, só na Urca
Uma iniciativa que chega tarde diante das dificuldades diárias
impostas a cadeirantes e deficientes visuais. Uma amostra dos
problemas ficou evidente no teste feito, a pedido do *Globo*, pelo
funcionário do Instituto Brasileiro dos Direitos das Pessoas com
Deficiências (IBDD), João Carlos Faria da Rocha, nas calçadas de
Copacabana. A proposta era descer a Rua Figueiredo de Magalhães até a
Avenida Atlântica. Foi uma prova de esforço.
-- Temos rampas em alguns lados da calçada e de outros não. Você
não completa a travessia e tem que ir para a rua. Andar na calçada no
Rio é como fazer *slalom* (canoagem em meio a obstáculos) -- reclama.
Para os deficientes visuais, a situação é ainda pior. Sem piso
tátil e recheadas de obstáculos imprevisíveis, como fradinhos,
buracos, orelhões e jardineiras, as calçadas são um convite a
acidentes, na opinião da assistente de compras e deficiente visual
Márcia Marisa Costa:
-- O Rio só tem um sinal de trânsito sonoro, na Urca. No resto da
cidade somos obrigados a pedir a ajuda dos outros para atravessar. As
calçadas também não têm padronização.
Se a pé a dificuldade é enorme, nos transportes públicos a situação
não é diferente. Relatório feito mês passado pelo IBDD mostra que,
das 99 estações da SuperVia, apenas duas estariam capacitadas a
atender pessoas com deficiências: as de Manguinhos e Bonsucesso. Os
maiores problemas encontrados são falta de rampas de acesso, catracas
intransponíveis a cadeirantes e ausência de piso tátil para
orientação dos cegos e de sinais luminosos para os deficientes
auditivos. A SuperVia diz que reformará todas as estações até 2020,
num investimento de R$150 milhões. Mas promete acelerar o passo no
ramal de Deodoro, que deverá ter sua reformulação concluída no ano
que vem. Principal ramal que atenderá ao público durante a Copa do
Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, o ramal
tem 18 estações, que receberão piso tátil, rampas, elevadores,
banheiros adaptados, bilheterias mais baixas e portões de acesso
especial a cadeirantes. As primeiras intervenções começaram em
agosto, pelas estações de Piedade, Quintino e Cascadura.
-- Se os jogos fossem hoje, as pessoas com deficiências não
conseguiriam ir ao Engenhão ou ao Maracanã -- ressalta a
superintendente do Instituto Teresa Costa D'Amaral.
Na avaliação do IBDD, as estações do metrô estão em melhores
condições, por terem passado por reformas recentemente. Segundo o
superintendente da "Metrô Rio", Joubert Flores, as 35 estações
ganharam 236 equipamentos de acessibilidade, como plataformas
verticais para cadeirantes, elevadores, piso tátil e painéis em
Braille. Mas o metrô ainda precisa reformar antigas composições que,
apesar de possuírem avisos sonoros de fechamento de portas, não
dispõem de alertas visuais para os deficientes auditivos. Já os 19
novos trens chegam com avisos sonoros, visuais e mapas em Braille, mas
apresentam desníveis nas portas de acesso.
-- Os trens antigos serão adaptados. Os novos estão em fase de
calibragem. Eles atendem às normas brasileiras de acessibilidade, que
permitem desnível de até oito centímetros. Mas queremos trabalhar
abaixo disso – diz Flores.
Ônibus precisam ter piso mais
baixo
O IBDD lança críticas aos ônibus. Segundo Teresa D'Amaral, embora
muitos coletivos já disponham de elevadores, o ideal seria que a
frota fosse equipada com piso baixo, permitindo o acesso dos
deficientes sem a ajuda de terceiros. Ela diz ainda que o primeiro
BRT do Rio, o
Transoeste, apesar de ter ônibus acessíveis, tem rampas de acesso
íngremes. A distância entre as estações também é problemática:
-- Fui da delegação brasileira nas Paralimpíadas de Atlanta (1996).
Lá os ônibus tinham elevadores de cadeirantes e as filas eram enormes
para embarque e desembarque nas vilas paralímpicas. Precisaram
improvisar com rampas provisórias para acesso direto aos ônibus. O
receio é que isso aconteça no Rio. No Transoeste, apesar dos ônibus
com piso baixo, as rampas não permitem que o cadeirante circule
sozinho. E as estações são distantes até para quem não tem problema
físico.
Segundo o Rio Ônibus, os 40% dos coletivos da frota que não são
acessíveis serão substituídos até 2014 por veículos mais
modernos,
com plataformas de embarque para cadeirantes.
Fonte: Jornal *O Globo*.
p. 21, 16/09/2012. Coluna Rio: rumo a 2016.
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
IBC em Foco
Fórum pelo Dia Nacional da
Luta da Pessoa com
Deficiência
No dia 21 de setembro de 2012 foi realizado no Instituto Benjamin
Constant o Fórum pelo Dia Nacional da Luta das Pessoas com
Deficiência, cujo tema principal foi “Acessibilidade”. Diversas
instituições se fizeram representar para debaterem sobre o assunto:
Rafael Lemos
(MPRJ), Márcio Pacheco (ALERJ), Francisco José de Lima
(UFPE), Lilia Pinto Martins (CVI-Rio), Valmery Jardim Guimarães
(Defensoria Pública/RJ), Shirley Rodrigues Maia (AHIMSA), Amanda
Tojal (Pinacoteca/USP), Beth Canejo (FAETEC),
Stella Regina Savelli
(INES), Vera Flor
(UNESA) e Armando Nembri (INES).
Na oportunidade foram discutidas, através de palestras e de mesas
redondas, questões complexas como acesso a transportes públicos para
cadeirantes, acesso a espaços culturais com intérpretes de Libras
para surdos, atendimento para estudantes surdocegos, inclusive a
nível de terceiro grau, fone de ouvido na cabine de votação para DVs,
audiodescrição, concessão, no Estado do Rio de Janeiro, de passes
livres para pes-
soas com deficiência e o acesso diferenciado para
pessoas monoculares.
Fonte: João Batista Alvarenga e Claudia Lucia Lessa Paschoal.
::::::::::::::::::::::::
Estimulação precoce -- O que é?
A Estimulação Precoce é um atendimento realizado no Instituto
Benjamin Constant, desde 1985, com crianças de 0 a 3 anos e 11 meses.
Foi implantada através da iniciativa das professoras Maria Rita
Campello Rodrigues e Lízia Beatriz Ferraz Fontenelle.
O IBC é um dos pioneiros também neste trabalho, visto que os bebês
cegos ou com baixa visão não eram atendidos porque nada existia para
essa faixa de idade no Rio de Janeiro; as crianças eram mandadas para
casa, podendo retornar somente quando completassem 4 anos, idade
mínima para a entrada no Jardim de Infância.
Atualmente, a equipe é formada por 4 profissionais – Maria Rita
Campello Rodrigues, Patrícia Soares de Pinho Gonçalves, Maria
Margarete Andrade Figueira e Fausto Maioli Penello – que dividem
todas as atribuições.
O atendimento às crianças é feito em sessões semanais, individuais
e/ou em pequenos grupos, e os pais recebem orientação permanente para
lidarem com a criança. O material utilizado é adaptado, quando
necessário, e o ambiente é preparado para acolher a criança cega ou
com baixa visão em todas as suas necessidades.
A participação da família é fundamental na introdução da criança no
ambiente físico e social, desenvolvendo a sua autoestima e confiança,
para que responda bem à estimulação recebida.
Atualmente, o Instituto atende cerca de 80 crianças, porém os
profissionais já são poucos para uma demanda que cresce a cada ano.
O Benjamin Constant oferece curso (40 h) nesta área, todos os anos,
através da DCRH, Divisão de Capacitação de Recursos Humanos (mais
informações sobre os cursos nos telefones (21) 3478-4454 ou (21) 3478-4455ýã.
Fonte: João Batista Alvarenga e Claudia Lucia Lessa Paschoal.
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
Culinária
Bolo de fubá de preguiçosa
Ingredientes:
1 xícara de farinha de trigo;
1 xícara de açúcar;
1 xícara de fubá;
1 xícara de leite;
1 xícara de óleo;
1 ovo;
1 colher de margarina;
1 colher de fermento em pó.
Modo de preparo:
Deixe o forno pré-aquecido a 180 graus. Unte uma forma redonda com
buraco no meio. Coloque todos os ingredientes no liquidificador
(primeiro os líquidos) bata por alguns minutos. Depois é só despejar
na forma e levar ao forno por mais ou menos 30 minutos.
Tempo de preparo: 45 minutos.
Rendimento: 12 porções.
Fonte: ~,http:ÿÿgoo.glÿ~
tT8hG~,
::::::::::::::::::::::::
Pão de queijo
Ingredientes:
2 batatas médias cozidas e amassadas;
500 gramas de polvilho doce;
200 gramas de queijo parmesão ralado;
1 copo de leite;
Meio copo de óleo ou 2 colheres de sopa de manteiga;
2 ovos;
1 colher de sopa rasa de sal.
Modo de preparo:
Em uma vasilha coloque o leite, os ovos, o óleo, o sal. Adicione
polvilho aos poucos e vá amassando, acrescente o queijo ralado, e por
último as batatas amassadas até conseguir uma massa lisa e homogênea.
Faça bolinhas e coloque-as separadas no tabuleiro com distância de
dois dedos de uma pa-
ra outra. Asse em forno pré-aquecido por uns 20 minutos.
Bom Apetite!
Fonte: (Autor desconhecido).
::::::::::::::::::::::::
Macarrão parisiense
Ingredientes:
250 gramas de talharim;
1 colher (sopa) de manteiga;
Meia xícara (chá) de leite;
2 xícaras (chá) de sobras de frango (cozido ou assado);
Meia lata de ervilha;
Meia xícara (chá) de presunto picado;
1 lata de creme de leite;
Sal e pimenta a gosto.
Modo de Preparo:
Cozinhe o macarrão em 2 litros e meio de água com sal. Enquanto
isso, derreta a manteiga e, misturando sempre, junte o leite, o
frango, a ervilha, o presunto e o creme de leite. Tempere com sal e
pimenta e retire do fogo sem que ferva. Misture o molho ao macarrão
com auxílio de 2 garfos e sirva com queijo ralado.
Fonte: ~,http:ÿÿgoo.glÿ~
2k{r{vx~,
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
Datas Comemorativas
Janeiro
01- Confraternização Universal
01- Mundial da Paz
06- Reis
06- Gratidão
07- Liberdade de Cultos
Fevereiro
27- Dia Nacional do Livro
Didático
Março
01- Fundação da Cidade do Rio de Janeiro
21- Internacional Contra a Discriminação Racial
31- Aniversário do Golpe
Militar: 1964
Abril
18- Nacional do Livro Infantil
19- Índio
21- Tiradentes
22- Descobrimento do Brasil
23- Nacional da Educação de Surdos
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
Vida e Saúde
Frutas e verduras reduzem o
desejo de fumar
Segundo pesquisadores americanos, mais de quatro porções diárias
ajudariam na empreitada.
Para chegar à conclusão, os cientistas da Universidade de Buffalo,
nos Estados Unidos, avaliaram cerca de mil fumantes. Em uma primeira
etapa, eles perguntaram sobre seus hábitos. Depois de 14 meses,
retomaram o contato e perceberam que os consumidores de pelo menos
quatro porções diárias de frutas e verduras eram menos dependentes do
tabaco do que aqueles que não investiam nesses alimentos. "Eles
também se mostraram três vezes mais propensos a abandonar o vício",
conta Gary Giovino, um dos autores do trabalho. Para ele, o fato de
esses itens interferirem na saciedade pode explicar os resultados.
"Com estômago cheio, as pessoas não confundem fome com vontade de
fumar", justifica. Além disso, maçã, cenoura e companhia têm sido
associadas a uma melhora no humor – e muita gente acende o cigarro ao
menor sinal de estresse. "O resultado do estudo é muito interessante,
porque mostra que melhorar a alimentação pode ser um passo importante
para largar o cigarro", opina Luciana Harfenist, nutricionista
funcional do Rio de Janeiro.
Café, álcool, doces, carnes e refrigerantes à base de cola
estimulam o vício pelo tabaco.
Fonte: *Revista Saúde é vital*, n.o 355, p. 14. Thaís
Manarini e Juliane Silveira. Coluna Nutrição.
::::::::::::::::::::::::
Glaucoma: sintomas sutis, riscos
reais
O glaucoma é uma doença ocular que afeta o nervo óptico, a
estrutura dos olhos que leva as informações do que enxergamos para a
área do cérebro que vai interpretar a visão.
Pela forma como age, pode ser definido como um "ladrão furtivo":
vai roubando a visão da pessoa sem que ela perceba. Quando os
sintomas aparecem, o glaucoma já produziu danos significativos, com
perdas de visão irreversíveis. Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), o glaucoma está entre as principais causas de cegueira. No
Brasil, estima-se que um milhão de pessoas tenha a doença.
Na grande maioria dos casos, o glaucoma está relacionado com o
aumento da pressão intraocular, embora haja portadores da doença que
têm essa pressão normal. Segundo a Dra. Erika Sayuri
Yasaki,
oftalmologista do
Einstein, há dezenas de tipos de glaucoma, mas em
linhas gerais eles podem ser classificados em primário e secundário.
“O primário é mais comum acima dos 40 anos e normalmente é
hereditário. O secundário pode ser resultado de outra doença ocular,
alteração vascular ou processo inflamatório, entre outros”, explica a
médica.
Não há cura para o glaucoma. Mas identificar o problema logo no
começo faz toda a diferença. Nessa etapa, o tratamento é geralmente
feito com colírios que atuam baixando a pressão ocular, permitindo
interromper ou desacelerar o processo de dano do nervo óptico e perda
de visão. Mas como na fase inicial o glaucoma não apresenta sintomas,
o diagnóstico precoce depende, sobretudo, de check-ups anuais com o
oftalmologista, particularmente para quem tem mais de 40 anos,
antecedentes na família ou outras doenças oculares. “Quanto mais cedo
for identificada a patologia, menor o risco de sequelas”, enfatiza a
Dra. Erika.
“O problema para o indivíduo é que os sinais só aparecem quando a
doença já avançou. Então a pessoa começa a enxergar menos ou a
perceber os danos no campo de visão. Isso acontece porque o glaucoma
afeta a quantidade de visão e o campo visual. Com o avanço da
doença, porém, o campo visual vai ficando cada vez mais limitado.”
Diagnóstico
De forma geral, o diagnóstico é feito durante a consulta
oftalmológica, com exames e uso de equipamentos para medir a visão e
a pressão intraocular, avaliar as características do nervo óptico e
defeitos no campo visual. “A grande maioria dos casos é diagnosticada
com a realização desses exames, mas há alguns quadros em que apenas o
acompanhamento definirá se o paciente tem ou não glaucoma”, diz a
especialista.
Glaucoma: A doença está associada à pressão elevada dentro do olho,
que afeta as fibras nervosas no nervo óptico e pode causar alterações
no campo visual, levando até a cegueira.
Incidência: No Brasil, estima-se que um milhão de pessoas tenha a
doença.
Sintomas: Aparecem quando a doença já está avançada. Os principais
são: enxergar menos ou ter o campo de visão afetado.
Diagnóstico: Check-ups regulares com o oftalmologista são
fundamentais, especialmente para os maiores de 40 anos ou com
histórico de doenças oculares na família.
Tratamento: Geralmente colírios, mas existem casos que precisam de
cirurgia.
Fatores de risco
Raça: negros e orientais têm mais incidência de glaucoma;
Miopia e hipermetropia;
Idade: pessoas com mais de 40 anos precisam fazer revisões anuais
com o oftalmologista;
Enxaqueca;
História familiar de glaucoma comprovada;
Medicamentos que induzem a dilatação da pupila, como
antidepressivos ou drogas para incontinência urinária.
Um aliado tecnológico mais recente é a tomografia de coerência
óptica (OCT), que permite medir a camada de fibras nervosas (cuja
perda se acelera no glaucoma) e as células ganglionares. Trata-se de
um recurso que pode ser importante nos casos de acompanhamento da
doença.
O tratamento mais frequente são os colírios hipotensores, que têm
sido bastante aprimorados e atuam de maneira eficiente para baixar a
pressão intraocular. Mas alguns casos exigem abordagem cirúrgica.
Feitos com microscópio e microinstrumentos, esses procedimentos são
chamados cirurgias filtrantes. É que, no glaucoma, ou o líquido
natural dos olhos (humor aquoso) está sendo produzido em excesso ou a
via de drenagem está deficiente. O objetivo da cirurgia é criar uma
fístula, um caminho para o líquido escoar. No glaucoma de ângulo
fechado é feito tratamento a laser.
De acordo com a Dra. Erika, em termos de tratamento não cirúrgico
há caminhos novos sendo trilhados, como a busca de drogas
neuroprotetoras, já que estudos recentes sugerem que o glaucoma pode
ser uma doença neurológica ou neurodegenerativa.
Ela provoca a morte de células ganglionares, que coletam
informações visuais de outras células da retina, passam essas
informações para suas extensões, os axônios, e destes ao nervo óptico
e à área do cérebro que interpreta a visão. Esta, por sua vez,
apresenta alterações em pacientes com glaucoma. “Drogas
neuroprotetoras poderiam evitar a morte dessas células e promover um
processo de regeneração”, diz a oftalmologista do Einstein.
É nessa linha também que se desenvolvem estudos com o uso de
células-tronco. No entanto, são pesquisas ainda incipientes, em fase
experimental em animais.
De qualquer forma, todas essas são perspectivas positivas para o
futuro. Mas, mesmo que se tornem realidade, ainda assim sempre é mais
interessante a prevenção com consultas ao oftalmologista que poderá
descobrir se o "ladrão" glaucoma já está, furtivamente, começando a
roubar a visão do paciente.
Fonte: ~,http:ÿÿgoo.glÿ~
i4jWZ~,
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
RBC Informa
Cinema falado
Boa notícia. Itaú e Sony Pictures negociam para implementar projeto
definitivo de exibição de filme para deficientes visuais
nas salas Unibanco de cinema.
Usando audiodescrição, cena a cena.
Fonte: *O Estado de São
Paulo*. D2. C2+ música. Sábado, 12 de Novembro de 2011.
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
Espaço do Leitor
Este novo espaço é uma ponte de comunicação entre a RBC e o leitor,
permitindo, também, o bom relacionamento entre os leitores.
Você poderá deixar o seu endereço para correspondência -- não
esquecendo do CEP --, ou, se preferir, seu endereço eletrônico, para
oferecer serviços e produtos.
Para tanto, as cartas em braille ou escrita convencional poderão
ser enviadas para o endereço que se encontra na capa dessa
revista ou
pelo e-mail:
~,rbc@ibc.gov.br~,
Lembramos que, ao enviar seu contato e anúncio, o leitor estará
concordando com a sua publicação. A RBC não se responsabilizará pelos
produtos e serviços aqui ofertados, sendo de exclusiva conta e risco
do leitor qualquer negociação baseada em informações desta Seção.
õxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxo
Fim da Obra