Revista Brasileira para Cegos "Edição Especial 2020 -- História e Literatura" Ano LXXVII Ministério da Educação Instituto Benjamin Constant Publicação Trimestral de Informação e Cultura Editada e Impressa na Divisão de Imprensa Braille Fundada em 1942 pelo Prof. José Espínola Veiga Av. Pasteur, 350/368 Urca -- Rio de Janeiro-RJ CEP: 22290-250 Tel.: (55) (21) 3478-4457/3478-4531 ~,revistasbraille@ibc.gov.br~, ~,http:ÿÿwww.ibc.gov.br~, Livros Impressos em Braille: uma Questão de Direito

Diretor-Geral do IBC João Ricardo Melo Figueiredo Comissão Editorial: Carla Maria de Souza Geni Pinto de Abreu Heverton de Souza Bezerra da Silva Hyléa de Camargo Vale Fernandes Lima João Batista Alvarenga Maria Cecília Guimarães Coelho Rachel Ventura Espinheira Colaboração: Daniele de Souza Pereira Regina Celia Caropreso Revisão: Carla Dawidman Transcrição autorizada pela alínea *d*, inciso I, art. 46, da Lei n.o 9.610, de 19/02/1998. Distribuição gratuita.

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¨ III Revista Brasileira para Cegos / MEC/Instituto Benjamin Constant. Divisão de Imprensa Braille. n.o 1 (1942) --. Rio de Janeiro : Divisão de Imprensa Braille, 1942 --. V. Trimestral Impressão em braille ISSN 2595-1009 1. Informação -- Acesso. 2. Pessoa cega. 3. Cultura -- Cego. 4. Revista – Periódico. I. Revista Brasileira para Cegos. II. Ministério da Educação. III. Instituto Benjamin Constant. CDD-003.#edjahga Bibliotecário -- Edilmar Alcantara dos S. Junior -- CRB/7 6872

¨ V Sumário Editorial ::::::::::::::: 1 UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro 100 anos ::::: 2 Tributo a João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector – 100 anos :::::::::::::: 27

Editorial Caros leitores, Cem anos... é muito tempo... muito tempo de vida... muito tempo de ida... muito tempo de tudo! Centenários são datas comemorativas que emocionam mais que entristecem, porque muito tempo já se foi; permanecem as lembranças, da vida ou da ida. Bem melhor quando se comemora a vida! Há 100 anos nasciam dois grandes autores da literatura brasileira, memória de um período de reconstrução, pós Segunda Guerra Mundial, nascia a Geração de 45. Atento à palavra e à forma, construiu sua obra com engenharia poética, João Cabral de Melo Neto; intimista e reflexiva, trouxe um texto profundo, com uma abordagem psicológica das personagens, em eterna (re)construção, Clarice Lispector. Esta edição especial da RBC apresenta, além do centenário de nascimento desses dois ícones, os 100 anos da fundação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Comemorações que se entrelaçam à medida que a tessitura acadêmica é permeada por fios de cultura, arte e ciência. E assim... memoriais 100 anos! Repletos de memória... trajetória... de vida e de ida...! Boa leitura! õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro 100 anos Em 7 de setembro de 1920, por meio do Decreto n.o 14.343, o governo federal criou sua primeira universidade: a Universidade do Rio de Janeiro (URJ). Foi longa a trajetória para a criação de universidades no país. Diferentemente de outras áreas coloniais, no Brasil, universidades e cursos superiores eram proibidos por lei e os filhos das elites colonial e imperial se dirigiam às universidades europeias, principalmente a de Coimbra, para concluir os estudos em Direito e Medicina. A Universidade do Rio de Janeiro foi constituída a partir da reunião de três escolas criadas no início do século XIX, após a vinda da Família Real e da Corte Portuguesa para o Brasil: a Escola de Engenharia (criada a partir da Academia Real Militar, em 1810), a Faculdade de Medicina (criada em 1832 nas dependências do Real Hospital Militar, antigo Colégio dos Jesuítas) e a Faculdade de Direito (criada, em 1891, pela fusão das já existentes Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais e Faculdade Livre de Direito da Capital Federal). Mas essa reunião de estabelecimentos numa universidade não implicou aproximação de relações e troca de saberes necessários à existência do "espírito universitário". A universidade existia apenas na letra da lei. A universidade do Brasil nasceu com ideias de gigantismo e profundamente *elitista*. Todas as suas unidades constituintes tinham, antecedendo o nome, o adjetivo "nacional" para marcar a sua vinculação ao governo federal e às suas políticas de centralização no contexto do *Estado Novo* (1937-1945). Nesta época, o Museu Nacional, que sofreu um incêndio em 2018, foi incorporado à estrutura da universidade. Outras instituições importantes criadas, na época, são o Colégio Universitário e o Hospital das Clínicas. A década de 1960 foi marcada por profundas transformações sociais, econômicas e políticas, que levaram a fortes pressões (sobretudo do movimento estudantil) para a reforma do ensino superior no país, já que as universidades eram criticadas pelo distanciamento em relação às graves questões sociais que marcavam a sociedade brasileira. Em 1965, já no contexto de autoritarismo em que o país vivia, o governo federal padronizou o nome das instituições universitárias federais e, em 20 de agosto, foi sancionada a Lei n.o 4.759, que dispunha, em seu artigo primeiro, que as universidades e escolas técnicas federais da União seriam qualificadas de "federais", tendo a denominação do respectivo Estado. Assim, a UB foi reorganizada e transformada em Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua organização se deu a partir da vinculação das unidades e institutos em centros que ainda hoje lhe estruturam: Centro de Ciências da Saúde (CCS), Centro de Letras e Artes (CLA), e outros. A Universidade Federal do Rio de Janeiro é uma *autarquia*, de direito público, vinculada ao Ministério da Educação. A gestão da universidade possui vários níveis e conselhos; o seu órgão máximo é a reitoria, cujo representante é escolhido em uma lista tríplice com os três nomes mais votados pelos eleitores (alunos, professores e funcionários efetivos da instituição). Em geral, o Ministro da Educação, responsável por escolher um dos nomes da lista, respeita a vontade da maioria e nomeia como reitor o nome mais votado. No dia 8 de junho de 2019, Denise Pires de Carvalho, tornou-se a primeira mulher a assumir a reitoria da universidade. Ingresso Tal como em outras universidades públicas brasileiras, o ingresso na Universidade Federal do Rio de Janeiro ocorre por meio de concurso público realizado anualmente. Qualquer pessoa que tenha concluído o ensino médio pode candidatar-se a uma das vagas oferecidas. O ingresso também é possível por meio da transferência externa, por isenção de vestibular (reingresso) e por convênios internacionais. Até o final da década de 1980, o concurso era realizado por meio do vestibular unificado da Fundação Cesgranrio. Por discordar da metodologia utilizada para avaliar os estudantes – em que as provas consistiam quase exclusivamente de questões de múltipla-escolha –, a universidade saiu desse convênio e passou a organizar o seu pró- prio concurso vestibular, denominado Concurso de Acesso aos Cursos de Graduação. Este era composto somente de questões discursivas, considerado, por muitos, um dos vestibulares mais difíceis e exigentes por possuir provas bem elaboradas, em que o candidato deveria discorrer sobre determinado assunto, em vez de apontar a alternativa correta. Desde 2010, a universidade vem sendo favorável à utilização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) para seleção de candidatos. Dessa forma, expandiu cada vez mais a sua participação no Exame, até que, em 2011, decidiu extinguir o seu Concurso de Acesso e passou a utilizar somente os resultados do ENEM, selecionando candidatos por meio do Sistema de Seleção Unificada (SiSU) do Ministério da Educação. A universidade vem sendo uma das mais disputadas pelos candidatos: no segundo semestre de 2012 obteve 103.829 inscrições, sendo a instituição com maior procura no SiSU. A UFRJ possui ações afirmativas, assim como outras universidades de excelência internacional, implantadas em 2010. Atualmente, 30% das vagas destinam-se à ação afirmativa, que possui como critério estudantes da rede pública de todo o país que tenham renda familiar *per capita* de até um salário mínimo e meio. *Campi* Rio de Janeiro A Ilha do Fundão localiza-se na margem oeste da baía de Guanabara. A principal infraestrutura da Universidade Federal do Rio de Janeiro é a Cidade Universitária, situada na Ilha do Fundão, Zona Norte do Rio de Janeiro, ocupando quase a totalidade de sua extensão. A Ilha foi criada na década de 1950 pela união de várias ilhas preexistentes por meio de aterros. Entretanto, as atividades acadêmicas desse câmpus só iniciaram-se em 1970. O projeto inicial previa que todos os cursos fossem transferidos para lá. O câm- pus teve seus prédios construídos por grandes arquitetos modernistas brasileiros. Alguns dos projetos ganharam prêmios de arquitetura, como o prédio da reitoria, projetado por Jorge Machado Moreira e premiado na IV Bienal de São Paulo. O câmpus possui alojamento (com 504 quartos) para alunos de graduação, três restaurantes universitários (bandejões), centros esportivos e agências bancárias. Em 2010, foi inaugurada a Estação de Integração com o objetivo de oferecer maior segurança e comodidade à comunidade acadêmica. Por ali passam diversas linhas intercampi e internas, transitando 24 h por toda extensão da Cidade Universitária, oferecidas gratuitamente, além das linhas regulares municipais e intermunicipais que atendem a população oriunda da *Baixada Fluminense* e das regiões Metropolitana e Serrana. O câmpus da Praia Vermelha, localizado na Urca, Zona Sul do Rio de Janeiro, concentra, principalmente, cursos ligados às Ciências Humanas. Seu prédio de maior destaque é o Palácio Universitário, construído em estilo *neoclássico* entre 1842 e 1852 para o Hospício Pedro II, inaugurado por Dom Pedro II dez anos mais tarde. Em 1949, o edifício foi cedido à Universidade do Brasil, que restaurou e adaptou as instalações para funcionar como sede. Já na região central do Rio de Janeiro, estão distribuídas diversas unidades isoladas. A Faculdade de Direito no Palácio do Conde dos Arcos, que abrigou o Senado Federal; a Escola de Música instalada desde 1913 no antigo prédio da Biblioteca Nacional; o Observatório do Valongo no topo do Morro da Conceição; o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais e o Instituto de História, situados no prédio que sediou a Escola Nacional de Engenharia, no Largo de São Francisco de Paula. No Plano Diretor UFRJ (2010-2020) há um projeto de transformação do câmpus da Praia Vermelha em um grande centro cultural, e de transferir a maior parte das atividades acadêmicas desse câmpus, e das unidades isoladas, para a Cidade Universitária, retomando o projeto inicial da Cidade Universitária de concentrar as atividades universitárias na Ilha. Isso tem gerado discussões na universidade pelo fato de boa parte dos alunos, professores e funcionários das unidades a serem transferidas não aceitarem essa concentração na Cidade Universitária, visto a distância da Zona Sul à Zona Norte e o trânsito *caótico* da Linha Vermelha. Duque de Caxias – Xerém Por meio do curso de graduação em Biofísica, no segundo semestre de 2008, a UFRJ iniciou suas atividades em Xerém, uma região com grande potencial industrial e tecnológico no município de Duque de Caxias. Com o objetivo de colaborar com o *Inmetro*, a Universidade estabeleceu parceria com a Prefeitura Municipal de Duque de Caxias e com a Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico e Políticas Sociais. Atualmente são oferecidos, além de *Biofísica*, os cursos de *Biotecnologia* e *Nanotecnologia*, ambos implantados no primeiro semestre de 2010. Já no ano seguinte, deu-se início ao mestrado profissional em Formação Científica para Professores de Biologia, com público-alvo licenciado em Ciências Biológicas, que buscam atualização e aperfeiçoamento. Os alunos têm à disposição a infraestrutura e os laboratórios do Inmetro, apesar de muitos ainda realizarem seus estágios curriculares na Cidade Universitária, assim como a maioria dos docentes, cujos laboratórios estão no campus sede. A inauguração do câmpus universitário em área do Inmetro cedida à UFRJ foi, inicialmente, prevista para meados de 2012.

Macaé – Capital Nacional do Petróleo Complexo universitário do câmpus de Macaé no norte fluminense. A presença da UFRJ em Macaé vem desde a década de 1980, em que pesquisadores do Instituto de Biologia realizavam pesquisas em lagoas da Região dos Lagos. Em parceria com a Prefeitura Municipal de Macaé, em 1994, foi instituído o Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé (NUPEM). O reconhecimento da presença e importância da universidade no município foi visível, tanto que a Prefeitura doou um terreno de 29 mil m² onde foi instalada a infraestrutura inicial, formando um centro universitário. Em 2005, o NUPEM foi oficializado como órgão suplementar do Centro de Ciências da Saúde, e no ano de 2006, pela primeira vez, iniciou-se um curso de graduação presencial da UFRJ fora do Rio de Janeiro – a licenciatura em Ciências Biológicas na sede do NUPEM. Em 2007, a Prefeitura Municipal de Macaé inaugurou um complexo universitário com dois prédios construídos, de um total de sete previstos, para receber cursos de graduação, pós-graduação e extensão; nessa solenidade também ocorreu a assinatura do Protocolo de Intenções entre a Prefeitura e a UFRJ, para que em 2008 fossem iniciados os cursos de Química e Farmácia, aumentando para três o número de cursos oferecidos pela universidade em Macaé. Na atualidade, o *campus* está distribuído fisicamente em três polos (Universitário, Barreto e Ajuda) e ofertados os seguintes cursos de graduação: Licenciatura em Ciências Biológicas, Bacharelado em Ciências Biológicas, Licenciatura em Química, Bacharelado em Química, Enfermagem e Obstetrícia, Engenharia (Produção, Civil e Mecânica), Farmácia, Medicina e Nutrição. O *campus* também conta com dois programas de pós-graduação, em Ciências Ambientais e Conservação e em Produtos *Bioativos* e *Biociências*. O nome do ex-reitor Aloísio Teixeira – que dirigiu a instituição entre 2003 e 2011 – passou a integrar a denominação do campus em 2012, vindo a ser chamado de Campus UFRJ-Macaé Professor Aloísio Teixeira, em homenagem a uma figura decisiva no processo de interiorização da universidade.

Polos de Educação a Distância Os cursos a distância funcionam por meio do consórcio do Centro de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (CEDERJ), firmado entre a UFRJ e as seguintes instituições: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ). Ministrados na modalidade semipresencial, quando é necessária a participação de alunos em determinadas atividades presenciais, a UFRJ oferece os cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas, Física e Química. Ao final do curso, o aluno recebe o diploma igual ao aluno presencial matriculado na universidade, de acordo com o polo escolhido. O ingresso é por meio do vestibular do próprio consórcio. Parque Tecnológico do Rio Na Cidade Universitária está instalado o Parque Tecnológico do Rio, um complexo tecnológico voltado para pesquisas em energia, petróleo e gás. Em parceria com a Petrobras, a UFRJ objetiva transformar a área de 350 mil m² no maior centro global de pesquisa tecnológica do setor petrolífero, tendo em vista que a exploração do *pré-sal* necessita de desenvolvimento de novas tecnologias. Talvez, seja por isso que comparações com o *Vale do Silício*, na Califórnia, tornaram-se comuns. Destacam-se: Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES), Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL), Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (COPPE). SiBI – Sistema de Bibliotecas e Informação da UFRJ O SiBI, órgão suplementar do Fórum de Ciência e Cultura (FCC), é gerenciador das 45 bibliotecas da UFRJ, e tem por objetivo principal a interação de suas bibliotecas com a política educacional e administrativa da Universidade, servindo de apoio aos programas de ensino, pesquisa e extensão. Dessa forma, *fomenta*-se a colaboração e a produção técnico-científica, cultural, literária e artística, por meio do desenvolvimento de serviços e produtos de informação. Fontes adaptadas: ~,http:ÿÿsiarq.ufrj.brÿ~ imagesÿbufrjÿ2018ÿ27-~ 2018.pdf~, ~,https:ÿÿxn--conexo-7ta.~ ufrj.brÿartigosÿuma-breve-~ historia-da-ufrj~, ~,https:ÿÿpt.wikipedia.orgÿ~ wikiÿUniversidade{-~ Federal{-do{-Rio{-de{-~ Janeiro~, Vocabulário: Autarquia: s. f. Entidade autônoma, auxiliar e descentralizada da administração pública, porém fiscalizada e controlada pelo Estado, cuja finalidade é executar serviços que interessam a coletividade. Baixada Fluminense: região geográfica do Rio de Janeiro, que pertence ao Grande Rio. Bioativo: s. m. Composto que tem um efeito sobre um organismo vivo, tecido ou célula. Biociência: s. f. Nome genérico das ciências que estudam os seres vivos, seu ecossistema, sua evolução, formas de reprodução etc. Biofísica: s. f. Ramo da medicina que estuda os processos físicos que ocorrem nos organismos. Biotecnologia: s. f. Estudo e desenvolvimento de organismos geneticamente modificados e sua utilização para fins produtivos. Campus: s. m. Área que compreende os edifícios e terrenos de uma universidade. Plural: Campi. Caótico: adj. Confuso, bagunçado, anárquico. Elitista: s. m. Sistema que favorece os melhores elementos de um grupo, ou de uma minoria que detém prestígio e poder, em detrimento de seus demais componentes. Estado Novo ou Terceira República Brasileira: Regime político brasileiro instaurado por Getúlio Vargas. Era caracterizado pela centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e por seu autoritarismo. Fomentar: v. Estimular. Inmetro: Sigla que representa Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e atua em conjunto com a RBMLQ-I (Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade Industrial) exercendo a fiscalização do cumprimento das leis metrológicas e a da qualidade de produtos e serviços vigentes no País. Nanotecnologia: s. f. Tecnologia que opera em sistema nanométrico, dedicado ao desenvolvimento de circuitos elétricos, com extensões ou tamanhos equiparados aos átomos e moléculas. Neoclássico: s. m. Estilo arquitetônico que surgiu entre 1750 e 1850. Pré-sal: s. m. Área de reservas petrolíferas que fica debaixo de uma profunda camada de sal, formando uma das várias camadas rochosas do subsolo marinho. Compreende uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros e tem este nome porque se formou antes da outra rocha de camada salina. Renda *per capita*: loc. adj. É um indicador econômico utilizado para avaliar a situação econômica de um país. Corresponde à renda média da população em um determinado ano ou período e é calculada por meio da divisão da Renda Nacional pelo número de habitantes. Vale do Silício: Apelido da região da baía de São Francisco onde estão situadas várias empresas de alta tecnologia, destacando-se na produção de circuitos eletrônicos, na eletrônica e informática. õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo

Tributo a João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector – 100 anos Neste ano de 2020, comemoramos o centenário de nascimento de dois grandes nomes da Literatura brasileira: João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e Clarice Lispector (1920-1977). Ambos pertenceram à Geração de 45, que representou um grupo de literatos brasileiros da terceira geração do Modernismo. A fase modernista surgiu com a "Revista Orfeu" (1947), e teve representantes tanto na prosa quanto na poesia. A seguir, apresentamos o contexto histórico no qual se insere a Geração de 45. É importante apresentar essa abordagem para melhor compreendermos como a literatura reflete as questões pelas

quais a sociedade passa em um determinado momento da história. Contexto histórico A Geração de 45, terceira geração modernista (1945- -1980), nasce no contexto pós Segunda Guerra e marca o início da Guerra Fria, da corrida armamentista, e o fim de muitos governos totalitários e de movimentos como o nazismo alemão. No Brasil, a Geração de 45 teve início após a ditadura Vargas, período de redemocratização do país. Os novos tempos são de Guerra Fria e de governos eleitos pelo voto popular, incluindo o voto feminino. Nesse cenário, surgem escritores que exploram a forma literária, tanto em prosa quanto em poesia, sob novos parâmetros, além de aprofundarem os temas de conteúdos inovadores. Este novo grupo de escritores representou uma arte mais preocupada com a palavra e a forma – no caso de João Cabral e Guimarães Rosa – ao mesmo tempo em que explorava assuntos essencialmente humanos, como na obra de Clarice Lispector. Tanto a prosa quanto a poesia foram exploradas nesse período, no entanto, de maneira mais *intimista*, regionalista e urbana. É nesse contexto histórico e literário que surgem os nossos homenageados: João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector. João Cabral de Melo Neto O pernambucano João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife em 6 de janeiro de 1920. Filho de Luís Antônio Cabral de Melo e de Carmen Carneiro Leão Cabral de Melo, João era primo de Manuel Bandeira e Gilberto Freyre. Passou parte da infância nas cidades pernambucanas de São Lourenço da Mata e Moreno. Mudou-se com a família, em 1942, para o Rio de Janeiro, quando publicou o seu primeiro livro "Pedra do Sono". Começou a atuar no serviço público, em 1945, como funcionário do DASP (Departamento de Administração do Serviço Público). No mesmo ano, inscreveu-se para o concurso do Ministério das Relações Exteriores e passou a integrar, em 1946, o quadro de diplomatas brasileiros. Atuou como diplomata até 1990, quando se aposentou. João Cabral morreu em 9 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, com 79 anos. O escritor foi vítima de um ataque cardíaco. João Cabral e a Literatura Era rigoroso com seus poemas, apresentando uma estrutura mais fixa e com versos rimados. Seu estilo não é marcado pelo sentimentalismo; é mais objetivo, racional. A obra de João Cabral de Melo Neto pode ser considerada construtivista. Não tinha romantismo em seus escritos, o poeta descrevia as percepções do real, concretizando as sensações. Além disso, buscava as oposições na sua poesia. "Morte e Vida Severina" foi, sem dúvida, a obra que o consagrou. Com forte crítica social, é um poema onde se misturam o *lírico*, o *épico* e o dramático. Foi publicado em 1955. Nele, o escritor retrata a *saga* de um retirante nordestino que sai do sertão em direção ao sudeste do Brasil para buscar melhores condições de vida. A obra foi adaptada para a música, teatro e cinema. Seus livros foram traduzidos para diversas línguas (alemão, espanhol, inglês, italiano, francês e holandês) e sua obra é conhecida em diversos países. Poemas de João Cabral de Melo Neto Trazemos uma curiosidade; entre os poemas de João Cabral, um deles homenageou Clarice Lispector: Contam de Clarice Lispector Um dia, Clarice Lispector intercambiava com amigos dez mil anedotas de morte, e do que tem de sério e circo. Nisso, chegam outros amigos, vindos do último futebol, comentando o jogo, recontando-o. refazendo-o, de gol a gol. Quando o futebol *esmorece*, abre a boca um silêncio enorme e ouve-se a voz de Clarice: Vamos voltar a falar de morte? Tecendo a Manhã Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia *tênue*, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. Trecho do Poema Morte e Vida Severina — O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mais isso ainda diz pouco: há muitos na *freguesia*, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta *sesmaria*. Como então dizer quem falo ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba. Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas. e iguais também porque o sangue, que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte Severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte Severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida). Somos muitos Severinos iguais em tudo e na *sina*: a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima, a de tentar despertar terra sempre mais extinta, a de querer arrancar alguns roçado da cinza. Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida, passo a ser o Severino que em vossa presença *emigra*. Clarice lispector *Haya Pinkhasovna* Lispector nasceu no dia 10 de dezembro de 1920 na cidade ucraniana de *Tchetchelnik*. Descendente de judeus, seus pais *Pinkhas* Lispector e Mania *Krimgold* Lispector, passaram os primeiros momentos de vida de Clarice fugindo da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa (1918-1920). Diante disso, chegam ao Brasil, em 1921, e vivem nas cidades de Maceió, Recife e Rio de Janeiro, onde passaram algumas dificuldades financeiras. Desde pequena, Clarice estudou várias línguas (português, francês, hebraico, *ídiche*, inglês) e teve aulas de piano. Era boa aluna na escola e gostava de escrever poemas. Após a morte de sua mãe, em 1930, Clarice terminou o terceiro ano primário no Collegio Hebreo-Idisch- -Brasileiro. Mais tarde, sua família foi viver no Rio de Janeiro. Em 1939, com 19 anos, ingressou na Escola de Direito da Universidade do Brasil e começou a dedicar-se totalmente à sua grande paixão: a Literatura. Fez cursos de Antropologia e Psicologia e, em 1940, publicou seu primeiro conto intitulado "Triunfo". Após a morte de seu pai, em 1940, Clarice começou a sua carreira de jornalista. Nos anos seguintes, trabalhou como redatora e repórter na Agência Nacional, no Correio da Manhã e no Diário da Noite. Em 1943, casou-se com o Diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos. Seu primogênito, Pedro, foi diagnosticado com *esquizofrenia*. Seu segundo filho, Paulo, foi afilhado do escritor Érico Veríssimo. Devido à profissão de seu marido, Clarice viveu em muitos países do mundo, Itália, Inglaterra, Suíça e Estados Unidos. O relacionamento durou até 1959, quando se separaram e Clarice retornou ao Rio com seus filhos. A escritora foi naturalizada brasileira e se declarava pernambucana. Seu nome, Clarice, foi uma das formas que seu pai encontrou de esconder toda a família quando chegaram ao Brasil. Clarice faleceu no dia 9 de dezembro de 1977, véspera de seu aniversário de 57 anos, na cidade do Rio de Janeiro, vítima de câncer de ovário. Clarice e a Literatura Conhecida como uma das melhores escritoras brasileiras, escreveu romances, contos, crônicas, literatura infantil. De personalidade singular e forte, pouco se importava com as críticas. O seu estilo é marcado pela inovação, e introduz características novas à Literatura nacional. Os textos enfocam o inconsciente; na sua literatura, os sentimentos e sensações dos personagens são muito importantes. Também compôs poemas repletos de lirismo. Destacaremos alguns deles, como exemplo de sua grande obra. Mas há Vida Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor.

Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata. Sonhe Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. Trecho do último livro "hora da estrela” “Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho. Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros *apocalípticos*? Se esta história não existe passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior inexplicável. A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta história deu uma fisgada funda em plena boca nossa. Então eu canto alto agudo uma melodia sincopada e estridente – é a minha própria dor, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade. Felicidade? Nunca vi palavra mais doida,

inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.” Fontes alteradas: ~,http:ÿÿeducacao.globo.comÿ~ literaturaÿassuntoÿautoresÿ~ joao-cabral-de-melo-neto.~ html~, ~,https:ÿÿwww.todamateria.~ com.brÿjoao-cabral-de-melo-~ netoÿ~, ~,http:ÿÿeducacao.globo.comÿ~ literaturaÿassuntoÿautoresÿ~ clarice-lispector.html~, ~,https:ÿÿwww.todamateria.~ com.brÿgeracao-de-45ÿ~, ~,https:ÿÿwww.todamateria.~ com.brÿvida-e-obra-de-~ clarice-lispectorÿ~, Vocabulário: Apocalíptico: adj. Evoca ou profetiza o fim dos tempos. Emboscada: s. f. Ataque inesperado e traiçoeiro; cilada, armadilha.

Emigrar: v. Sair da sua região ou do seu país para se estabelecer em outro. Esmorecer: v. Desanimar, tornar sem ânimo, sem forças; enfraquecer. Esquizofrenia: s. f. Distúrbio psíquico que afeta a consciência do próprio eu, as relações afetivas, a percepção e o pensamento. Estridente: adj. Que tem som agudo e penetrante. Freguesia: s. f. Distrito de uma paróquia. Pequena povoação. *Iídiche*: s. m. Língua germânica das comunidades judaicas da Europa central e oriental, baseada no alto-alemão do século XIV, com acréscimo de elementos hebraicos e eslavos. Intercambiar: v. Fazer troca de uma coisa por outra; trocar.

Intimista: adj. Movimento literário que prioriza a expressão dos sentimentos mais íntimos. Lírico: adj. Composição poética para ser cantada com acompanhamento da lira, um instrumento de cordas. Lirismo: s. m. Caráter subjetivo ou romântico da arte em geral. Saga: s. f. Narrativa ou história de ficção com mais de uma parte ou repleta de incidentes. Sesmaria: s. f. Terreno abandonado ou inculto que os reis de Portugal cediam aos novos povoadores. Sincopada: adj. Que deixou de possuir um ou mais sons ou sílabas intermediárias. Sina: s. f. Fatalidade a que supostamente tudo no mundo está sujeito; destino, sorte.

Tênue: adj. Que é fino; de pouca espessura; frágil. õxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxo Transcrição: Diogo Silva Muller Dunley Revisão Braille: João Eterno Nascimento