Revista Brasileira para Cegos Editada pelo Instituto Benjamin Constant Av. Pasteur 350 -- Rio de Janeiro -- Brasil Diretor Dr. Joco Alfredo Lopes Braga Ano I, n.o 1, abril de 1942 Ortografia Braille e da Lmngua Portuguesa atualizadas em setembro de 2018.

_`[{representagco em alto relevo do busto de Getzlio Vargas; logo abaixo a seguinte legenda: "Getzlio Vargas -- Fundador do Regime e guia da Nacionalidade"_`] Aviso A Revista Brasileira para Cegos, editada pelo Instituto Benjamin Constant, sera distribumda gratuitamente entre os cegos do Brasil. Para recebj-la, basta pedi-la ao diretor do IBC, indicando claramente o nome e enderego, e confirmar o seu recebimento. A falta desta confirmagco, em mais de um nzmero, importara na suspensco imediata da remessa. Todas as sugestues serco recebidas com agrado.

( I Sumario Editorial ::::::::::::::: 1 Tragos da vida do Presidente Vargas :::: 2 O Presidente Vargas e os cegos do Brasil :::: 3 O Ministro da Educagco expue os motivos da Lei Orgbnica do Ensino Secundario :::::::::::: 6 Aos brasileiros da quinta coluna ::::::::::::::::: 26 A execugco do Tiradentes :::::::::::: 47 Eu bombardeei a Alemanha :::::::::::::: 54 Expressues pitorescas ::::::::::::: 65

Editorial A "Revista Brasileira para Cegos" -- primeira iniciativa oficial no gjnero -- visa levar cultura, informagco e distragco pela leitura, a todos os cegos do Brasil. Distribumda gratuitamente, sera uma modalidade de assistjncia do governo aos brasileiros que nco dispuem dos olhos. Seu aparecimento nesta semana de homenagens ao Presidente Vargas i a maneira dos cegos se associarem a essas justmssimas manifestagues de aprego ao homem que, com raro denodo, larga visco polmtica e elevado patriotismo, tem sabido conduzir o Brasil para os seus verdadeiros destinos. A existjncia da primeira Revista oficial para os cegos do Brasil, ficara assim para

sempre ligada ao "Dia do Presidente". uouououououououououououo Tragos da vida do Presidente Vargas Nasceu em Sco Borja, Rio Grande do Sul, a 19-04- -1883. Em 1899 assentou praga no exircito, chegando a 2: sargento em menos de um ano. Em 1900, matriculou-se na escola militar do Rio Pardo. Em 1903, ingressou na faculdade de direito de Porto Alegre, fundando o jornal "O Debate" mesmo durante o curso. Foi Deputado Estadual por 3 vezes, Deputado Federal, Ministro da Fazenda e, finalmente, Chefe do Governo Provissrio. ::::::::::::::::::::::::

O Presidente Vargas e os cegos do Brasil Todos os atos do governo vargas relativos aos cegos da nossa terra estco nitidamente impregnados do desejo de transformar os brasileiros sem vista em cilulas vivas da economia nacional. Quando da organizagco da Lei Eleitoral, o Presidente Getzlio Vargas outorgou sabiamente o direito de voto aos cegos alfabetizados. Com isso, deu-lhes um dos principais direitos do exercmcio da cidadania, reconhecendo-lhes o valor na estrutura polmtica do Estado. Mais tarde, ja sob a vigjncia do Estado Novo, o governo do Dr. Getzlio Vargas chama os cegos ao exercmcio das fungues pzblicas, permitindo-lhes inscrever-se em concursos oficiais, no mesmo pi de igualdade dos concorrentes que batem ` porta do DASP, fazendo-se apenas as adaptagues impostas pelas condigues fmsicas dos novos candidatos. Por este modo, viram-se varios cegos aproveitados na segco Braille do Instituto Benjamin Constant, sem ter pedido favor a nenhum polmtico sem a humilhagco de receber o emprego como esmola, e confortados pela conscijncia de estar sendo zteis ` nagco. I ainda ao amparo da largueza de vistas dos homens do Governo do Presidente Getzlio Vargas, que, pela primeira vez no Brasil, os cegos tiveram abertas as portas de coligios oficiais, conquistando o saber nos mesmos bancos onde se diplomam os seus irmcos com vista. Foi, finalmente, a pena do Dr. Getzlio Vargas que mandou erigir na Praia Vermelha

o suntuoso educandario onde se vai processar a renovagco completa da educagco dos cegos, no sentido de aparelha-los para essa participagco ativa na sociedade, que lhes tem querido dar o Chefe do Governo. Dali sairco, cegos e amblmopes, nco apenas providos de recursos intelectuais, mas, principalmente, adestrados no aparelho sensorial e nas atitudes fmsicas e sociais, para o seu reajustamento ao mundo dos que veem. Por esses motivos, que nco sco znicos, senco apenas os principais, i o Presidente Vargas credor da gratidco dos cegos do Brasil, como o i da de todos os brasileiros. uouououououououououououo

O Ministro da Educagco expue os motivos da Lei Orgbnica do Ensino Secundario "Rio de Janeiro, 1 de abril de 1942." Sr. Presidente: Tenho a honra de submeter ` consideragco de V. Ex. um projeto de Lei Orgbnica do Ensino Secundario. I -- O sistema vigente de ensino secundario data de 1931. Dentre as vantagens, que dele provieram para a educagco do pams i de notar antes do mais a concepgco que lhe serviu de base, isto i, a afirmagco do carater educativo do ensino secundario, em contraposigco ` pratica entco reinante de considera-lo como mero ensino de passagem para os cursos do ensino superior. Dessa concepgco decorreu um corolario de importbncia fundamental: A Metodizagco do Ensino Secundario, isto i, a seriagco obrigatsria de seus estudos e a introdugco nesses estudos de uma disciplina pedagsgica. Esta hoje no habito dos estudantes e na conscijncia de todos, que o ensino secundario nco i um conjunto de preparatsrios, que se devam fazer apressadamente e de qualquer maneira, mas constitui uma fase importante da vida estudiosa, que normalmente ss pode ser vencida com a execugco de trabalhos escolares metsdicos, num lapso de sete anos. Representa, por outro lado, significativo resultado da legislagco ora em vigor, ter facilitado a generalizagco do ensino secundario, antes ao alcance de poucos, a todos os pontos do pams. Havia no Brasil, em 1931, menos de duzentas escolas secundarias; hoje elas sco quase oito- centas. A lei projetada encontra, assim, terreno amplo e condigues favoraveis, que possibilitem o prosseguimento do trabalho de renovagco e elevagco do ensino secundario do pams. II -- Sco mais dignos de nota, na presente proposta de reorganizagco do ensino secundario, os pontos seguintes: *Concepgco do ensino secundario* -- a reforma atribui ao ensino secundario a sua finalidade fundamental, que i a formagco da personalidade adolescente. I de notar, porim, que formar a personalidade, adaptar o ser humano `s sociedades da sociedade, socializa-lo constitui finalidade de toda espicie de educagco. E sendo esta a finalidade geral da educagco, i por isto mesmo a finalidade znica do ensino primario, que i o ensino basico e essencial, que i o ensino para todos. Entretanto, a partir do segundo grau do ensino, cada ramo da educagco se caracteriza por uma finalidade especmfica, que se acrescenta `quela finalidade geral. O que constitui o carater especmfico do ensino secundario i a sua fungco de formar nos adolescentes uma sslida cultura geral, marcada pelo cultivo a um tempo das humanidades antigas e das humanidades modernas, e bem assim de neles acentuar e elevar a conscijncia patristica e a conscijncia humanmstica. Este zltimo trago definidor do ensino secundario i de uma decisiva importbncia nacional e humana. O ensino primario deve dar os elementos essenciais da educagco patristica. Nele o patriotismo, esclarecido pelo conhecimento elementar do passado e do presente do pams, devera ser formado como um sentimento vigoroso, como um alto fervor, como amor e devogco, como sentimento de indissolzvel apego e indefectmvel fidelidade para com a Patria. Ja o ensino secundario tem mais precisamente por finalidade a formagco da conscijncia patristica. I que o ensino secundario se destina ` preparagco das individualidades condutoras, isto i, dos homens que deverco assumir as responsabilidades maiores dentro da sociedade e da nagco, dos homens portadores das concepgues e atitudes espirituais que i preciso infundir nas massas, que i preciso tornar habituais entre o povo. Ele deve ser, por isto, um ensino patristico por exceljncia, e patristico no sentido mais alto da palavra, isto i, um ensino capaz de dar aos adolescentes a compreensco da continuidade histsrica da Patria, a compreensco dos problemas e das necessidades da missco e dos ideais da nagco, e bem assim dos perigos que a acompanhem, cerquem ou ameacem, um ensino capaz, alim disto, de criar, no espmrito das geragues novas a conscijncia da responsabilidade diante dos valores maiores da Patria, a sua independjncia, a sua ordem, o seu destino. Por outro lado, seria de todo impraticavel introduzir na educagco primaria e insinuar no espmrito das criangas o difmcil problema da significagco do homem, este problema crmtico, de que depende o rumo de uma cultura e de uma civilizagco, o rumo das organizagues polmticas, o rumo da ordem em todos os terrenos da vida social. Tal problema ss podera ser considerado quando a adolescjncia estiver adiantada, e i por isto que a formagco da conscijncia humanmstica, isto i, a formagco da compreensco do valor e do destino do homem, i finalidade de natureza especmfica do ensino secundario. Um ensino secundario que se limitasse ao simples desenvolvimento dos atributos naturais do ser humano e nco tivesse a forga de ir alim dos estudos de mera informagco literaria, cientmfica ou filossfica, que fosse incapaz de dar aos adolescentes uma concepgco do que i o homem, uma concepgco do ideal da vida humana, que nco pudesse formar, em cada um deles, a conscijncia da significagco histsrica da Patria e da importbncia de seu destino no mundo, assim como o sentimento da responsabilidade nacional, falharia ` sua finalidade prspria, seria ensino secundario apenas na aparjncia e na terminologia, porque de seus currmculos nco proviriam as individualidades responsaveis e dirigentes as individualidades esclarecidas de sua missco social e patristica, e capazes de cumpri-la. *Divisco em dois ciclos* -- a reforma conserva a divisco do ensino secundario em dois ciclos, dando, porim, uma configuragco diferente a essa estrutura. O primeiro ciclo compreendera um ss curso: o curso ginasial, de quatro anos o segundo tera dois cursos paralelos, cada qual com a duragco de trjs anos, sendo qualquer deles acessmvel aos candidatos que tenham conclumdo o curso ginasial. Da limitagco do curso ginasial a quatro anos resultara, por um lado, vantagem de tornar a educagco secundaria, na sua primeira fase, ao alcance de um nzmero maior de brasileiros. Outra vantagem dessa limitagco i a possibilidade de uma conveniente articulagco do primeiro ciclo do ensino secundario com o segundo ciclo de todos os ramos especiais do ensino de segundo grau, isto i, como o ensino ticnico industrial, agrmcola, comercial e administrativo e com o ensino normal, servindo de base a essas categorias de ensino, o que concorrera para maior utilizagco e democratizagco do ensino secundario, que assim nco tera, como finalidade preparatsria, apenas conduzir ao ensino superior. Quanto aos dois cursos do segundo ciclo, o classico e o cientmfico, i de notar que nco constituem dois rumos diferentes da vida escolar, nco sco cursos especializados, cada qual com uma finalidade adequada a determinado setor dos estudos superiores. A diferenga que ha entre eles i que, no primeiro, a formagco intelectual dos alunos i marcada por um acentuado estudo das letras antigas, ao passo que, no segundo, a maior acentuagco cultural i proveniente do estudo das cijncias. Entretanto, a conclusco tanto de um como de outro dara direito ao ingresso em qualquer modalidade de curso do ensino superior. Esta solugco respeita a vocagco de cada aluno, que podera, conclumdos os estudos do primeiro ciclo, dar aos seus estudos posteriores, no segundo ciclo, conforme as preferjncias de sua inteligjncia, ou uma diregco de sentido classico ou um maior vigor cientmfico, e transfere, para a final conclusco do ensino secundario, para uma ipoca em que cada aluno deve ter atingido a uma suficiente madureza de espmrito, a definitiva escolha do seu rumo universi- tario. *O estudo da lmngua, da histsria e da geografia patrias* -- O conhecimento seguro da prspria lmngua constitui para uma nagco, o primeiro elemento de organizagco e de conservagco de sua cultura. Mais do que isto, o cultivo da lmngua nacional interessa ` prspria existjncia da nagco, como unidade espiritual e como entidade independente e auttnoma. Na conformidade deste pressuposto, o ensino da lmngua portuguesa i ampliado, tornando-se obrigatsrio em todas as sete siries, com a mesma intensificagco para todos os alunos. Com o mesmo objetivo de orientar o ensino secundario no sentido de uma compreensco maior dos valores e das realidades nacionais, a reforma separa a histsria do Brasil e a geografia do Brasil, respectivamente, da histsria geral e da geografia geral, para constitumrem disciplinas auttnomas. *O grego e o latim* -- O grego i inclumdo nos estudos do segundo ciclo, entre as disciplinas do curso classico. O latim sera estudado tanto no primeiro como no segundo ciclo. Figura entre as disciplinas de cada uma das siries do curso ginasial, e continuara a ser estudado, no curso classico, por mais trjs anos. Dar-se-a assim de um modo geral a todos os alunos da escola secundaria, em quatro anos de estudo, um conhecimeno basico da lmngua latina, suficiente por certo com o elemento de cultura geral, e se assegurara `queles que tiverem revelado pendor intelectual para as humanidades antigas, isto i, aos alunos do curso classico, um estudo mais intensivo dessa lmngua. Deixemos de parte o argumento, alias valioso, de que o grego e o latim sco necessarios ` leitura dos autores antigos, portadores de grandes mensagens, e ainda, quanto ao latim, ` leitura dos livros de cijncia e filosofia escritos nessa lmngua quando ela era a lmngua comum da cultura ocidental. Boas tradugues nco faltam. E i afinal mero preconceito o considerar a tradugco como um expediente subalterno. O ponto essencial do problema i que, por mais que esteja o nosso pams voltado para a modernidade e para o futuro, por mais vigorosa que seja a sua participagco na vida nova do mundo, nco lhe i possmvel desconhecer a irremovmvel vinculagco de sua cultura com as origens heljnicas e latinas. Nco seria conveniente romper com estas fontes. Com este rompimento perdermamos o contato e a influjncia de uma velha cultura que consubstanciou e elevou os valores espirituais maiores da antiguidade e representa uma experijncia sem par do destino humano. Perdermamos por outro lado os mais nobres vmnculos do parentesco da cultura nacional com as mais ilustres culturas de nosso tempo, todas elas ligadas ao grande tronco mediterrbneo. I preciso reconhecer, pois, que os estudos antigos nco se revestem apenas de um valor de erudigco. Eles constituem uma base e um tmtulo das culturas do ocidente; eles serco sempre, conforme o expressivo dizer de um escritor moderno, "um elemento inalienavel da dignidade ocidental". Quanto ao latim especialmente, necessario i ainda estuda-lo com particular cuidado em nossas escolas secundarias, por ser ele o fundamento e a estrutura da lmngua nacional, sem o latim, o conhecimento da lmngua nacional, por mais ilustragco que tenha, sera sempre um saber marcado de inseguranga e lacunas, e como que envolto por uma certa escuridade. III -- Cumpre-me ainda acrescentar as seguintes observagues sobre o projeto de lei orgbnica do ensino secundario: I dado especial relevo ao problema da educagco moral e cmvica, isto i, da formagco do carater e do patriotismo. Adotar-se-a a este respeito a melhor ligco pedagsgica, isto i, a orientagco de que o meio eficiente de atingir a esta modalidade de educagco nco sera a inclusco de um programa instrutivo dos deveres humanos, nco sera ministrar uma especial preparagco intelectual dessa matiria, mas desenvolver nos alunos uma justa compreensco da vida e da Patria e fazer-lhes, desde cedo e em todas as atividades e circunstbncias da vida escolar, efetivamente viver com dignidade e fervor patristico. Foi inclumda no projeto a declaragco constitucional da liberdade do ensino de religico. I estabelecida a diferenciagco do ensino secundario feminino. Devera este ensino tomar em consideragco a natureza da personalidade feminina e a missco da mulher dentro do lar. Decorrerco naturalmente dessa diferenciagco uma diversa orientagco dos programas e a separagco das classes, sempre que na mesma escola secundaria houver alunos dos dois sexos. I claro, porim, que sob o ponto de vista do valor da preparagco intelectual, o ensino secundario feminino permanecera identificado com o ensino secundario masculino. Sco institumdos os exames de licenga, destinados ` habilitagco para efeito de conclusco de qualquer curso. Os exames de licenga ginasial, ao fim do primeiro ciclo, serco prestados nos prsprios estabelecimentos de ensino, pelos seus alunos. Os exames de licenga classica e os de licenga cientmfica, terminais dos cursos do segundo ciclo, ss poderco ser prestados perante bancas oficiais. I determinada a adogco, em nosso ensino secundario, da orientagco educacional, pratica pedagsgica de grande aplicagco na vida escolar dos Estados Unidos. A orientagco educacional devera estar articulada com a administragco escolar e o corpo docente, para cujas organizagues o projeto estabelece os preceitos essenciais. O conjunto constituira, em cada escola secundaria, o organismo coordenado e ativo, capaz de assegurar a unidade e a harmonia da formagco da personalidade adolescente. O projeto estabelece o princmpio de que as pessoas particulares, individuais ou coletivas, que mantenham estabelecimento de ensino secundario, sco consideradas como no desempenho de fungco de carater pzblico, cabendo-lhes em matiria de educagco os deveres e responsabilidades inerentes ao servigo pzblico. Decorre deste princmpio a condenagco do interesse comercial que porventura pudesse influir em qualquer organizagco escolar. Sco estabelecidos preceitos destinados ` diminuigco do custo do ensino secundario e ao desenvolvimento da assistjncia aos escolares necessitados. A providjncia tem em mira proporcionar, o mais que for possmvel, a educagco secundaria aos adolescentes bem dotados. Enfim, inspira-se o projeto de um modo geral na fecunda verdade pedagsgica de que a educagco deve ser vida afim de que possa ser uma ztil preparagco para a vida. IV -- Presidiu ` elaboragco da presente reforma a preocupagco de aproveitar a boa experijncia, nco ss a experijncia da zltima legislagco do ensino secundario, mas tambim a proveniente das legislagues anteriores. Sobre o projeto inicialmente organizado, foi ouvida a opinico de representantes de todas as correntes pedagsgicas. Procurei conciliar as tendjncias opostas ou divergentes, notadamente no terreno da velha controvirsia entre os defensores e os negadores da atualidade do estudo das humanidades antigas. Parece ter a reforma conseguido as mais razoaveis solugues. Se ela merecer a aprovagco de V. Ex., i de crer que o nosso ensino secundario dara um passo a mais no sentido da renovagco e da elevagco. Possivelmente, dada a extrema dificuldade do problema do ensino secundario, defeitos havera no sistema proposto. A experijncia vira demonstrar o que de futuro sera preciso corrigir ou retificar, pois, como disse Bernardo Pereira de Vasconcelos, quando, ha mais de um siculo, declarava abertas as portas do Coligio Pedro II, "um dos meios, e talvez o mais proveitoso, de fazer sentir os inconvenientes de um regulamento i a sua fiel e pontual execugco".

_`[{representagco em alto relevo do busto de Gustavo Capanema; logo abaixo a seguinte legenda: "Gustavo Capanema -- Ministro da Educagco e Sazde, desde 1934"_`] uouououououououououououo Aos brasileiros da quinta coluna Muitas pessoas de boa fi, como eu, iludiram-se redondamente quando julgaram que o nazismo era realmente um movimento nacional alemco, baseado em sentimentos elevados e puros, tendo por principais finalidades reerguer a Alemanha e afastar do mundo apreensivo o perigo comunista. Quem poderia supor que uma nagco que conta com homens ilustres em todos os ramos da atividade humana, como a Alemanha, tinha se deixado dominar por um simples aventureiro austrmaco sem escrzpulos, palavroso mas sem preparo, mau e perverso, que tinha em vista tornar-se o ditador de um mundo escravizado? Como foi isso possmvel? Como pode tornar-se ditador da Alemanha um vagabundo austrmaco ("O Nazismo sem Mascara", de Joco Bauer Reis, obra fartamente documentada; "Gestapo", de Pierre Dehillotte, 2* ed., trad. de Roberto Miranda), cujas doutrinas sco, todas elas, consequjncias de ressentimentos pessoais: oriundo de raga ruim, fato confirmado em jumzo pelo maior genealogista alemco, persegue as ragas mistas; procedente duma tribo maltratada na Austria; odeia os ricos porque sofrera penzria na juventude, tendo perambulado miseravelmente pelos asilos vienenses mantidos com o dinheiro dos judeus, odeia os semitas; nada tendo aprendido, odeia o intelecto ("Os Alemces", de Emil Ludwig), que nco conhece nenhum sentimento de magnanimidade ("Hitler M'a Dit", de Hermann Rauschning), de mentalidade pequena, limitada, vulgar, estreita e desconfiada ("O Drama da Europa", de John Gunther, 2* ed., trad. de Gilberto Miranda), que nco tem nenhuma ideia, nco tem um verdadeiro ideal ("Hitler Und Ich", de Otto Strasser) e que alim de tudo isso nco passa de um poltrco ("O Drama da Europa); "O Nazismo sem Mascara); "Hitler Und Ich"; "Hitler M'a Dit); "Gestapo"). Como tornou-se alemco? "mais tarde outro nazi, o ministro da Justiga de Brunswick, Dietrich Klagges, nomeou Hitler conselheiro da Legagco de Brunswick em Berlim. Muito poucos alemces tinham notmcia da existjncia de tal posto. Hitler prestou juramento de lealdade ` Constituigco -- que abertamente se propunha destruir -- e o filho de uma povoagco austrmaca tornou-se, por fim, alemco" ("O Drama da Europa"). Como, nco sendo valente, ostenta a cruz de ferro? "mais de um mistirio existe em seu passado: sabe-se que ele fez a guerra no exircito alemco; nco se sabe e nunca se sabera por que e quando o jovem anspegada foi condecorado com a cruz de ferro" ("Hitler Und Ich") o que consta a tal respeito "o drama da europa" confirma esse mistirio e a "Mein Kampf" guarda absoluto siljncio sobre esse assunto... Vejamos agora quem sco os principais asseclas de Hitler. Goring: "i brusco, impulsivo, cruel. Contam testemunhas do *putsch* de 1923 que ele tinha dado ordem de golpear nos crbnios dos adversarios com as coronhas dos fuzis. Sua ordem dada ` polmcia em fevereiro de 1933, de matar $"os inimigos$" sem hesitar um minuto, assinalou na realidade o comego do terror nazista. Sua crueldade i desumana, espasmsdica, sanguinaria" ("O Drama da Europa"); declarou numa reunico: "nco tenho conscijncia alguma. Minha conscijncia chama-se Adolf Hitler" ("Hitler M'a Dit"). Gobbels: "caracteriza-se por uma absoluta falta de escrzpulo. Num momento dado tinha contra si 125 processos por calznia." ("O Drama da Europa"). Ribbentrop: "cortesco vaidoso e ignorante, pronto para todas as mentiras, disposto a combinar pactos com todo mundo e resolvido a violar sistematicamente todos os juramentos" ("Gestapo"); "vivia na Austria um inofensivo burgujs, Herr von Remitz, que possuma uma graciosa residjncia ` beira do lago Fuschl, perto de Salzburg. Infelizmente para ele, a residjncia era excessivamente graciosa. Ribbentrop viu-a e cobigou-a. O pobre homem foi metido num campo de concentragco em Dachau, onde faleceu apss muitos meses de tortura lenta e sistematica. Ribbentrop, que soube e gostou do caso, anexou a morada da sua vmtima. Ora, aqui temos uma coisa que nco seria tolerada em nenhum pams de gente honrada; mas na Alemanha desculpa-se porque i praticada em larga escala por *todos* os chefes nazis, que nco ss nco tjm religico, mas tambim nco tjm moral." ("Rol Sinistro", de Sir Robert Vansittart, chefe do Conselho Diplomatico do Governo Ingljs"). E essa quadrilha, antes de tentar a escravizagco do mundo, tornou-se extraordinariamente rica por meio de processos verdadeiramente incrmveis: "mas, estando a imprensa suprimida ou arrolhada, o crime polmtico se tornou um mitodo de governo, o roubo uma instituigco do Estado. Industrialistas e comerciantes foram despojados pelo partido governamental em proveito dos senhores do momento. Nada de processo ou requisigco, nada que tivesse a mmnima aparjncia legal. Nco. Bastava uma ordem da Gestapo para o que pertencia ontem a Pedro se tornasse amanhc propriedade de Paulo." ("Gestapo"). "Na verdade os chefes nazis, nco ss um mas todos, comegaram sem um centavo. Goring, por exemplo, costumava traficar em cocamna no Bristol Club de Berlim. Todos eles se enriqueceram por meio do saque polmtico; muitos amontoaram fortunas enormes em dinheiro, compraram valiosas obras de arte, quadros e grandes palacios." ("Rol Sinistro"). "Certamente nco i novidade para o mundo uma revolugco dizer a seus filhos: enriquecei-vos. Mas os nazis enchem os bolsos com uma rapidez tco escandalosa que nco se pode mais seguir a cadjncia da pilhagem. Uma, duas, quatro "vilas", casas de campo, palacios, colares de pirolas, dzzias de automsveis, *champagne*, dommnios agrarios, smtios, usinas. Donde vem o dinheiro? Pois esses indivmduos nco eram, todos eles, pobres como ratos de igreja?" ("Hitler M'a Dit"). E Hitler? "Durante esse tempo o F|hrer renunciou seus vencimentos de chanceler. Dava ele, o bom exemplo. I verdade que de nada necessitava. Em uma noite tornou-se o editor mais rico do mundo, cheio de milhues, o autor mais lido, o mais obrigatoriamente lido". ("Hitler M'a dit"). Antes, porim, "Hitler comegou a receber, com maior ou menor regularidade, boas subvengues dos grandes industriais do Reno e da Ruhr, pelo que desistiu da realizagco do n. 13 do seu programa: a nacionalizagco dos trusts..." ("O Nazismo Sem Mascara") dona Herminia, esposa de Guilherme II, entregou-lhe grandes somas. Alim disso cada nazista deve dar mensalmente um marco, dando mais pertencera ` *corrente de sacrifmcio* e tera um camarote nas conferjncias de Hitler. Hitler foi acusado de promover perseguigues injustas por corrupgco contra os antigos dirigentes e seus czmplices, ao mesmo tempo que seus asseclas enchiam os bolsos. Depois de retrucar "aos imbecis que se permitiam tal linguagem" com as mais terrmveis ameagas, disse: "alim de tudo eles lutaram para sair nco somente de sua misiria nacional, mas tambim de sua misiria pessoal. Seria grotesco nco dizj-lo abertamente. I meu dever de bom camarada velar para que cada um tenha presentemente um rendimento conveniente. Meus lutadores dos antigos dias bem o mereceram. E se contribummos para a grandeza da Alemanha, temos tambim o direito de pensar um pouco em nss. Nco temos que nos preocupar com as concepgues burguesas de honra e de reputagco". ("Hitler M'a Dit"). Como chegou Hitler ao poder, que tanto ambicionava e como se tornou ditador? O Reichstag havia votado um cridito de muitos milhues de marcos para auxmlio aos camponeses da Przssia Oriental e 70 por cento desses fundos haviam sido ilegalmente desviados em favor dos *Junkers* ati 1932. von Papen fez chegar `s mcos de Hitler os documentos provando que o governo entregara a maior parte dos "Auxmlios de Leste" a esses indolentes cobertos de dmvidas de jogo, quando tal auxmlio era exclusivamente destinado aos pobres trabalhadores e ao mesmo tempo, para vencer a repugnbncia de Hindenburg pelo "anspegada de Braunau", comunicou ao filho do marechal que Hitler os atacaria a todos no Reichstag e que o znico meio de evitar esse terrmvel escbndalo, de consequjncias imprevismveis, era a nomeagco de Hitler para Chanceler, visto que na comissco competente do Reichstag iria comegar a discussco sobre os "auxmlios de Leste". Ao meio-dia de 30 de janeiro de 1933 Hindenburg nomeia Hitler Chanceler. Na tarde desse mesmo dia os debates da comissco sco impedidos pela forga e desaparecem os documentos. Isso, porim, nco bastava a Hitler e seus asseclas: queriam poderes ditatoriais. Para conseguirem esse *desideratum*, organizaram e executaram um plano de incjndio do Reichstag, de modo a fazerem esse crime recair sobre os comunistas. ("O Nazismo sem Mascara"; "O Drama da Europa"; "Hitler M'a Dit"). Levaram esse fato ao conhecimento do velho marechal alegando ao mesmo tempo a descoberta de documentos -- que nunca apareceram, nem mesmo falsificados -- relativos a outros crimes a serem executados, conseguindo, assim, que Hindenburg assinasse a cilebre ordem de emergjncia, intitulada -- Para protegco do Povo e do Estado -- suspendendo as garantias constitucionais. Apesar disso, nas eleigues poucos dias depois realizadas, o nazismo nco conseguiu maioria, pois dos 647 deputados a serem eleitos ss conseguiu 288, mas Hitler, passando por cima de todas as leis, declarou nulos os mandatos dos 81 deputados comunistas e, como tal nco bastasse a seus fins, pouco depois anulou tambim os mandatos dos 120 deputados socialistas e com este novo golpe de Estado reduziu o nzmero de deputados a 446, bastando-lhe que 10 deputados burgueses "adoecessem" ou fossem presos para que ele dispuzesse dos almejados dois tergos. Ao mesmo tempo 160 jornais sco suprimidos e centenas de milhues de marcos sco roubados das caixas de sociedades de operarios e empregados. Diante desse terror, os partidos burgueses dissolveram-se e estava feito o Estado totalitario. ("O Nazismo sem Mascara"). Os nazistas impuzeram pela violjncia seus candidatos a todos os lugares, nco hesitando em assassinar qualquer recalcitrante, como tudo se pode verificar pela exposigco documentada constante das pags. 107 a 120 de "O Nazismo sem Mascara". E, como nco bastasse essa "limpeza" nos seus adversarios, a 30 de junho de 1934 milhares de alemces foram assassinados traigoeiramente, inclusive muitos amigos de Hitler, como Gregor Strasser e o capitco Roehm, sem o concurso dos quais Hitler nunca teria chegado ao poder. Desapareceram, assim, possmveis rivais, testemunhas perigosas e ati credores. "Um viu de verdadeira tragidia paira com efeito sobre a noite sinistra de 30 de junho, na qual mais de mil membros do partido foram passados pelas armas, sem julgamento, e na qual outras vmtimas completamente inocentes foram simplesmente assassinadas." ("Hitler M'a Dit"). Os generais von Schleicher e von Bredow, da Reichswehr e milhares de outros alemces que nco pertenciam ao exircito pardo, foram tambim assassinados nesse dia. O general von Schleicher sustentava sua velha mce e uma irmc vizva, que residiam em sua companhia. Estava calmamente sentado, de costas para a porta, tendo ao lado a esposa que bordava, quando entraram em seu gabinete seis nazistas de pistolas em punho, empurrando a criada que abrira a porta e perguntaram: o senhor i o general von Schleicher? Mal levantou-se surpreso respondendo -- sim! -- foi atingido por cinco tiros mortais, tendo o sexto tiro abatido sua esposa que saltara estarrecida e que agonizou meia hora!!! Ela era a znica filha sobrevivente do general von Hennigs, cujos dois filhos haviam morrido pela Alemanha. "A 29 de junho, vispera da matanga, Blomberg manifestou num discurso muito significativo sua simpatia pelo regime nazista." ("O Drama da Europa"). Em 1: de julho declarou em telegrama: "com a decisco de soldado e com a coragem modelar, o F|hrer em pessoa atacou e abateu os *traidores e amotinados*. O exircito como portador d'armas de todo o povo, afastado de lutas de polmtica interna, agradecera por dedicagco e fidelidade. As boas relagues com a *nova* Sa, reclamadas pelo F|hrer, o exircito as cultivara satisfeito, na conscijncia dos ideais comuns. O estado de alarme em toda parte esta suspenso." ("O Nazismo sem Mascara"). Comparando-se o que foi dito a 29 de junho com o telegrama de 1: de julho, salta aos olhos que Blomberg estava ao par da carnificina projetada para 30 e que pusera a Reichswehr em estado de alarme para apoiar Hitler caso fosse necessario. Quando teve lugar a matanga de 30 de junho, o marechal Hindenburg, muito velho e adoentado, estava em Neudeck, propriedade que lhe fora presenteada por um grupo de *Junkers*. Era um verdadeiro prisioneiro de Hitler, visto que ninguim podia avistar-se com o marechal sem permissco de Hitler. Nem mesmmo ao velho marechal von Mackensen, grandemente indignado com o assassinato de seus camaradas e que era mntimo de Hindenburg, foi permitido ver o marechal! Assim, pois, ficou logo patente que o telegrama de Hindenburg aprovando a matanga e publicado pelos nazistas era falso, como semanas depois ficou provado ("O Nazismo sem Mascara"). Hindenburg faleceu a 2 de agosto, um mjs e dois dias apss o assassinato de seus camaradas e certamente na ignorbncia de todos os horrores ocorridos na noite tragica de 30 de junho. Pela constituigco alemc, Hindenburg deveria ser substitumdo no cargo de presidente do *Reich*, ati nova eleigco, pelo presidente do Tribunal do *Reich*, mas a 2 de agosto a imprensa ao mesmo tempo em que publicava um telegrama de Neudeck noticiando a morte de Hindenburg, publicava tambim o seguinte: "Berlim, 1: de agosto. Dnb -- O Governo do *Reich* decretou esta lei que, com isso, i proclamada: ss 1: -- O cargo de Presidente do *Reich* i unido ao de Chanceler do *Reich*, pelo que as fungues ati agora em vigor, do Presidente do *Reich*, passam para o F|hrer e Chanceler Adolf Hitler. Ele nomeia seu substituto; ss 2: -- Essa lei entra em vigor no momento da morte do Presidente do *Reich* von Hindenburg."!!! Comentando esse golpe de Estado, "O Nazismo sem Mascara", diz: "Comparem-se as datas; nco ha dzvida: o herdeiro, em vida do testador, dispue da heranga, contra a Constituigco de Weimar, nco abolida. Ja i ter coragem, dira talvez o leitor. Nco i tanto assim" e reproduz esta outra publicagco: "No dia 1: de agosto, o general von Blomberg e Hitler conclumram um acordo, comprometendo-se Hitler a nco exercer praticamente os direitos de supremo comandante, que lhe caberiam como sucessor de Hindenburg, e deixar todas as decisues militares ` diregco da Reichswehr feito isso, Blomberg concordou com a lei da sucessco." Assim, pois, como muito bem diz J. Bauer Reis. "Quando pelo meio-dia de 2 de agosto, o povo alemco ficou sabendo a morte de Hindenburg e a *subida ao trono* de Hitler, leu tambim que todo o exircito, na mesma manhc, ja prestara o juramento de fidelidade ao "F|hrer do *Reich* e do povo alemco, Hitler". Fica, assim, evidenciado que Hitler e seu bando tomaram conta da Alemanha contra a vontade da maioria do povo alemco, o que ss conseguiram empregando a violjncia, assassinando a torto e a direito e rasgando todas as leis, inclusive a constituigco e tudo isso com o apoio da Reichswehr encabegada pelo general nazista Blomberg, entco ministro da Guerra. E como i esse bando de *gangsters* que esta mandando torpedear nossos navios mercantes, espero que este artigo mostre aos brasileiros que infelizmente ainda fazem parte da quinta coluna, a "digna" companhia em que se acham... Estais ainda iludidos, ignorais os verdadeiros objetivos do nazismo ou pertenceis conscientemente ` mais baixa e repugnante classe dos traido-

res, aquela que trai a prspria Patria? General Amaro de Azambuja Villanova uouououououououououououo A execugco do Tiradentes Joco Ribeiro No dia 19 de abril entrava na cadeia pzblica do Rio de Janeiro, rodeado de outros ministros da justiga, o desembargador Francisco Alves da Rocha para ler a sentenga aos rius que desde a noite da vispera haviam sido transferidos de varios degredos da cidade para a sala chamada do *Oratsrio*. Eram onze os criminosos que ali esperavam, algemados e cercados de forga embalada, a zltima palavra de seus destinos. A leitura da sentenga erudita e cheia de citagues durou duas longas horas; ao cabo delas eram todos os infames condenados ` forca e a alguns cabia ainda mais o horror de, insepultos e esquartejados, servirem os seus membros, espetados em postes, de padrco da execravel perfmdia. Quando o desembargador se retirou, diz uma testemunha do acontecimento, viu-se representar a cena mais tragica que se podia imaginar. Mutuamente pediram perdco e o deram; porim cada um fazia imputar a sua infelicidade ao excessivo depoimento do outro. Como tinham estado trjs anos incomunicaveis, era neles mais violento o desejo de falar que a paixco que a tal sentenga cavaria nos cansados coragues. Nesta liberdade de falarem e de se acusarem mutuamente estiveram quatro horas; mas quando se lhes puseram os grilhues e manietados viram-se obrigados a deitar-se, por menos inctmoda posigco, abateram-se-lhes os espmritos e entraram entco a meditar sobre o abismo da sua sorte. Dentro em pouco, porim, um raio de esperanga iluminou-lhes a torva existjncia. O mesmo ministro que lera a rude sentenga, veio horas depois anunciar a clemjncia da rainha, D. Maria I, que aos conjurados, exceto *Tiradentes*, poupava o suplmcio da morte. Entco foram grandes os extremos da alegria e com aquela inesperada piedade sentiram-se rejuvenescer. *Tiradentes* tambim, conforme o seu coragco bem formado e leal, participou desses transportes, e dizia que ss ele em verdade devia ser a vmtima da lei e que morria jubiloso por nco levar apss si tantos infelizes que se desencaminhara. *Tiradentes* era um espmrito grandemente forte, e na religico achou mais largo e substancioso conforto do que os outros companheiros de espmrito leviano ou inconsiderado. Na manhc de 21 de abril entrou na sua cela o algoz para vestir-lhe a alva, e ao despir-se dizia o Martir que o seu "Redentor morrera por ele tambim nu". A cidade estava aparelhada como para uma grande festa em honra ` divindade do governo supremo. Aos sons marciais das fanfarras samram de todos os quartiis os regimentos da guarnigco, luzidios, com os uniformes maiores: seis regimentos e duas companhias de cavalaria que em tropel corriam a cidade, guardada agora momentaneamente pelos auxiliares. No campo da Lampadosa erguia-se o Lzgubre Patmbulo, alto, sobre 20 degraus, destinado ao memoravel exemplo. Na frente da cadeia pzblica organizou-se a procissco em ato declarado fznebre, com a Irmandade da Misericsrdia e a sua colegiada, e o esquadrco de cavaleiros da guarda do Vice-Rei. Saiu o riu que foi posto entre os religiosos que iam para conforta-lo e o clero e as irmandades, guardados pela cavalaria. *Tiradentes* tinha "as faces abrasadas", caminhava apressado e intripido e monologava com o Crucifixo que trazia ` mco e ` altura dos olhos. Nunca se vira tanta constbncia e tamanha consolagco! Ao pristito juntou-se a turba dos curiosos, e, avolumando a multidco, era mistir que de vez em quando dois cavaleiros a destrogassem. Pelas 11 horas do dia, que fora de sol descoberto e ardente, entrou na larga praga, por um dos bngulos que faziam os regimentos postados em tribngulo, o riu com todo o acompanhamento. Subiu "ligeiramente" os degraus, sem desviar os olhos do santo Crucifixo que trazia, e serenamente pediu ao carrasco que nco demorasse, e abreviasse o suplmcio. O guardico do convento de Santo Anttnio, imprudentemente, por mal entendida caridade ou por nco saber conter talvez o seu zelo demasiado, tomou a palavra, ademoestando a curiosidade do povo, sem todavia esquecer o elogio da clemjncia real. Depois do *credo*, a um frjmito de angzstia da multidco, viu-se cair suspenso das traves o cadaver do martir. Foi profunda a impressco no povo, que, apertado e numerosmssimo em todo o campo, abalara para ver o abominavel espetaculo. As janelas apinhavam-se de gente e nas ruas e pragas era impossmvel o movimento. As pessoas mais delicadas, contudo, haviam desde a vispera abandonado a cidade para nco testemunharem a execugco. Apss o suplmcio, um dos religiosos falou, tomando o tema do Ecclesiastes: *In Cogitatione tua regi ne detrahas... Quia aves coeli portabuntabut vocem tuam*. Nco atraigoes a teu rei nem por pensamentos, as mesmas aves levar-te-iam o sentido deles. uouououououououououououo

Eu bombardeei a Alemanha... (condensado de "Life") Um dos *raids* mais sensacionais realizados durante o dia pela Raf (Royal Air Force), sobre a Alemanha, foi o de 12 de agosto de 1941, tendo por objetivo as grandes centrais elitricas de Knapsack, que fornecem energia para algumas das maiores cidades e indzstrias da Ruhr. O *raid* foi levado a efeito por 54 bombardeiros Blenheim. Quarenta e dois regressaram da expedigco. Obedecendo ` orientagco da Raf, o autor dessa narrativa, que "Life" publicou em primeira mco, conserva o anonimato. "Sabmamos que alguma cousa de importante estava para acontecer, pois suspendemos operagues por alguns dias, e os chefes andavam sempre a conferenciar. Calculamos que fosse um *raid* diurno sobre algum objetivo no interior da Alemanha. E foi, mas pior do que pensavamos. Reunimo-nos na terga-feira de manhc, para assentar os detalhes da operagco. Nossa tarefa, segundo explicou o capitco do grupo, era destruir as usinas elitricas de Knapsack, 150 milhas adentro do territsrio inimigo. Termamos de voar a baixa altitude. Nossas bombas eram de retardamento. Baixa altitude quer dizer 10 a 20 pis acima do solo, e uma bomba de retardamento da justamente tempo da gente escapar antes de se verificar a explosco. Dessa maneira, quando se voa em formagco cerrada, i possmvel nco ser apanhado em cheio pela explosco provocada pelo avico que nos precede. Fomos aconselhados a nco marcar a nossa rota nos mapas, pois, se um de nss fosse abatido na Holanda, o projeto chegaria ao conhecimento do inimigo antes de termos alcangado o nosso objetivo. Levantamos voo `s 9 e 15, em formagues de seis aparelhos dispostos trjs a trjs. Eu comandava o segundo grupo de 24 aviues. Era uma manhc de sol, clara, quase sem nuvens ou neblina. Ao passar a costa, reuniu-se a nss uma escolta de *whirlwinds*, que devia acompanhar-nos atravis da Holanda. Assim voamos, quase rogando a crista das vagas, e as piadas circulavam entre nss, pelo telefone: "Esta metendo sua fralda na agua!" gritava o meu observador, e um dos pilotos jurava ter apanhado um peixe com a hilice... Posso acrescentar que, ao regressarmos, um deles trazia de fato duas gaivotas nos motores. Atravessamos a costa holandesa ao norte de Antuirpia, e sobrevoamos o pams ziguezagueando entre arvores e postes telegraficos. Um dos nossos bateu num cabo de alta tensco, e caiu. Posto de parte o perigo de tais acidentes, o voo a baixa altitude nco i assim tco mau: fica-se a salvo da artilharia antiairea e, igualmente, dos aparelhos de caga, que nco podem cair-nos em cima sem o perigo de se irem espetar no solo. Ss lhes i possmvel assaltar-nos por tras ou pelos lados, e nessas condigues i facil fazer-lhes frente com os canhues da torre. Ha que ter em vista, i certo, as metralhadoras la de baixo, mas contra um avico langado a 250 milhas por hora, i bem difmcil ao metralhador uma boa pontaria. @ nossa passagem sobre os campos, via-se gente agitando chapius e instrumentos agrmcolas. Na praga de uma aldeia vimos quatro soldados de polmcia, que nos fizeram continjncia... Um grupo de criangas, trepadas numa casamata blindada, pts-se a saltar, festejando-nos. Nco estando bem certos do momento em que atravessamos a fronteira alemc, nco tardou que vmssemos gente correndo para os abrigos. O ciu estava toldado de Blenheims. Num dado instante, uma esquadrilha voou sobre a nossa, em diregco a uma usina elitrica de Aix-la-Chapelle. Passou apenas a alguns pis da nossa. Voavamos tco chegados uns aos outros, que alguns dos rapazes tinham dificuldade em manobrar na esteira deixada pelos da frente. O que me levou a dizer-lhes que se afastassem mais uns dos outros. Nco nos foi contudo difmcil achar a nossa rota. Passamos as agulhas da catedral de Coltnia, importante ponto de referjncia, pois sabmamos que as usinas elitricas se encontravam a oito milhas alim da cidade. Vimos em breve o nosso objetivo surgir a uma milha de distbncia. Era precisamente o que constava das nossas fotografias, com duas siries de chaminis a 150 jardas uma da outra. Nossa missco era passar entre elas, e descarregar as bombas na usina principal. Ati entco nco havmamos encontrado um znico aparelho inimigo. Era evidente que apanharamos os alemces de surpresa. Os nossos *Wellingtons* tinham voado toda a noite sobre aquela regico, e o inimigo nco contava com outro *raid* imediatamente a seguir. Estava eu manobrando para a operagco, quando o artilheiro da retarguarda me gritou: "Cagas a bombordo!" com efeito, dois Messerschmidts-109 vinham de lado sobre nss. Ordenei ao grupo que evitasse o combate, isto i, que subisse e descesse, fazendo voltas bruscas. Podia ver as balas arrancando lascas da asa do avico vizinho. A artilharia antiairea crepitava em torno. Vi os clarues dum abrigo de artilharia, donde nos atiravam de terra. Pensava no que fazer para neutraliza-lo, quando um dos nossos rapazes foi direto a ele, com todas as pegas dianteiras em agco, e o reduziu ao siljncio. Vi o chefe da primeira esquadrilha voar sobre o objetivo, tco baixo que chegou quase a rogar as chaminis. Compreendi que, se nco ganhassemos altitude, ficarmamos ao alcance da explosco. Dei ordem a meu grupo que subisse a 800 pis. Ao sobrevoar o objetivo, vi no interior dos edifmcios os clarues vermelhos produzidos pelas bombas dos aviues que nos precediam. Langamos as nossas, mesmo onde quermamos. Romperam logo nuvens de fumaga negra, e o incjndio declarou-se. Estrugiam agora por todos os lados os tiros da artilharia antiairea. Quando os estilhagos de granada atingiam o avico, este era sacudido. O artilheiro da retaguarda recebeu na cabega o choque dum estilhago de *shrapnel*, mas felizmente trazia o capacete de ago, que ficou marcado para lembranga. Quando tentei ptr-me fora do alcance da artilharia, vi o nzmero 2 da minha formagco cair em chamas. Faltava, por igual, o nzmero 3. Meu observador, que procurava tirar algumas fotografias, avisou que mais dois Messerschmidts vinham sobre nss. Estavamos por cima duma enorme escavagco de areia ou pedreira, e dirigi para ela tudo o que restava do meu grupo. Devemos ter baixado a 30 pis abaixo do nmvel do solo -- provavelmente o nmvel mais baixo a que um avico jamais desceu. Isso enganou os Hunos. Quando ganhamos altitude, ja ficavam longe. Tentei juntar o grupo o mais possmvel para concentrar nosso fogo, e enfim reuni seis aviues, precisamente quando outro Messerschmidt nos atacou por detras. O artilheiro nco podia atirar-lhe sem atingir o nosso leme. Manobrei para conseguir um melhor bngulo, e ele abriu fogo. Outros aviues atiravam ao mesmo tempo. Vimos o alemco cair e espatifar-se no solo. A manobra deixara-nos a baixa altitude. O observador gritou-me de repente, e virei justamente a tempo de evitar a torre duma igreja. Enquanto manobrava, a asa esquerda tocou o topo duma arvore, e pensei que nos mamos espedagar na praga da aldeia. Mas o aparelho equilibrou-se em tempo! Ao nos aproximarmos da costa, os Messerschmidts nos deixaram. Reunimo-nos entco a uma grande formagco de Blenheims. Vimos por cima de nss um grande transporte aireo alemco. O piloto ignorava evidentemente a nossa presenga. Ganhamos entco altitude, e todos lhe atiramos. Quando o vimos pela zltima vez, cama sobre umas arvores. Aposto que o alemco nunca soube quem foi que o abateu. Atravessada a costa holandesa, vimo-nos envolvidos numa luta entre um grupo de Messerschmidts e a escolta de *Whirlwinds* que vinha ao nosso encontro. Nossos aviues de caga deviam estar dando bem que fazer aos alemces, porque ss um destes se destacou para nos atacar. Seus primeiros tiros deitaram abaixo um dos nossos; perseguido, porim, pelos nossos aparelhos mais prsximos, caiu no mar juntamente com a sua vmtima, a poucas jardas dela. Sobre o mar do Norte encontramos chuva grossa, que funcionava como uma cortina, permitindo-nos reunir os que vinham dispersos. Ao chegarmos ` Inglaterra, era grande a multidco que nos esperava. Provavelmente tinham-nos visto partir, adivinhando do que se tratava. Oferecemos-lhes entco um bom espetaculo, pois alguns dos nossos rapazes, tendo perdido os trens de aterrissagem, foram obrigados a descer "em cima da barriga". Nosso zltimo avico chegou `s 13 e 13. Os rapazes, algumas horas depois de termos dado por terminado o nosso relatsrio, ainda se sentiam momdos. Parecia a manhc seguinte a uma noitada... Enquanto voaramos sobre a Alemanha, nco tmnhamos tido tempo de refletir, pois estavamos demasiado ocupados. Agora acho que ja nco vale a pena pensar em tal. Realmente, nco se tratava duma faganha por am alim... uouououououououououououo Expressues pitorescas Durante trjs quartos de hora, ele ficou acordado toda a noite. (Punch) Nunca julgue um livro pela sua versco cinematografica. (J. W. Eagan) O mitodo masculino de arrumar malas i amarrotar as roupas e enterra-las. (Louise Redfield Peattie) Nada melhor do que cair na cama e deixar que o vento do sono apague as velas do pensamento. (Ernest Buckler) Gosto de vj-la rir. Grande parte dela se diverte. (Al Pearce) uxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxo Transcrigco: Diogo Silva M|ller Dunley Revisco: Joco Batista Alvarenga